Assassinato que mudou a história dos EUA completa 50 anos
Há 50 anos, assassinato de Robert Kennedy alterou radicalmente o curso da história americana. A morte, mais uma em uma família cercada tanto pelo sucesso quanto pela tragédia, ainda é cercada por teorias da conspiração
Há 50 anos, Robert Kennedy morreu após ter sido baleado na cozinha do Hotel Ambassador, em Los Angeles. A morte, mais uma em uma família cercada tanto pelo sucesso quanto pela tragédia, ainda é cercada por teorias da conspiração.
O imigrante palestino Sirhan Sirhan, da Jordânia, foi condenado à prisão perpétua pelo assassinato do então pré-candidato presidencial do Partido Democrata para a eleição de 1968. Nunca ninguém conseguiu provar sua inocência.
Alguns garantem que Sirhan poderia ter agido sob os efeitos de hipnotismo e até mesmo que poderia ter havido outro autor do crime, mas essas teorias nunca foram comprovadas ou mesmo levadas muito a sério.
O crime ocorreu em um local cheio de testemunhas, algumas das quais ficaram feridas por tiros, enquanto outras lutavam com Sirhan para jogá-lo no chão.
A arma que ele usou foi recuperada no mesmo local e pôde ser encontrada pelas autoridades, que também acharam em sua casa um caderno no qual ele havia expressado seu desejo de matar o ex-procurador-geral e irmão mais novo do presidente John. F. Kennedy, assassinado quase cinco anos antes.
Por essa razão, embora Sirhan sustente que sua confissão durante o julgamento tenha sido resultado da pressão de seu advogado de defesa e que ele não consegue se lembrar do momento do tiroteio, não há dúvidas sobre sua participação no que ocorreu.
Mas o que o levou a atacar aquele que era, então, um dos políticos mais populares nos Estados Unidos – e que as pesquisas indicavam que poderia ser o novo presidente do país?
Patriotismo
“R.F.K. (Robert Fitzgerald Kennedy) deve ser morto” é uma frase que aparece inúmeras vezes em um caderno encontrado por policiais na casa de Sirhan.
Logo após sua prisão no local do crime, ele disse: “Deixe-me explicar, eu posso explicar, eu fiz isso pelo meu país, eu amo meu país“.
Sirhan nasceu em 1944 em uma família cristã palestina de Jerusalém. Quatro anos depois, após a primeira guerra árabe-israelense, a cidade estava sob o controle da Jordânia, que oferecia aos moradores o direito à cidadania.
Então, na década de 1950, sua família se mudou para os Estados Unidos e se estabeleceu em Pasadena, na Califórnia, onde Sirhan cursou o ensino médio e a faculdade.
Ele trabalhou em vários locais, incluindo o hipódromo de Santa Anita, onde sonhava em ser jóquei.
No fim dos anos 1960, Sirhan tornou-se cada vez mais crítico a Israel, especialmente após a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, durante a qual o país derrotou os exércitos de Egito, Síria e Jordânia, e passou a ocupar a península do Sinai, as Colinas de Golã, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
E o que isso tem a ver com Robert Kennedy?
Em 1968, durante as primárias do Partido Democrata para a eleição presidencial, Kennedy defendeu apoiar militarmente Israel para ajudar o país a se proteger de seus vizinhos árabes. Isso enfureceu Sirhan.
A última esperança
Uma parcela relevante da sociedade americana enxergava no jovem Kennedy alguém capaz de manter viva a agenda reformista – o pré-candidato democrata foi morto dois meses após o assassinato do líder dos direitos civis Martin Luther King Jr.
O historiador Jeremi Suri diz que a perda dessas duas figuras importantes que defendiam políticas liberais significava que não havia restado ninguém capaz de fazer frente às críticas de líderes conservadores como Richard Nixon e Ronald Reagan.
“Sem dúvidas, os Estados Unidos seriam diferentes hoje se Kennedy estivesse vivo. O país não teria pendido tanto para a direita, e a política em nossa sociedade seria diferente agora“, afirma Suri.
“Ele foi o último político com raízes nas políticas de bem-estar social influenciadas por Franklin Roosevelt, que poderiam ser um ponto de conexão com os eleitores de áreas rurais.”
“No final dos anos 1960 e no início dos anos 1970, teve fim um grupo de políticas que tendiam a ampliar os direitos, serviços e a assistência do governo para os mais necessitados. E a reação contra tais medidas foi facilitada pela ausência de figuras como Robert Kennedy“, acrescenta o especialista.
Jules Witcover, jornalista que trabalhava na cobertura da campanha de Kennedy, acredita que ele era uma figura inspiradora que encarnava “um desejo quase desesperado para restaurar as coisas que estavam sendo exterminadas no país com a morte de seu irmão e a Guerra do Vietnã“.
“Antes de Robert Kennedy, ninguém na comunidade branca conseguiu estar em sintonia com a comunidade afro-americana“, diz.
Obstáculos
Outros especialistas destacam as grandes dificuldades políticas e sociais enfrentadas por Kennedy em sua carreira política.
“No final dos anos 1960, as forças que se acumulavam derrotariam qualquer candidato que os democratas apresentassem“, diz o historiador H.W. Brands.
“Os americanos estavam desiludidos e incomodados com a violência dos anos 1960 e pelo fracasso dos governos democratas de John Kennedy e de Lyndon Johnson nas tentativas de encerrar a Guerra do Vietnã com sucesso“, acrescentou.
Ben Wright, do Centro de História Americana Dolph Briscoe, destaca a dificuldade e a importância de considerar o que teria acontecido nos Estados Unidos se Robert Kennedy não tivesse morrido.
“Conjectura histórica é um tema difícil, repleto de incertezas, mas, no fim, a história tem a ver com causalidade, e valoramos as razões históricas levando em consideração um fato como o ‘o que teria acontecido se’“, disse ele.
“Eventos como os assassinatos de Martin Luther King e do senador Kennedy importam precisamente porque intuímos muitas possibilidades significativas para o curso da história americana se as coisas tivessem sido diferentes“.