O lugar onde uma família pode ser considerada de "baixa renda" por se sustentar com um salário de R$ 450 mil por ano (cerca de R$ 37 mil por mês)
Uma família que se sustenta com US$ 117,4 mil por ano – cerca de R$ 450 mil – pode ser considerada de “baixa renda” em algumas áreas dos Estados Unidos, conforme um relatório recente do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano.
Que trabalhadores com remuneração anual de três dígitos possam ser classificados como “pobres” é algo que pode surpreender muita gente.
Mas é a realidade em San Francisco, San Mateo e Condado de Marin, na Califórnia. Nessas regiões dos EUA, famílias de até quatro pessoas com remuneração anual de R$ 450 mil são consideradas de “baixa renda”, enquanto as que recebem menos de R$ 282,8 mil por ano já entram no rol de “muito baixa renda”.
Uma análise da variação nas remunerações e custos de vida das cidades americanas ilustra o que está ocorrendo nessas localidades e no país como um todo.
Salários muito acima da média
Quase dois terços das famílias americanas de quatro pessoas vivem abaixo da linha de “baixa renda” de San Francisco, ou seja, com menos de R$ 450 mil por ano.
Nos Estados Unidos como um todo, a média de renda anual de uma família de quatro pessoas é de US$ 91 mil (cerca de R$ 351 mil). Quando são consideradas famílias de todos os tamanhos, a média é de US$ 59 mil (R$ 227 mil) por ano.
Num país com 326 milhões de habitantes, mais de 40 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza, que é de US$ 25 mil (cerca de R$ 96 mil) por ano, por família de quatro integrantes.
Ao observar todos os empregos, os ganhos são desproporcionais em algumas cidades. San Francisco é uma que se destaca, com remunerações muito acima da média.
A cidade se tornou o nicho da indústria de alta tecnologia, o que gerou um boom econômico que fez com que se tornasse residência dos profissionais mais bem pagos dos Estados Unidos.
Entre 2008 e 2016, as remunerações individuais para funcionários de 25 a 64 anos de idade em San Francisco – incluindo os condados de Alameda e Contra Costa – cresceram 26%, mais do que em qualquer outra região do país.
Em 2016, a remuneração média individual era de US$ 63 mil (R$ 242 mil) por ano.
Mas claro que também há outras áreas dos Estados Unidos com salários altos.
Entre pessoas com 25 a 64 anos, o salário médio anual de um empregado em tempo integral é de US$ 65 mil (R$ 250 mil) em San José; US$ 60 mil (R$ 231 mil) na capital Washington; e US$ 55,7 mil (R$ 215 mil) em Boston.
Em cidades que pagam salários altos como essas, algumas profissões se destacam.
Em San Francisco, os médicos são os profissionais mais bem pagos, ganhando em média US$ 193 mil (R$ 743 mil) por ano. Administradores públicos recebem cerca de US$ 167 mil (R$ 643 mil). E desenvolvedores de software podem esperar um salário anual de US$ 117 mil (R$ 450 mil).
Mas obviamente há muita gente ganhando bem menos que isso. As pessoas mais mal pagas em San Francisco são os fazendeiros, que ganham US$ 18,5 mil (R$ 71,2 mil) por ano, enquanto quem trabalha com crianças recebe cerca de US$ 22 mil (R$ 85,9 mil) por ano.
Os salários são bem menores em outras grandes cidades dos Estados Unidos.
Em Detroit, por exemplo, um médico ganha US$ 114 mil (R$ 439 mil), enquanto quem trabalha com crianças recebe US$ 15 mil (R$ 57 mil) por ano.
Custo de vida
A variação das remunerações é apenas parte dessa equação que faz com que, em San Francisco, uma família seja considerada “pobre” com menos de R$ 450 mil por ano.
É preciso levar em conta os gastos necessários para uma família sobreviver – como casa, comida e lazer. O custo de moradia cumpre um papel importante em determinar o real valor da remuneração dos trabalhadores – e o custo de vida na área de San Francisco é 25% mais alto que a média nacional.
Mas como as remunerações são 45% maiores que a média nacional, muitas pessoas que moram naquela região ainda estão em vantagem em relação a boa parte da população dos Estados Unidos.
É quando são analisados especificamente os gastos com moradia que a comparação é menos favorável para San Francisco.
Em muitas cidades grandes, os problemas com aluguéis altos e preços elevados na compra de casa própria foram agravados por leis rígidas para a construção de residências e o crescimento da desigualdade.
Os aluguéis caros de San Francisco estão por trás da decisão de categorizar como de “baixa renda” famílias que ganham salários anuais de mais de até R$ 450 mil.
O valor médio do aluguel de um apartamento de dois quartos em San Francisco é de US$ 3.121 (R$ 12 mil) por mês – quase o dobro do que era em 2008. Em Cincinnati, no Estado de Ohio, o valor para um apartamento do mesmo tamanho é de US$ 845 (R$ 3,2 mil).
Essa diferença, de 270%, é bem maior que a diferença entre a média de remunerações nas duas cidades – de 50%.
Portanto, o custo para viver em San Francisco pode ser desafiador.
Nos Estados Unidos, o governo normalmente define uma família de “baixa renda” como aquela que ganha menos que 80% da remuneração média das famílias de mesmo tamanho, na mesma região.
Mas em locais com custo muito elevado de moradia o limite de remuneração para ser classificado como “baixa renda” pode ser maior.
Em San Francisco, os aluguéis altos estimularam o governo a fixar como “baixa renda” as famílias que ganham menos de US$ 117 mil (R$ 450 mil), o que é quase o valor da remuneração média de uma família de quatro pessoas na região – US$ 118 mil (R$ 454 mil).
Receber menos que esse valor não dá às famílias automaticamente o direito a assistência para acesso a moradia, mas é um fator importante na hora de se candidatar a esse tipo de subsídio.
Qualidade de vida
É importante notar que muita gente está disposta a encarar preços altos em troca de boa qualidade de vida.
San Francisco é, certamente, um lugar caro para se viver, mas que também oferece clima bom e vastas opções de programas culturais – cinemas, exposições teatros, bares e restaurantes.
É comum que cidades classificadas como tendo uma alta qualidade de vida, como San Francisco, Santa Bárbara (Califórnia) e Honolulu (Havaí), sejam caras.
O desafio é garantir que essa qualidade de vida seja acessível para todos os residentes, não apenas para aqueles com os melhores salários.
Ter um olhar crítico sobre o mercado mobiliário e refletir sobre como garantir moradia à população de baixa renda são bons pontos de partida.
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