Jovens negros quando correm são frequentemente confundidos com bandidos. Jovens negros sobre telhados não são admitidos a partir da possibilidade de estarem em busca de uma bola. O que sempre fazem é suspeitar que sejam perigosos. A primeira opção é sempre acreditar que sejam criminosos
Por Jean Wyllys*
Seis disparos. Seis tiros na direção de um punhado de crianças que subiram no telhado para buscar uma bola. Em Magalhães Bastos, subúrbio tradicional do Rio, um jovem negro e seus amigos subiram no telhado de um posto de saúde para pegar uma bola que caiu por lá após um mau chute na partida de futebol, e uma vida se perdeu. Mais uma!
Na delegacia, o policial responsável, que estava fora do horário de serviço, como sempre acontece em casos assim, disse se tratar de erro técnico ou coincidência. Disse que seus disparos eram para assustar e obter silêncio. Assim. Como se o procedimento adequado fosse atirar seis vezes até o barulho acabar.
Jovens negros quando correm são frequentemente confundidos com bandidos. Jovens negros sobre telhados não são admitidos a partir da possibilidade de estarem em busca de uma bola. O que sempre fazem é suspeitar que sejam perigosos. A primeira opção é sempre acreditar que sejam criminosos.
Ryan Teixeira do Nascimento tinha 16 anos, e na terça-feira à noite foi preciso que mais alguém subisse no telhado para buscar uma bola e um corpo.
Uma outra família foi destruída. Um novo futuro brilhante foi cessado ainda no primeiro curso.
Quem sabe não seria um jovem que ajudaria sua família ou que formaria um belo projeto social no seu bairro ou que daria aulas ou que seguiria os passos de seu pai? Quem sabe não seria apenas um garoto, no telhado, e não um perigoso assaltante, como acostumamos a ver serem tratados os negros dia-a-dia, e não só em situações de tiro?!
Quem sabe o culpado não é só o cabo Pedro Henrique Machado, agora preso, mas todos nós, que mergulhados nessa cultura racista continuamos transformando gente – que nasceu para brilhar – em cadáveres de uma sociedade que se nega a enfrentar o racismo e que arma sem dó quem mais o reproduz?
Meus sentimentos!
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*Jean Wyllys é professor e deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro.
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