Histórico revela centenas de mensagens do youtuber atacando não só negros, como também mulheres, homossexuais, gordos e idosos. Grandes marcas contrataram o jovem sem checar direito quem ele era ou o que dizia
Habituados a usar estrelas da TV em suas campanhas, os grandes anunciantes e suas agências de propaganda foram pegos de surpresa com a súbita ascensão dos influenciadores digitais.
“Quem são esses garotos que o meu filho adora, mas de quem eu nunca ouvi falar?”, perguntaram-se os publicitários. “Como foi que eles conseguiram tantos seguidores em tão pouco tempo? Como se escreve Whindersson e Kéfera?”.
Logo surgiram empresas especializadas em cuidar das carreiras desses novos fenômenos da internet. Youtubers e instagrammers passaram a ser oferecidos no mercado como capazes de vender qualquer coisa ao público jovem.
Preocupadas em não ficar para trás, as marcas aderiram em peso. Contrataram muitos desses influenciadores para anúncios e promoções, sem checar direito quem eram ou o que diziam.
E isso, numa época em que basta uma piada preconceituosa para destruir uma carreira. Que o digam William Waack ou Roseanne Barr.
Júlio Cocielo fez muito mais do que uma única gracinha racista. O infame tuíte que o influenciador postou no sábado (30) —“mbappé conseguiria fazer uns arrastão top hein (sic)”, em referência ao jogador francês Kylian Mbappé, que é negro— está longe de ser um caso isolado.
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Havia milhares de outros em seu perfil no Twitter, que foram apagados depois que o escândalo estourou. Cerca de 50 mil, segundo algumas fontes, atacando não só negros, como também mulheres, homossexuais, gordos e idosos.
Tarde demais. Muitos desses tuítes foram salvos por internautas, e são mesmo de virar o estômago. Coisas como “Porque o Kinder ovo é Preto por fora e Branco por dentro?… porque se ele fosse Preto por dentro o brinquedinho seria roubado, KKK (sic)”. Ou “nada contra os negros, tirando a melanina…”.
Cocielo postou um textão pedindo desculpas, e muitos de seus amigos e fãs saíram em sua defesa. Mas os milhares de tuítes descartados provam que o rapaz não cometeu um mero passo em falso. Além do mais, ele tem 25 anos: não se trata de um adolescente irresponsável.
Há muito tempo que Cocielo vinha falando barbaridades, sem nenhum prejuízo para sua carreira. Mas agora a conta chegou. Os patrocinadores do youtuber, atuais e passados – uma lista que inclui Coca-Cola, McDonald’s, Itaú, Adidas e Submarino – repudiaram sua atitude. Alguns chegaram a tirar comerciais do ar. Todos juraram ser contra qualquer tipo de discriminação.
É pouco. Por que nenhum deles se deu ao trabalho de conhecer melhor quem escolheram para representá-los?
A publicidade ainda não se deu conta de que os tempos mudaram. As sensibilidades estão mais aguçadas, para o bem e para o mal. O que era engraçado uma década atrás, agora é pecado mortal. E não são só os consumidores que estão respondendo na lata: são os cidadãos.
O caso Júlio Cocielo vai servir de parâmetro e divisor de águas. Os anunciantes ficarão mais cautelosos – e, tomara, os influenciadores também.
Tony Goes, FolhaPress
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