“Vou de Bolsonaro”, diz dono da Centauro, uma das maiores varejistas do Brasil: “Ele é um fenômeno eleitoral. Um capitão chegar à presidência é a mesma coisa que, na ótica civil, o torneiro mecânico [Lula] chegar lá”
O mineiro Sebastião Bomfim Filho acha que é melhor seus amigos de golfe já irem se acostumando: “Em outubro, vou de Bolsonaro. Está decidido”, afirma.
Dono da rede de artigos esportivos Centauro, uma das maiores varejistas do País, o empresário de 65 anos enxerga no deputado do PSL a chance de romper com “o modelo que está aí”, que é refém do presidencialismo de coalizão e de um Estado que alimenta privilégios.
“Sem dúvida nenhuma vou sofrer discriminação. Levarei pedrada, mas paciência”, diz, resoluto. Os petardos virão de seus pares da elite paulistana, aposta Bomfim.
Há cerca de um mês, ele compartilhou com amigos pelo WhatsApp um desabafo que terminava com a indicação de voto em Jair Bolsonaro. A maior parte deles torceu o nariz. “Estou em São Paulo. A elite aqui vota no Alckmin”, diz o empresário que, na eleição passada, deu seu voto ao PSDB do senador Aécio Neves.
Nada contra o ex-governador de São Paulo, que “foi um bom gestor”, diz. Mas Geraldo Alckmin deixou-se seduzir pela velha política ao firmar acordo com o centrão (bloco formado por DEM, PP, PRB, PR e SD). E uma das coisas que Bomfim mais desgosta nessa vida é o tal do centrão. “O que eu não quero é o presidencialismo de coalizão. Quero menos ainda um petismo. E menos ainda uma ditadura.”
Por fidelidade à lista de vetos, quase abandonou Bolsonaro. Tomou um susto com o anúncio do General Hamilton Mourão (PRTB) como candidato a vice na chapa de Jair. “Veio aquele barulho de coturno, de caserna. Virou uma chapa militar. Vivenciei a ditadura. Não dá. Claro que eu desisti”, diz.
Segundo ele, diante do alto índice de vice-presidentes que acabam assumindo o comando do País, o movimento não podia ser ignorado. “Seria uma sinalização muito ruim para a geração de minhas filhas (se Mourão assumisse), de que precisou vir de novo um general para dar conta. Não gosto dessa perspectiva histórica”, afirma.
O desencanto, porém, durou pouco. Bomfim conheceu o ex-capitão e gostou do que ouviu. “Tive uma reunião face to face com Bolsonaro e vi um cara com posições fantásticas”, diz o empresário, que perdeu o medo diante de um candidato risonho e que pediu “apenas ideias” como contribuição de campanha. “Estava com receio de voltarmos a perder a democracia. Mas tive muita segurança de que isso não vai acontecer”, afirma.
Bolsonaro ainda tem “fé tênue” no liberalismo econômico, diz Bomfim, mas sua “confiança cega” no economista Paulo Guedes, sócio da Bozano Investimentos e coordenador do programa econômico do deputado, acalma o espírito empresarial do dono da Centauro, cuja rede deve faturar cerca de R$ 2,7 bilhões neste ano. “Bolsonaro tem a sinceridade e a humildade de reconhecer suas deficiências e isso conta muito.”
Percurso
A declaração pública de voto de Bomfim não é fortuita. Ele faz parte de um grupo de empresários que têm adotado nova postura em relação à política, buscando se engajar e encontrar formas de influenciar nas eleições. “Não podemos ter medo de retaliação por colocar nossas posições. Os empresários vão ficar só pagando a conta?”, diz.
Bomfim decidiu que não. Em 2017, quando acalentava o sonho de ter o amigo João Doria como candidato tucano à presidência, organizou um jantar em sua casa para aproximar o então prefeito de celebridades como Cláudia Raia, Latino e Márcio Garcia. Meses depois, porém, Doria saiu do páreo e decidiu disputar o governo paulista.
Bomfim lançou-se então em empreitada mais direta: ajudar o também empresário do varejo Flávio Rocha, da Riachuelo, a viabilizar sua candidatura presidencial pelo PRB. Virou coordenador da campanha, que teve vida curta. “Sou o Mick Jagger da política”, diverte-se, referindo-se à fama de pé frio do cantor da banda Rolling Stones.
O nome de Bolsonaro veio por eliminação. Foram cortados: Marina Silva (“tem essência de esquerda”), Alckmin (“aderiu a tudo que sou contra”), João Amoêdo (“não gosto do modelo do Novo”).
Entre o deputado e Álvaro Dias, Bomfim resolveu ficar com quem tem mais chance de vencer. “Ele é um fenômeno eleitoral. Um capitão chegar à presidência é a mesma coisa que, na ótica civil, o torneiro mecânico [Lula] chegar lá”.
Agência Estado
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