Rede Globo

Por que Bolsonaro se sagrou vitorioso na sabatina do JN?

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A dupla do Jornal Nacional tomou um vareio de corar gente grande. Bolsonaro foi melhor que Ciro, que também apresentou bom desempenho. Mas o candidato do PSL não tenta seduzir a Globo, sabe que a Rede lhe é hostil e transforma isso em vantagem eleitoral

Gilberto Maringoni, Jornal GGN

OK, Jair Bolsonaro é um troglodita fascista, homofóbico, defensor da tortura etc. etc. Mas uma coisa ele sabe: usar a televisão.

Só ingênuos pensam que uma entrevista de 27 minutos em rede nacional, com quase metade do tempo sendo disputado no grito por dois apresentadores, é feita para que alguém esclareça suas propostas para o país.

Debates televisivos são imagens fugazes. São duelos. São enfrentamentos nos quais o que menos se deve fazer é dialogar com os âncoras.

Candidato competente abstrai o que está a sua volta e dialoga com quem está em casa. Candidato competente não respeita pergunta, responde o que julga necessário para sensibilizar o outro lado da tela.

Embora seja importante aparentar emoção, debates televisivos são testes de comportamento, racionalidade e frieza.

Isso se faz não apenas porque a equipe do programa quer provocar e elevar a tensão até o postulante se desequilibrar e perder as estribeiras, mas por ser necessário tentar entender a formação do voto na cabeça do eleitor.

Essa difícil troca entre quem está no estúdio e quem está fora dele varia de acordo com características próprias de cada um.

A imagem do programa de governo de Bolsonaro – e não o programa de Bolsonaro – é composta por três ou quatro tópicos muito simples: armamento da população, castração química, macheza e exaltação da disciplina dos quartéis. Ponto. Isso é compreendido por qualquer néscio. Montado nesses atributos, o deputado pode ganhar a eleição.

Bolsonaro agiu corretamente ao devolver com virulência dobrada cada provocação da dupla William Bonner/ Renata Vasconcellos. Ele chegou às raias da grosseria? Chegou. Mas o que seu eleitorado quer é isso, que ele seja maleducado, metido a fodão e que se mostre meio boçal.

Em sua lógica, o capitão estabeleceu competente conexão com seus potenciais eleitores. Fala simples, vocabulário fácil, sem hipérboles ou volteios, direta, seca, indignação pretensamente espontânea, cola nas mãos (que está virando marca) e olhar rútilo de raiva contida. Faltou cuspir no chão.

A dupla da bancada tomou um vareio de corar gente grande. O candidato foi melhor que Ciro, que também apresentou bom desempenho. Mas Bolsonaro não tenta seduzir a Globo, sabe que a Rede lhe é hostil e transforma isso em vantagem eleitoral.

Repetindo: Bolsonaro é um neandertal fascista, escroto e cafajeste.

Mas é um profissional da imagem.

Por isso é perigoso.

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