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Eleições 2018 20/Jul/2018 às 13:48 COMENTÁRIOS
Eleições 2018

"Pensei em votar no Bolsonaro. Mas mudei de ideia"

Publicado em 20 Jul, 2018 às 13h48

“Até pensava em votar em Bolsonaro, mas agora não”. Jornalistas deveriam falar menos com os políticos e mais com as pessoas comuns, que são o verdadeiro Brasil. São eles, os sem privilégios, os que melhor sabem como bate o coração do país

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Juan Arias, ElPaís

Nós jornalistas deveríamos falar menos com os políticos e mais com as pessoas comuns, que são o verdadeiro Brasil. E mais nesses momentos de suspense às vésperas de uma das eleições mais confusas e imprevisíveis da democracia do país. Minha experiência me confirma que os que nunca aparecem nos jornais, os mudos, que são 99% da população, são os que melhor conhecem a vida real que precisam conquistar o tempo todo. São eles, os sem privilégios, os que melhor sabem como bate o coração do país. E são eles os que têm em suas mãos o maior número de votos a depositar nas urnas.

Digo isso porque nessa manhã, enquanto pensava no que escrever para minha nova coluna, encontrei um taxista jovem, negro, simpático. Fazia um calor de verão e me surpreendeu ao comentar, bem informado, sobre o drama dos problemas do meio ambiente. De repente, me perguntou em quem eu pensava em votar para presidente. Disse que não votava no Brasil e aproveitei para perguntá-lo em quem ele pensava em votar. “Está difícil. Até pensava em votar em Bolsonaro, mas agora não” e acrescentou: “O problema é que os que teriam de nos dar exemplos de vida são os que mais nos envergonham a cada dia”.

Fiquei sem saber em quem ele votaria, mas entendi uma coisa importante: não era do partido dos derrotistas que acham que todos são iguais. Eu o vi sofrendo para encontrar algum candidato que merecesse seu voto. São esses a verdadeira população, os que sofrem o mal exemplo dos governantes e ao mesmo tempo não renunciam a um Brasil em que eles tenham voz, porque são os que o constroem com seu trabalho.

Os políticos deveriam deixar seus carros blindados na garagem e caminhar a pé pelas ruas e subir nos ônibus. Deveriam escutar as pessoas como anônimos, sem escoltas, para saber o que pensam, porque essa massa que viaja nos transportes públicos poderia ser sua melhor assessora. Dessa forma, tanto a esquerda como a direita poderiam entender por que as pessoas não vão às ruas protestar quando elas querem e por que saem e se manifestam quando elas gostariam que ficassem trancadas em casa. As pessoas não são um robô que se move ao bel-prazer dos políticos. São pessoas que decidem motivadas pela urgência de uma vida com menos dificuldades econômicas e menos perigos para sobreviver.

Um amigo meu muito brincalhão me disse que teve um sonho curioso. De repente, a Brasília política havia desaparecido. Onde hoje estão o Governo e o Congresso era somente um grande parque de diversões para crianças. Os jornalistas, desesperados, tentavam saber onde estava a Brasília do poder. Eles a procuravam nas grandes avenidas de São Paulo e nos bairros ricos do Rio. Nada. Até que em uma rede social alguém contou que viu senadores, deputados e ministros caminhando nos becos de uma favela. Estavam a pé, entravam nos bares, nas escolas. Alguns corriam assustados quando as metralhadoras disparavam.

Contei o sonho de meu amigo ao jovem taxista e ele o levou a sério: “Não sei se Brasília deveria mudar a uma favela, mas os políticos deveriam ir às ruas e falar mais com a gente”, disse. Tentei saber o que ele perguntaria a um desses exilados de Brasília se subissem em seu táxi. E foi rápido na resposta: “Eu perguntaria por que precisam roubar tanto com o que já ganham”.

É essa sabedoria popular que os governantes deveriam escutar de sua própria boca. Eles não são contra a política e contra os partidos. O que faz com que tenham aversão aos governantes é saber que parecem entrar na política não para tentar melhorar o país e sim para enriquecer, eles e suas famílias. Por que cada vez mais os políticos de todos os partidos lutam agora para eleger seus filhos e parentes, começando pelos que estão na cadeia condenados por corrupção? São perguntas que as pessoas que viajam horas em pé nos ônibus também fazem. Alguém se atreve a escutá-las? Ou tem medo delas?

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