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Dia do Amigo

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Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político

Há umas duas semanas, foi comemorado o Dia do Amigo.

Todos têm amigos.

Duvido daqueles que dizem que tem inúmeros amigos.

Amigos mesmo, daqueles que se pode contar nas mais difíceis horas, são raros, por maior que seja o círculo social do indivíduo.

Eu tenho pelo menos um amigo.

E sei que é meu amigo não pelas incontáveis festas que fizemos, mas pelos percalços que juntos passamos.

O meu amigo não é meu amigo só porque me ofereceu um crivo quando eu tava sem nenhum. Ele é meu amigo porque já bateu na minha porta munido apenas duma carteira de cigarro e muitos lamentos a eu ouvir. Me reclamou do seu momento. E um maço foi pouco pra tantas lágrimas que segurou.

O meu amigo não é meu amigo só pelos litros que juntos bebemos em comemorações. Ele é meu amigo pelas cervejas que tomamos enquanto confidenciávamos nossas agruras um ao outro.

O meu amigo não é meu amigo porque foi o primeiro a parabenizar minha paternidade. Somos amigos porque segredamos os momentos não tão bons da gravidez.

Somos amigos não só porque demos força um ao outro no (já longínquo) vestibular, cuja aprovação é sempre tão romantizada com faixas penduradas na sacada. Somos amigos porque contamos um ao outro da dificuldade que é trabalhar de dia e estudar à noite, quando pensamos em desistir. Mas que amigo deixaria que tomássemos essa equivocada decisão?

Somos amigos porque nos respeitamos. Tanto, que quando nos atendemos ao celular dizemos “fala, corno viado”.

Somos amigos porque nos vemos pouco, mas sabemos que a falta de tempo não é mera desculpa. É fato realístico desse sistema capitalista opressor em que o trabalho nos suga momentos em que poderíamos estar com nossa família e amigos.

Sim, somos amigos pois compartilhamos uma visão humanística de esquerda.

Somos amigos porque ele me deve cinquenta reais e nunca me paga. Alega que me emprestou cem naquela noite em que bebemos todas. Eu não me lembro. Mas deve ser verdade. Que meu amigo é corno viado, mas honesto.

Somos tão amigos, que ele não se importa desta homenagem atrasada.

E ele, machista, dirá que não. Mas tenho certeza que se emocionou.

*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”

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