O modelo por si só é excludente, logo, naturalmente antissocial. A solidariedade fica solta e se baseia em ações aleatórias e isoladas, que jamais fragilizarão a estrutura da desigualdade. Ser individualista virou um modo de sobreviver, em meio à selva capitalista.
Attilio Giuseppe*, Pragmatismo Político
Ao longo do século XVIII, Adam Smith preparou as bases ideológicas para a consolidação e desenvolvimento do Capitalismo, como alternativa a suprir o grande controle estatal na economia proveniente do modelo anterior. Após a Revolução Industrial Inglesa, Independência estadunidense e Revolução Francesa, o mundo estava apto a receber mandos de outra classe social, que viria para consolidar a cultura do capital e lucro. Somado a tudo isto, num movimento cronologicamente anterior, as Revoluções protestantes questionaram as ideias católicas, bem como a condenação às práticas mercantis da burguesia.
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Ideologicamente, as bases do Capitalismo estavam prontas para que o sistema avançasse sobre o mundo e expandisse o poder político de uma classe que havia enriquecido bem antes. Doutrina econômica, cartilha de comportamentos e imposição em massa dos novos valores compunham o cenário mais fértil e propício, para o estabelecimento de uma nova ordem. Com o passar dos séculos, o avanço paradoxal do capital e da desigualdade atingiu níveis alarmantes e, além da habitual repressão, era necessário convencer as massas que as razões para os problemas não estavam no sistema, mas sim, na má prática cotidiana de cada um. Era o individualismo sendo aprofundado e proposto, não como um problema à coletividade, mas solução para que cada um resolvesse o seu.
Muito se fala sobre a influência do capital no cotidiano da sociedade, seja através dos financiamentos de campanha, dos desvios de verbas, lavagem ou sonegação de dinheiro. Omite-se descaradamente a influência ideológica, que gera incapacidade geral em relacionar sintomas às doenças. Bombardeados pela influência midiática, grande parte da população associa delitos ao moralismo e, consequentemente, ao caráter pessoal.
Descontextualizam-se as ações e simplificam-se as “soluções”. O político, assaltante, traficante, ou o sonegador, independente do crime, a razão do ato ilícito está sempre focada na índole. A personificação da criminalidade gera uma visão social míope, que não analisa as verdadeiras causas, muito menos a influência de todo um complexo sistema, somado a intensa propaganda de um “modo ideal de viver”, nas atitudes de cada um. O resultado é bastante previsível: perseguição a indivíduos, – somente aos não bem quistos às elites – mas não ao sistema.
Cultiva-se a ambição desmedida, o “sucesso pessoal”, o enriquecimento e ostentação, valores estes, completamente incompatíveis com ética, convivência harmoniosa e visão coletivista. Os fundamentos difundidos alimentam a “competitividade mútua”, portanto, o ser humano ao lado precisa ser inferiorizado e superado, pois não há vagas para todos. O modelo por si só é excludente, logo, naturalmente antissocial. A solidariedade fica solta e se baseia em ações aleatórias e isoladas, que jamais fragilizarão a estrutura da desigualdade. Com todo este cenário, o individualismo torna-se a regra, não por questões originadas no indivíduo, mas sim, por adaptação ao sistema social vigente.
Ser individualista virou um modo de sobreviver, em meio à selva capitalista.
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*Attilio Giuseppe é historiador, professor e colaborou para Pragmatismo Político.
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