Davi Fiuza, 16 anos, foi morto por 17 policiais militares, conclui investigação. Adolescente desapareceu após abordagem. Mãe ainda tem esperança de enterrar o filho
Maria Teresa Cruz, Ponte
A Polícia Civil da Bahia indiciou 17 PMs que teriam participado do desparecimento e morte de Davi Fiuza, 16 anos, por volta das 7h30 do dia 24 de outubro de 2014, após ser abordado por policiais militares no bairro de São Cristovão, em Salvador. Testemunhas afirmaram que adolescente foi encapuzado, teve pés e mãos amarrados, foi colocado em um carro descaracterizado e nunca mais foi visto. O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público da Bahia que, em nota, informa que a promotora Ana Rita Nascimento deve terminar a análise dos pedidos de indiciamento até o fim deste mês e decidir, então, se vai denunciar o grupo à justiça.
O advogado da família de Davi, Paulo Kleber Filho, afirma que não divulgará os nomes dos indiciados, mas confirma que dois são tenentes, dois são sargentos e os outros eram alunos da Polícia Militar na época do crime. Segundo Paulo Kleber, a indicação no inquérito é para que os envolvidos respondam por três crimes: sequestro (art. 148) e homicídio (art. 121) com o agravante de ocultação de cadáver e o fato de serem agentes públicos (previsto no artigo 29 do Código Penal).
“Esses alunos foram fazer a lição de casa, [sargentos e tenentes] foram ensinar a matéria para eles e meu filho que foi o escolhido”, critica Rute Fiuza, mãe de Davi, em alusão à confirmação de que, entre os acusados, estão 13 policiais que, à época, eram aspirantes.
Em vídeo exclusivo publicado pela Ponte em abril de 2016, Rute Fiuza declarou que o filho foi vítima de “um batismo de 19 policiais militares que estavam se formando soldados na Bahia”. A afirmação de Rute encontra eco no inquérito da Polícia Civil que apontou justamente a participação de aspirantes no crime.
“O Estado tem obrigação de dar o corpo do meu filho, já que foi o Estado que matou. Eu quero que o governador mande os homens dele dizerem onde estão os restos mortais do Davi”, diz, emocionada. “Era isso que queria: dar um funeral digno ao meu filho, porque ele era uma pessoa digna. Ele não era um indigente, ele tinha família”.
Rute Fiuza conta que nos últimos quatro anos tentou em diversas oportunidades marcar audiência com o governador Rui Costa (PT) para falar sobre o caso do filho, mas o pedido nunca foi atendido. “São covardes e assassinos”, desabafa.
A expectativa dela é que o MP denuncie todos os 17 à Justiça da Bahia “Quero que sejam denunciados, que vão a júri popular e que sejam condenados”, afirma. No início das investigações, Rute conta que, em mais de uma oportunidade, recebeu ameaças anônimas, mas que não sente medo. “Já me aconselharam sair de Salvador por um tempo, mas eu vou ficar aqui, não vou me abater. Eu quero justiça”, disse.
Para Renata Neder, coordenadora de pesquisa da Anistia Internacional Brasil e que presta apoio à família desde o ocorrido, é urgente que o MP denuncie os policiais, já que é preocupante o histórico de impunidade em casos de violência policial e execuções extrajudiciais. “Para mudar este quadro, é essencial que policiais envolvidos em execuções e desaparecimentos forçados sejam devidamente responsabilizados. A conclusão do inquérito sobre o desaparecimento de Davi Fiuza foi um passo importante neste sentido”, declarou.
A Ponte procurou, por e-mail, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia para perguntar sobre o nome dos policiais indiciados, bem como para pedir à pasta comentar a ação dos agentes, mas, até o momento, não obteve retorno.
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