De repente, em poucas horas, o chão de Ciro Gomes (PDT) e de Jair Bolsonaro (PSL) parece ter ruído. Geraldo Alckmin (PSDB) será oficializado como candidato único do establishment
Andrei Meireles, Os Divergentes
Pela ordem natural das coisas, a debacle do PT, com o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão de Lula por corrupção, levaria os tucanos de volta ao poder. As cenas explícitas de corrupção envolvendo Aécio Neves, e denúncias contra José Serra e outros caciques nivelaram o jogo. Desde a volta da democracia, após o vexame com Fernando Collor, PSDB e PT se revezaram no poder. O fiasco de ambos gerou a expectativa de que algo diferente, velho ou novo, os sucedessem.
Nessa embolada sucessão presidencial o que despontou como novidade – Luciano Huck e Joaquim Barbosa, por exemplo – mostrou-se efêmero. Sobrou um deserto. Foi por aí que alguns se aventuraram. Jair Bolsonaro tenta fincar uma estaca nessa seara. Se apresenta como candidato a protagonista no jogo em que há tempos é figurante, mas acaba de ser barrado como coadjuvante no final da preliminar.
Depois de flertar com todo tipo de incoerência – de aulinhas de neoliberalismo com o professor Paulo Guedes a fisiologismo explícito com o catedrático Valdemar Costa Neto -, Bolsonaro continua no mesmo lugar.
E não sabe como avançar. Até tentou um verniz de raiz, a tal chapa verde oliva com o general da reserva Augusto Heleno como vice. Uma escolha que agradaria a turma que prega a volta dos militares ao poder. A ironia é que esbarrou no PRP, um dos apêndices do PT na Bahia.
Após a queda de tucanos e petistas, Ciro Gomes sentiu o vácuo e também resolveu voar alto. Seus balões tomaram os céus nesse inverno, subiram tanto que ficou ao alcance da mão o que parecia impossível.Até essa quinta-feira (19),ele parecia a um passo de uma coligação que unisse em torno dele a sopa de letras da direita, batizada de Centrão ( DEM, PP,PRB,PR,SDD…) a siglas de esquerda como o seu PDT, PSB e PC do B.
Com uma aliança nessas proporções, se não ocorresse um cataclisma, Ciro já entraria no páreo como praticamente imbatível.
De repente, em poucas horas, o chão dele e de Bolsonaro parecem ter ruído. O de Bolsonaro, apesar de seu sucesso nas pesquisas, era carta cantada.
A rasteira em Ciro, mesmo com todo seu polêmico histórico, surpreendeu.
Ciro cantava em verso e prosa que tinha muito amor para dar. Seus desaforos, beligerância, seriam coisas do passado. Sua pregação por um cavalo de pau na política econômica apenas figura de retórica. E por aí tentou surfar, mesmo com tropeços e recaídas. Parece que não deu certo.
Ciro e Bolsonaro, apesar do empenho, não conseguiram se mostrar confiáveis às elites que deles desconfiavam.
Abriram espaço para Geraldo Alckmin. Quem antes desdenhava o tucano, agora troca penduricalhos por declarações de apoio.
Os partidos de centro-direita antes flertavam com todos. Atraíram a cobiça geral,mas são pragmáticos na hora da decisão. Seguem o establishment político e eleitoral que resolveu apostar em Geraldo Alckmin nessa largada da corrida presidencial.
A conferir.
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