Copa do Mundo

O neonazismo de alguns jogadores da Croácia e a final da Copa do Mundo

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Por um lado, não “torcer” pela Croácia na final da Copa do Mundo é punir o time inteiro pela ação torpe de alguns; por outro, apoiar a seleção croata é acreditar que os neonazistas presentes no time e na torcida são apenas jovens cometendo peraltices. Qual escolha fazer?

Antonio Marcelo Jackson F. da Silva*, Congresso em Foco

Não é de hoje que futebol e política se misturam. Aliás, a própria criação da Fifa, a ausência da Inglaterra nas primeiras Copas e a propaganda realizada por Mussolini em 1934 (apenas para citar o início remoto da tão famosa competição esportiva) foram atos políticos em essência e modo. Da mesma maneira, os clubes também possuíram e possuem atos notadamente políticos; e isso para o bem e para o mal.

É inegável, por exemplo, a história primeira do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro, ao ter no elenco jogadores negros e enfrentar o racismo de nossa sociedade com a cara e a coragem; ou então, o Santos, de Pelé, que interrompeu a Guerra de Biafra (Nigéria) em 1969 ou, por fim, a atitude da CBF ao enviar a seleção brasileira para o Haiti em missão de paz em 2004 para um amistoso (ninguém é totalmente imperfeito).

Porém, não podemos confundir essas ações capitaneadas por países, clubes ou federações – instituições políticas ou esportivas, mas com atos de cunho político –daquilo que vem ocorrendo na atual Copa da Rússia. A atitude de alguns jogadores da Croácia e de parte da sua torcida ao entoarem saudações de fundo nazista ou mesmo comemorarem gols com gestos claramente vinculados ao fascismo de Hitler escapa, em muito, de um problema institucional.

“Glória à Ucrânia”, gritou o futebolista croata, Domagoj Vida

Aqui se verifica que determinadas pessoas usam politicamente de seus clubes e seleções em um campeonato realizado em espaço público, e esse uso se dá por meio de um conjunto de atos vinculados a grupos neonazistas lamentavelmente presentes no mundo atual.

Em outras palavras, se as ações partem de países ou clubes, pune-se como já ocorreu em tantos momentos. Porém, quando a dita ação vem de pessoas que atuam nesses clubes e seleções ou as apoiam (como no caso da torcida ou de parte dela) há uma clara instrumentalização dessas instituições e, com isso, o cenário é bem mais melindroso.

Dito num bom português, por um lado, não “torcer” pela Croácia é punir o time inteiro pela ação torpe de alguns; por outro lado, apoiar a seleção croata é acreditar ingenuamente que os neonazistas presentes no time e na torcida são apenas jovens cometendo peraltices. Qual escolha fazer?

Como historiador e cientista político que sou por formação, sei perfeitamente que a história das sociedades humanas não se repete: os cenários, as interações sociais, as pessoas, enfim, tão distantes entre si, inviabilizam qualquer tentativa de repetição de uma ideia. Contudo, quando falamos de instituições, de governos, ou mesmo clubes de futebol, por sua pouca elasticidade e repetição dos formatos (o Estado sempre irá administrar, produzir leis e julgar; um clube de futebol sempre jogará futebol ainda que as regras possam mudar sazonalmente) a possibilidade de se reproduzir um gesto ou ato é bem possível – não fosse assim os golpes de Estado ou tiranias já teriam desaparecido há tempos!

Assim, na possibilidade de que um erro seja cometido por mim, fico com minha formação. Aliás e em tempo: por que será que a Croácia é uma das poucas seleções que não têm imigrantes ou filhos da imigração no seu elenco?

*Antonio Marcelo Jackson F. da Silva é Doutor em Ciência Política, é professor da Universidade Federal de Ouro Preto.

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