A extrema-direita pró-Bolsonaro tem limites?
Qual é o limite da extrema-direita pró-Bolsonaro? Talvez a resposta a esta questão seja evidente se analisarmos qual foi a base social do fascismo
Rogerio Maestri, Jornal GGN
Há algo que angustia os democratas em geral no Brasil, qual o limite da extrema-direita pró-Bolsonaro?
Talvez a resposta a esta questão seja evidente se analisarmos qual foi a base social do fascismo principalmente na Itália e Alemanha e, ao mesmo tempo, analisarmos as semelhanças e diferença da base de Jair Bolsonaro. E, mais importante, a visão que o resto da população tem desta base fascista no Brasil.
Tanto na Itália como na Alemanha, os militantes de base do fascismo era composta de imensos grupos de ex-soldados que foram, após a primeira grande guerra, abandonados a sua própria sorte. Eles eram disciplinados, desempregados, eram provindos das classes operárias, onde mantinham vínculos e, o mais importante, eram vistos pela população mais como vítimas do que algozes.
As tropas de choque fascistas, tanto na Itália (squadre d’azione) como na Alemanha (Sturmabteilung – SA) eram mais ou menos organizados militarmente conforme o país. Na Itália, como a tradição militar não era tão arraigada como na Alemanha, os “squadristi” tiveram uma duração como grupo de ação bem mais curta que na Alemanha, o primeiro grupo foi formado em torno de 1919 os Fasci italiani di combattimento. Em outubro de 1922, com a marcha sobre Roma e a entrega do poder a Mussolini, os 30 a 70 mil camisas negras (como eram chamados os membros desta organização paramilitar) começam a ser desmobilizados, continuando alguns grupos mais ou menos na ativa até as eleições de 1924, onde são utilizados para intimidar e fraudar estas eleições.
A organização paramilitar fascista italiana em 1921 chegou a possuir 310.000 homens, e as suas demonstrações de força, sua violência contra todo e qualquer político democrata foi a verdadeira base do fascismo italiano.
É importante destacar que os camisas negras tinham respaldo econômico tanto da oligarquia industrial italiana como da rural, e durante a sua existência receberam apoio do exército regular, que quando Mussolini chega ao poder, os camisas negras não gozam de muita confiança junto ao exército e o apoio a estas organizações paramilitares acaba.
Já no caso Alemão, os camisas marrons, o Sturmabteilung (SA) tem a mesma origem dos italianos, mais ou menos uns dois anos depois (1920-21), porém atingem um grau de organização bem maior, apresentando uma hierarquia militar clássica, até com seus próprios caminhões para transporte de tropas e chefiados por Ernst Röhm. Chegaram a atingir um notável número acima de 3,5 milhões de milicianos que era quase vinte vezes maior do que o exército alemão.
Após a Revolta de Stennes (Walter Stennes – comandante de Berlim da SA) entre 1930-1931, Hitler assumiu ele próprio o comando das SA e esta teve um fim mais trágico do que os italianos, todos os principais chefes da SA foram devidamente assassinados no evento da chamada Noite das Facas Longas, na noite de 30 de junho a 1 de julho de 1934.
O assassinato do comando da SA foi uma imposição do exército alemão quando da nomeação de Hitler como chanceler em 30 de Janeiro de 1933. O período entre janeiro e junho foi ainda utilizada as SA para eliminar os inimigos políticos de Hitler, e a SA foi substituída pelas Schutzstaffel (SS) que, também em 1933, eram numerosos (não tanto como a SA) tendo 209.000 membros chefiados por Heinrich Himmler. Integrantes sofriam um processo de seleção bem mais rigoroso que as SA e seus comandantes, na maior parte das vezes, eram saídos de extratos sociais mais elevados.
Toda esta descrição detalhada, serve de base para entendermos as dificuldades da expansão dos simpatizantes de Bolsonaro. Tanto as organizações paramilitares italianas como as alemãs, partiram de batalhões de soldados desmobilizados da primeira guerra, e todos tinham uma visão militar enraizada em princípios de disciplina, hierarquia e irredentismo. Na sua imensa maioria eram pagos pelas próprias organizações com dinheiro proveniente de grandes capitalistas e latifundiários, logo a sua fidelidade era à milícia e não ao Estado.
As suas relações com os exércitos italiano e alemães, apesar de receberem apoio das instituições militares, era uma relação conflituosa, pois além do exército alemão ter uma limitação no número de tropas, que os colocavam em desvantagem numérica perante a SA, havia uma desconfiança por diferença de classe social que se originavam. Enquanto os comandantes da SA eram na sua maioria originários de ex-militares de baixa patente, pertencente a classes proletárias, os comandantes do exército na sua maioria advinham da nobreza alemã. Daí a imposição do exército alemão de uma repressão sangrenta a SA.
Alguém pode sinalizar que as milícias que existiam não condicionaram a subida dos líderes ao poder, ou eram irrelevantes para as votações, porém se verificarmos que as SA possuíam em 1933, 3,5 milhões de homens e as SS mais outro milhão, se contarmos dois votos por cada membro (o próprio e um familiar) resulta em 14 milhões de votos para o NSDAP que comparado com os 11.737.395 votos obtidos nas eleições parlamentares de novembro de 1933 resulta que nem todos os familiares das tropas paramilitares alemãs (SA+SS) não votaram em Hitler.
Como se pode ver, os votos e o apoio aos fascistas era condicionado à capacidade de arregimentação das suas tropas paramilitares, não havendo muito voto fora destas tropas que não serviam somente para perseguir os inimigos políticos, mas também para apoio eleitoral, não havendo muitos votos fora deste círculo de semiempregados do partido nazista e fascista italiano. O cálculo para os italianos não é tão claro, devido a uma contabilidade malfeita dos italianos, mas se tomarmos como referência as eleições de 1921 dará praticamente o mesmo.
Agora vamos ao nosso exemplo nacional. A imensa maioria dos apoiadores de Bolsonaro são provenientes das polícias militares estaduais, de jovens que não sofram a repressão policial e residualmente de pessoas com alta faixa de renda. Logo, Bolsonaro deve ficar limitado a este grupo que, na realidade, não é na sua totalidade, pois os membros das polícias não podem votar quando estão a serviço longe de seu domicílio eleitoral (talvez por isto o TSE está tentando que a maioria vote!). Porém assim como na Alemanha e na Itália a capacidade de transferência de votos dos PMs e demais policiais não é muito grande na população de baixa renda, podemos dar como limite superior da votação de Bolsonaro algo com três vezes o número de policiais no Brasil, ou seja 675 mil policiais vezes três, mais uns trinta por cento de jovens, que não chegará aos 20% previstos nas pesquisas eleitorais.
Se as pesquisas identificassem a profissão dos entrevistados, verificaria que os eleitores e apoiadores de Bolsonaro estão claramente limitados a determinados grupos altamente estratificados, e que na verdade as previsões não são corretas.
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