Mídia desonesta

Delação de criminoso

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Attilio Giuseppe*, Pragmatismo Político

Nos últimos meses foi intensificado o combate às redes sociais, por parte das mídias tradicionais. Em especial, o Facebook tem “sofrido” uma série de acusações com uma expansiva propaganda delatora dos malefícios de seu uso. Uma breve comparação entre algumas mídias pode ser útil, para elucidar em parte, a questão.

Grande parte das imputações ao Facebook são facilmente aplicadas aos outros tipos de mídia tradicional. Em relação à TV é notória sua vexatória disseminação de entretenimento paupérrimo, sem nenhuma capacidade de atender demandas sociais, muito menos a de fornecer qualquer tipo de conteúdo, mesmo que rarefeito ou metafórico. É uma chuva abundante de programas vazios, que visam exclusivamente à distração, nada mais alienante. O leitor pode dizer: “mas todos precisam de um pouco de distração!”. Quanto a isto não há dúvidas, mas o cerne da discussão está na comparação entre o que “oferece” Facebook e outros veículos.

Em relação às fake news, estão presentes em todos os veículos, seja através de omissões, distorções ou em casos mais graves, mentiras claras propaladas sem menor cerimônia, para induzir a audiência à determinada opinião. Revistas como: “Veja” ou “Isto é” são especialistas em “elaborar” extensas reportagens baseadas em dados sem fontes e mesmo assim, a própria Veja já colocou em uma de suas capas, o “perigo” que representam as falsas notícias.

É indiscutível que o Facebook realiza com “alta qualidade” também, a disseminação de fake news, postagens de conteúdo irrelevante ou distorções absurdas de fatos e conceitos. Dependendo do uso que se faça desta rede social é possível navegar por vinte minutos consecutivos vendo apenas vídeos e fotos de animais se lambendo, refeições, passeios caros e basicamente, uma autopromoção dos usuários, como uma tentativa desesperada de serem vistos pela sociedade, uma total exibição de carência afetiva e da necessidade de se autoafirmarem. No entanto, com alguns ajustes nos perfis, é também possível ter acesso à grande volume de conteúdo independente, o que representa de fato o incômodo para as outras mídias. O Facebook não possui linha editorial e por mais que diversos controles sejam feitos para definir o que aparece na timeline de cada usuário, ainda fica fácil ter acesso a jornalistas, blogs, grupos e debates plurais.

O Facebook torna visível, algo que a grande mídia esteja simplesmente boicotando ou encobrindo. Esta ação trás à tona duas características destas mídias: a aversão delas à Democracia e o crescente questionamento das suas capacidades e intenções de realmente informar o cidadão. Antes das redes sociais, algo que ficasse “às escuras” poderia até ser descoberto por outras pessoas, porém, elas não teriam as ferramentas necessárias para visibilizar em grandes proporções, o ocorrido.

Importante ressaltar, que não há “mocinhos” na disputa visto que desnuda-se um duelo de titãs em busca de audiência e lucros, no entanto, o monopólio da informação, antes assegurado pelos veículos de mídia tradicionais foi quebrado. Para concluir, a última notícia divulgada pela “Folha”, que os ricos estão abandonando o Facebook surge totalmente descontextualizada e com intuitos manipuladores. Apesar de representar uma questão complexa deve estar claro a todos, que nos países desenvolvidos não há tamanho controle da mídia por poucas famílias, como aqui no Brasil. Em países como a Alemanha ou Inglaterra, o cidadão tem a disposição maior diversidade de narrativas, debates e visões, o que elimina a necessidade de um recurso de mídia social, para este fim. Portanto, apesar de apresentar os mesmos malefícios que as mídias tradicionais, o Facebook ainda permite outras possibilidades, a elaboração de discursos autônomos e a visibilidade a estes, logo, a caça a esta rede social, nada mais é do que uma caça ao que ameaça o monopólio da informação e controle ideológico de mentes e corações.

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*Attilio Giuseppe é historiador, professor e colaborou para Pragmatismo Político.

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