As redes sociais acordaram exaltadas. Pesquisa feita pelo banco de investimentos BTG Pactual divulgada ontem cravou um crescimento excepcional de intenções de voto para João Amoêdo. Logicamente, tudo não passou de uma farsa
Mauro Donato, DCM
As redes sociais acordaram exaltadas. Pesquisa feita pelo banco de investimentos BTG Pactual divulgada ontem cravou 4% das intenções de voto para João Amoêdo, do partido Novo.
Como um candidato completamente desconhecido e que beirava o 1% pela pesquisa Ibope, repentinamente quadruplicou esse índice em poucos dias?
É uma bolha, claro, e como toda bolha há alguém/alguma coisa inflando-a.
Na parte ‘visível’ do bico soprador, a explicação é a seguinte: o candidato triplicou o tamanho da equipe que cuida de suas redes sociais e tem investido cerca de R$ 4 mil por dia em postagens patrocinadas, o que já está liberado para ser feito desde o último dia 15. O resultado é que a página de Amoêdo no Facebook teve um crescimento de 26% só na última semana.
R$ 4 mil por dia é o valor divulgado pela própria assessoria de Amoêdo. Pode ser, portanto, mais. Afinal, dinheiro não é nem será problema para o candidato mais rico na disputa ao Planalto. Amoêdo tem um patrimônio de R$ 425 milhões (declarado). Disse estar disposto a torrar R$ 1,4 milhão do próprio bolso, mas já conta com outros R$ 308 mil recebidos via vaquinha virtual e também com amigos cujos saldos bancários trazem a felicidade.
O crescimento foi sentido pelos institutos de medição de tráfego não apenas na rede de Zukerberg. A AJA Solutions detectou uma arrancada surpreendente de Amoêdo que colocou-o em 3º lugar no ranking de relevância e visibilidade (R&V) no ecossistema das eleições no Twitter na semana de 17 a 24 de agosto (a pesquisa da AJA analisou 1.106.483 interações entre 519.770 de usuários). Ficou com uma fatia de 13,58%.
Essa é a parte visível, apresentável do bico soprador. Mas o que mais poderia estar inchando a tal ‘Onda Laranja’ tão cantada pelo candidato ultra liberal?
Rafael Goldzweig é um analista de trends eleitorais que também ficou surpreso com a arrancada e resolveu dar uma conferida. Rafael importou os dados e organizou as contas por datas de criação no Twitter desde o dia 15, data na qual os candidatos já podiam fazer campanha pela internet.
Analisou os dados dos últimos 40 mil novos seguidores de Amoêdo e verificou que os grandes picos de contas criadas foram a partir daquela data. Rafael desconfiava da existência de bots (robôs) e utilizou a ferramenta ‘botornot’ para testar as contas. O que encontrou foi que no dia 15, das 75 contas testadas, 66 eram bots. No dia 27, foram 67 contas falsas de um total de 69. Só duas contas eram verdadeiras.
Há menos de 2 meses, o InternetLAB já havia realizado um levantamento utilizando uma outra ferramenta (Botometer) que revelava um índice percentual indicando a probabilidade das contas que seguiam os então pré-candidatos serem bots. João Amoêdo já apresentava o risco de 21% de seus seguidores tratarem-se de contas totalmente automatizadas. Depois disso ainda vieram os picos analisados por Rafael Goldzweig.
Esses levantamentos já chegaram aos ouvidos de Amoêdo que tem se pronunciado da forma prevista. Em vídeo, classifica-os como fake news e disse que “o crescimento da Onda Laranja já anda trazendo ataques vindos da turma que não quer perder seus privilégios.” Assim falou Amoêdo, o não privilegiado.
É evidente que nem tudo são bots. Amoêdo tem herdado aquela parcela da população despolitizada, órfã e traída por João Doria. Desavisados ingênuos que caem no discurso “não vou morar no palácio (como se Amoêdo já não morasse em um); é rico não precisará roubar; não é político” e que considera o eleitor de Jair Bolsonaro, este sim, burro.
Amoêdo e seu Novo representam o que há de mais arcaico em termos de opressão e exploração do povo. O Novo é um punhado de bancos travestidos de partido. Um segmento que nos últimos anos ‘retomou’ 47 mil imóveis das mãos de clientes cuja inadimplência tem relação direta com essas empresas financeiras que cobram 400% de juros.
Mas Amoêdo deve considera-los uns privilegiados, vagabundos e coloca todo mundo no olho da rua. Novo isso daí.
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