Não podemos desistir de educar! Não podemos silenciar. A esperança de humanização passa também por lutas identitárias, e políticas culturais
Ana Cláudia Laurindo, Repórter Nordeste
Há uma manifesta prova de que não se pode desistir de educar. Hoje sabemos que isso vai muito além das formalidades escolares, e passa pelo conhecimento histórico, humanitário e ético.
Não é possível almejar tal estado de alcance intelectual sem fazer ligações políticas, econômicas e culturais.
Precisamos conhecer identidade, princípios e noções de coletividades. Sim, nós precisamos melhorar a forma de nos relacionarmos com o todo, a partir de nós mesmos.
Há uma seta apontando para a impessoalidade do mercado e a inatingível direção que os fatores econômicos manejam, mantendo lucro e domínio, como pautas inquestionáveis.
As denúncias de apropriação cultural circulam o globo!
Comunidades antigas da Europa são surpreendidas ao verem suas roupagens ancestrais, tecidas milenarmente nas aldeias, sendo expostas em desfiles de moda, e vendidas a preços exorbitantes, sem ao menos citar as origens. E reagem. Geram fatos, entram no páreo e aproveitam o ocorrido para visibilizar a produção local, salvando a arte, gerando renda internacionalmente.
Outras comunidades asiáticas denunciam a prática de atravessadores, que adquirem indumentárias locais a preço exíguo, para revenderem no mundo com extrema valorização, sem jamais repassarem créditos aos verdadeiros donos da criação; ao coletivo que a gerou e mantém.
Indígenas são explorados dentro da mesma proposta, algumas etnias lutam para gerar cooperativas, outras dispersam, mas o que elas vivem em comum é a sanha pelos produtos de suas culturas para vendas externas, porque o mercado percebeu que existe um fetiche em exibir artefatos de cunho identitário, no entanto, transforma essa identidade em mero acessório.
O mercado de turbantes carrega as controvérsias da marginalização do acessório, e a sua ressignificação para uma proposta de modismo, capaz de promover lucro para muito além do território cultural africano, ou da descendência africana no Brasil.
Há reação. O turbante é defendido como algo além de um acessório, e seu sentido político, cultural, identitário é resgatado pelos grupos que assumiram a denúncia da apropriação cultural.
Um objeto de marcenaria, se tornou polêmica em Alagoas, quando em um catálogo de Arranjos Produtivos Locais foi apresentado como “buffet tronco dos escravos”. Uma réplica do objeto de tortura para se pôr na sala.
Por que essa frieza em expor a história dolorosa, carregada pelas vias do etnocentrismo, neste universo capitalista que incentiva o consumo do que representa grupos minorados?
Muito difícil não perceber um risco de sadismo em quem se arvora das tragédias e loucuras humanas, e materializa tais inspirações, vendendo e exibindo o que feriu, humilhou a matou a outros seres humanos.
A violência psicológica que uma focinheira pode promover nós outros não podemos prever, integralmente. Mas quem tem sensibilidade ética não aprova a estética que se apropria de histórias e culturas alheias, para manter lugares de acesso a consumos efêmeros.
Não podemos desistir de educar! Não podemos silenciar. A esperança de humanização passa também por lutas identitárias, e políticas culturais.
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