Investigação derruba versão de pastor para mortes de filho e enteado. Além de alterar cena do crime e inventar história mirabolante, George Alves chegou a raspar a cabeça para ocultar que os cabelos não foram queimados. Religioso realizou culto evangélico um dia depois de estuprar os meninos
As justificativas de George Alves para as mortes do filho de 3 anos e do enteado de 6 não se sustentam quando confrontadas com as investigações e os laudos periciais.
Segundo os investigadores da Polícia Civil, o pastor evangélico estuprou os meninos antes de queimá-los vivos. O crime aconteceu em Linhares, na região Norte do Espírito Santo, no dia 21 de abril.
Antes de ser preso, George Alves afirmou, em depoimento à polícia e em entrevistas à imprensa, que estava dormindo em outro cômodo quando o fogo começou no quarto das crianças.
O pastor disse que percebeu o fogo através da babá eletrônica, que estava ligada, o que indica que o fogo teria começado de forma acidental: “Por volta de umas 2h da manhã, escutei a babá eletrônica, os gritos deles, vi o fogo muito grande através da babá eletrônica, corri desesperado, e a casa já não tinha energia”.
O secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, Nylton Rodrigues, afirmou que a versão do pastor é “fantasiosa e mentirosa”.
“O pastor não tinha nenhuma queimadura, ele raspou a cabeça para ocultar que os cabelos não foram queimados, a barba não havia vestígios de queimaduras. Então, essas características somadas à versão fantasiosa dele, mentirosa, logo na primeira semana, acendeu um sinal de alerta em todos os policiais”, disse o secretário.
Contradições
Confira as contradições dos depoimentos do pastor George Alves apontadas pela investigação:
— De acordo com o Corpo de Bombeiros, se o fogo tivesse sido acidental, a partir do ar-condicionado, por exemplo, não haveria tanta destruição. Isso porque a janela e a porta estavam fechadas, ou seja, não havia ventilação suficiente para alimentar o fogo de maneira tão rápida.
— Não foram encontrados vestígios de curto-circuito nem nos equipamentos (ar condicionado, reator, babá eletrônica e esterelizador), nem nas fiações. Há, ainda, a prova de que um combustível acelerador do incêndio foi detectado nas amostras recolhidas pelos bombeiros.
— O pastor falou que colocou as mãos na cama que estava pegando fogo para tentar salvar os filhos. Segundo os investigadores, a declaração é mentirosa: “Se o fogo passou do ar-condicionado para a cama e a cama estava queimando, como ele colocou as mãos na cama? E a mão dele não tinha nenhuma queimadura. Ele já tinha raspado o cabelo, possivelmente para esconder que o cabelo não havia sido queimado. Mas ele não tinha nenhuma queimadura no rosto e a barba estava farta”.
— Os componentes da babá eletrônica ficaram bem preservados, incompatível para ser o foco inicial.
— Depois do crime, o pastor saiu de casa e ficou andando de um lado para o outro, sem pedir socorro.
— Testemunhas ouviram o choro e manifestações de socorro quando as crianças estavam sendo agredidas, minutos antes do incêndio.
— As testemunhas que chegaram primeiro ao local contaram à polícia que arrombaram o portão com as próprias mãos.
— As vítimas foram encontradas no foco inicial do incêndio, quando, normalmente, a vítima morre tentando fugir do foco das chamas.
— Os laudos da perícia concluíram que as crianças foram sexualmente abusadas.
— A polícia encontrou sangue na casa onde aconteceu incêndio, próximo a uma escrivaninha e ao box do banheiro.
Culto evangélico
O comportamento do pastor, que deu um culto e foi á uma lanchonete no dia seguinte ao incêndio, também chamou atenção da polícia. A atuação dele durante as investigações também causaram estranheza.
Segundo o tenente coronel Ferrari, George seria “poupado” de participar das perícias iniciais, quando as autoridades refazem a cena do incêndio para tentar identificar como tudo aconteceu. Mesmo assim, ele apareceu no local.
“Eu precisava remontar como era o cômodo antes de queimar e eu fui buscar amigos e parentes que pudessem me dizer o que tinha no quarto. Para minha surpresa, ele apareceu lá dois dias depois, voluntariamente, para dizer o que tinha no cômodo. Isso me estranhou”, falou Ferrari.
O pastor vai responder por duplo homicídio triplamente qualificado e duplo estupro de vulnerável. A soma máxima das penas é de 126 anos.
Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook