"Nenhuma criança jamais mergulhou dessa maneira. São crianças incrivelmente fortes. É quase que inacreditável". Instrutor que participou de resgate de meninos na Tailândia conta detalhes da operação
Autoridades e equipes de mergulho concluíram nesta terça-feira o resgate dos 12 meninos e seu treinador de futebol que estavam presos em uma caverna no Norte da Tailândia.
Eles começaram a ser retirados da caverna em que se encontravam, a 4 km da entrada de um complexo de túneis subterrâneos, no domingo, por mergulhadores em uma arriscada operação.
“Eles estão sendo forçados a fazer algo que nenhuma outra criança fez“, disse o mergulhador Ivan Karadzic quando a operação ainda estava em curso.
Karadzic era um dos integrantes da equipe de resgate internacional. Seu trabalho era o de cuidar do translado dos meninos em um trecho bastante complicado no meio do trajeto. Ele ressaltou que “nenhuma criança jamais mergulhou dessa maneira“.
“Não é de modo algum normal que crianças mergulhem em cavernas aos 11 anos de idade. Eles estão mergulhando em um ambiente extremamente perigoso“, acrescentou ainda, apontando para dificuldades como a falta de visibilidade no local e os trechos apertados no percurso.
A única luz lá dentro, contou Karadzic, era a que saía das lanternas das equipes. Também foi preciso trabalhar com “planos B” para o caso de eventuais falhas de equipamento ou empecilhos emocionais.
“Nós estávamos obviamente com muito medo de haver pânico por parte dos mergulhadores“, explica.
Por que os meninos entraram na caverna?
Os 12 meninos que ficaram presos na caverna têm idades entre 11 e 17 anos e o treinador deles tem 25. Eles fazem parte do time de futebol Wild Boars e acredita-se que foram parar no local após um treino, para comemorar o aniversário de um deles.
Fortes chuvas inundaram o local, porém, e acabaram bloqueando a saída.
Mergulhadores os encontraram na semana passada, após nove dias abrigados em cima de uma pedra para escapar da água, cujo nível continuava subindo.
Para sair do local – localizado a mais de 800 metros abaixo do solo – eles precisaram andar nas rochas, caminhar na água, escalar e mergulhar – tudo na completa escuridão – com o auxílio de cordas colocadas ao longo do percurso para guiá-los.
Segundo o governo tailandês, que divulgou o plano do resgate, os garotos foram divididos em quatro grupos e transportados um a um. O treinador estava neste último grupo.
“Eu não consigo entender o quão calmas essas crianças são, sabe? Pensando em como elas foram mantidas na caverna por duas semanas, sem ver suas mães… São crianças incrivelmente fortes. Isso é quase inacreditável“, diz Karadzic.
‘Quando mergulhador se aproximava, eu não sabia se trazia criança viva ou morta’
Karadzic contou que a primeira vez em que viu um mergulhador despontar ao fundo do túnel no trecho em que se encontrava levando um dos meninos, sentiu medo.
“Àquela altura, não era possível enxergar direito, e quando o mergulhador se aproximava, eu não sabia se ele trazia nos braços uma criança viva ou morta.”
“Mas quando vi que ele estava vivo, respirando, que parecia estar bem, me senti muito bem, sim.”
Os integrantes do grupo começaram a ser retirados da caverna no domingo. De acordo com representantes do governo, os oito primeiros resgatados estão em “bom estado de saúde físico e mental“, mas ficarão em observação no hospital por pelo menos sete dias.
Os cinco que continuavam presos e foram resgatados nesta terça-feira recebiam cuidados e orientações de um médico e de mergulhadores da força de operações especiais da Marinha.
A última etapa do esforço para salvá-los começou logo após as 10h no horário local (meia noite, no horário de Brasília), com 19 mergulhadores entrando na caverna.
Quem são os garotos e o treinador que ficaram presos na caverna?
→Chanin Vibulrungruang, 11 (Apelido: Titan) – começou a jogar futebol aos 7 anos de idade;
→Panumas Sangdee, 13 (Apelido: Mig) – escreveu aos pais: “A Navy Seals (a força de operações especiais da Marinha) está cuidando bem de mim“;
→Duganpet Promtep, 13 (Apelido: Dom) – capitão do time de futebol. Estaria sendo sondado por vários clubes profissionais da Tailândia;
→Somepong Jaiwong, 13 (Apelido: Pong) – sonha em jogar na seleção tailandesa;
→Mongkol Booneiam, 13 (Apelido: Mark) – descrito pelo professor como “um bom garoto e muito respeitoso“;
→Nattawut Takamrong, 14 (Apelido: Tern) – disse aos pais que não se preocupem com ele;
→Ekarat Wongsukchan, 14 (Apelido: Bew) – prometeu à mãe que a ajudaria uma vez que fosse resgatado;
→Adul Sam-on, 14 – membro de uma equipe de vôlei classificada em segundo lugar em um torneio no norte da Tailândia;
→Prajak Sutham, 15 (Apelido: Note) – descrito por amigos da família como um “rapaz inteligente e tranquilo“;
→Pipat Pho, 15 (Apelido: Nick) – pediu aos pais, na carta, que o levem para comer churrasco quando for resgatado;
→Pornchai Kamluang, 16 (Apelido: Tee) – disse aos pais: “não se preocupem, eu estou muito feliz“;
→Peerapat Sompiangjai, 17 (Apelido: Night) – fez aniversário no dia em que o grupo entrou na caverna para comemorar e os pais dizem que o esperam agora para fazer sua festa;
→Treinador assistente Ekapol Chantawong, 25 (apelido: Ake) – em carta aos pais dos garotos, pediu desculpas pelo ocorrido, mas eles responderam que não o culpavam.
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BBC
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