Polícia acredita que bisavó e avó premeditaram e planejaram enterrar índia recém-nascida por ser filha de mãe solteira e pai de outra etnia. Criança sobreviveu embaixo da terra durante 6 horas até ser encontrada
As imagens de uma bebê indígena sendo resgatada com vida após ficar seis horas enterrada comoveram o Brasil na última semana (relembre aqui).
A versão inicialmente contada pela família da criança informava que a mãe, de 15 anos, imaginou que a bebê havia nascido sem vida. Ela deu à luz no banheiro de casa e, segundo a família, a recém-nascida bateu a cabeça no chão e não teve reação alguma.
A Polícia Civil descartou a versão da família e acredita que a bisavó e a avó da criança premeditaram o crime e planejaram enterrar a recém-nascida.
Segundo a investigação, elas não aceitavam a criança pelo fato dela ser filha de mãe solteira e o pai já ser casado com outra índia e pertencer a outra etnia. A polícia diz que pediu a prisão da bisavó e da avó após ouvir testemunhas que falaram sobre a conduta e a participação delas no crime.
Segundo os depoimentos colhidos, a avó da criança ministrou chás abortivos para interromper a gravidez da filha. A polícia prefere não fornecer mais detalhes sobre o depoimento para não comprometer a investigação.
A bisavó Kutsamin Kamayura, de 57 anos, está presa desde a semana passada e a avó, Tapoalu Kamayura, de 33 anos, acabou presa na sexta-feira (8).
Bebê internada
A recém-nascida continua internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal da Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá.
A menina passou por uma cirurgia para passagem de catéter para fazer diálise peritonial, uma vez que apresenta quadro de insuficiência renal.
O último boletim médico, divulgado no domingo (10), mostrou que ela continuava com sedação e respirava com a ajuda de aparelhos.
Os médicos informaram ainda que a recém-nascida teve um afundamento no crânio.
Sequelas
O médico pediatra Euze Marcio Souza Carvalho acredita que a menina deve ficar com alguma sequela neurológica após o longo período que ficou enterrada, podendo ter as funções motoras ou intelectuais prejudicadas. No entanto, ele afirma que em sua experiência já viu crianças se recuperarem de condições desfavoráveis sem sequelas.
Quando chegou a Cuiabá, na última quarta-feira (6), o diagnóstico da menina era anoxia cerebral (privação de oxigênio) e infecção generalizada.
“A privação de oxigênio no cérebro dela pode causar sequelas neurológicas. Eu, como pediatra, imagino que ela vai ter algum grau de sequela neurológica, com consequências motoras ou intelectuais”, observou Euze Marcio. No entanto, ele já viu crianças se recuperarem de condições desfavoráveis sem sequelas.
“Na minha experiência, os recém-nascidos possuem uma resistência, geralmente eles surpreendem muito. O tempo médio que já traz algum grau de sequela é em torno de cinco minutos de falta de oxigênio, no caso de uma parada respiratória, por exemplo, se a pessoa ficar cinco minutos sem oxigênio e não tiver uma assistência adequada naquele momento já pode ter sequela. Mas eu já vi crianças, no Pronto Socorro, chegarem em parada respiratória de alguns minutos sobreviverem e durante o acompanhamento não foi percebida nenhuma sequela neurológica”.
O maior risco, segundo o médico, é com relação à hemorragia e outras infecções que a criança possa ter adquirido enquanto ficou enterrada:
“O problema maior, pelo que eu fiquei sabendo, foi a hemorragia, porque acho que ela deve ter nascido e já enterraram, não cortaram o cordão umbilical, então ela sangrou abundantemente, aí leva às outras consequências”.
Como sobreviveu?
O pediatra afirma que a menina deve ter conseguido, de alguma forma, ter acesso a oxigênio durante o período em que ficou em baixo da terra:
“Eu imagino que na hora que fizeram o buraco e a enterraram, deve ter ficado alguma câmara de ar. E como o metabolismo da criança é baixo, comparado com o metabolismo de adultos, com este pouco oxigênio que provavelmente estava ali ela conseguiu sobreviver”.
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