Escola precisa esclarecer afastamento de professora após aula de religião africana
Ministério Público cobra explicações sobre afastamento de professora após aula. Estudantes simularam que estariam "passado mal" com aula da docente sobre 'patrimônio material, imaterial e natural de matriz africana'. Maria Firmino foi achincalhada por pais de alunos
A professora Maria Firmino foi afastada da escola onde lecionava após ter dado uma aula sobre “patrimônio material, imaterial e natural de matriz africana”, o que gerou confusão com pais de alunos, em 20 de abril deste ano.
A professora registrou um boletim de ocorrência sobre crime contra o sentimento religioso na Delegacia Regional de Juazeiro do Norte (CE) e o Ministério Público agora cobra da Secretaria de Educação do município explicações a respeito do afastamento.
O Ministério Público Federal deu um prazo de 10 dias para que a secretária de Educação do município, Maria Loureto Lima, e a diretora administrativa da unidade de ensino, Cláudia Roberta Bezerra Lima, prestem esclarecimentos sobre o caso. O ofício é assinado pela procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat.
O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), por meio da promotora de Justiça de Juazeiro do Norte Alessandra Magda Ribeiro Monteiro, registrou nesta quarta-feira (9) um Procedimento Administrativo, determinando que a secretária e a diretora administrativa prestem informações dentro de cinco dias.
Em nota, a Secretaria da Educação de Juazeiro do Norte informou que não foi procurada pela docente e que a profissional continua no exercício das suas funções. Já a professora e funcionários da escola afirmam que ela está fora da sala de aula desde abril.
Alunos teriam “passado mal”
Durante a aula, três alunos alegaram terem sentido mal-estar com o conteúdo apresentado. Conforme Maria, o episódio foi uma “trama” feita por outros servidores da escola por não aceitarem uma professora de religião africana na unidade.
“Com certeza absoluta foi tudo organizado dentro da escola porque não queriam uma professora que fosse ligada a uma religião de matriz africana lá dentro. É racismo religioso”, afirma.
“Fiquei assustada, chocada e de coração partido de ter visto aquilo, alunos fazerem parte do que parecia uma trama”, completa Maria.
Segundo a professora, os alunos deixaram a sala dizendo sentir mal-estar e forte dor de cabeça. Nenhum atendimento médico foi solicitado pela escola, segundo a professora. O caso gerou uma manifestação dos pais dos estudantes.
“Quando eu ia saindo na calçada comecei a ouvir gritos de ‘sai satanás’, ‘vou pegar essa feiticeira’, ‘ninguém pode mais do que Deus’. Só via gente descendo de carro, gente olhando, populares vindo”, conta a professora.
Maria afirma que não recebeu apoio da direção ou de funcionários durante o ocorrido.
História e Cultura Afro-Brasileira
O ensino da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” tornou-se obrigatório no currículo oficial da Rede de Ensino desde 2003, com a Lei Federal 10.639.
Segundo o Ministério Público Federal, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada pelo Conselho Nacional de Educação em dezembro de 2017, também traz entre suas competências gerais o estímulo à empatia, ao diálogo, à resolução de conflitos e à cooperação.