A entrevista de Ciro Gomes no Jornal Nacional
Constantemente interrompido pelos apresentadores Willian Bonner e Renata Vasconcellos, Ciro Gomes foi o primeiro presidenciável sabatinado na bancada do Jornal Nacional. Quando conseguiu falar, o candidato se saiu bem
O candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) afirmou que não é candidato de esquerda, mas da “centro-esquerda”, defendeu uma “aliança” entre os que produzem e os que trabalham e elegeu o “baronato do sistema financeiro” como inimigo número 1 a ser combatido, ao participar na noite desta segunda-feira (27) de sabatina no Jornal Nacional.
Foi a primeira de uma série de entrevistas que a Rede Globo pretende realizar com alguns dos concorrentes ao Palácio do Planalto ao longo desta semana.
A emissora entrevistará ainda Jair Bolsonaro (PSL), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) – e já anunciou que não vai entrevistar nenhum representante do PT.
O candidato foi constantemente interrompido pelos apresentadores Willian Bonner e Renata Vasconcellos, que tentavam pressioná-lo sobre denúncias contra o presidente de seu partido, Carlos Lupi, e também sobre se apoiaria a Operação Lava Jato, entre outras questões não ligadas a programa de governo. Por mais de uma oportunidade, Ciro teve de usar a expressão “se vocês me permitirem…” para que pudesse ser ouvido.
O pedetista comparou a complementariedade da sua chapa, que tem a senadora Kátia Abreu (PDT-TO) como candidata a vice e é identificada com o setor do agronegócio, com a aliança vitoriosa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o seu então vice, José Alencar, destacado empresário do setor têxtil.
Segundo ele, sua vice “conhece a economia rural brasileira como poucos”. Ciro enfatizou que a senadora votou contra o golpe que depôs a presidenta Dilma Rousseff, contra a Emenda Constitucional 95, que congela os gastou públicos, e também contra a “reforma” trabalhista do governo Temer.
Provocado a se posicionar criticamente em relação a Lula, afirmou que foi um “bom presidente”, e que a população brasileira “sabe disso”, e que não poderia comemorar o fato de que “o maior líder popular do país” esteja preso.
“A população mais pobre sentiu na pele as consequências de um bom governo”, afirmou o candidato, que destacou que durante os governos Lula havia mais emprego e mais crescimento.
O candidato afirmou que a “luta odienta” entre “coxinhas e mortadelas” – termos pejorativos que identificam militantes da direita e da esquerda, respectivamente – estava destruindo o Brasil, e que acredita que a esquerda estará unida no segundo turno das eleições presidenciais.
Ciro defendeu que setores do Ministério Público e do Judiciário voltem a atuar dentro das suas atribuições. Lembrou do episódio do habeas corpus concedido a Lula, que depois foi cassado em manobras envolvendo juízes do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) para dizer que o Brasil precisa de paz, e criticou a “politização da Justiça”, com a atuação de promotores que colaboram para “destruir reputações”.
O candidato voltou a propor a renegociação das dívidas das pessoas que estão negativadas. “Vou ajudar a tirar seu nome do SPC”. A uma pergunta se não seria essa uma proposta “simplista”, Ciro negou se tratar de um “slogan fácil” e apresentou uma cartilha que detalha o plano.
Foi um dos primeiros momentos em que o entrevistador Bonner levou ao entrevistado assunto relacionado a proposta de governo, passados dois terços dos 27 minutos de entrevistas – mas em que o apresentador falou mais do que o entrevistado.
Ciro destacou que a dívida média dos cerca de 63 milhões de pessoas com o nome sujo é de cerca de R$ 4 mil, e com desconto padrão utilizado em renegociações desse tipo esse valor cairia para cerca de R$ 1.200. Livres das taxas “imorais” de até 500% cobradas pelos bancos, financiada a juros de até 8% ao ano com a participação de bancos públicos, os devedores arcariam com parcelas de R$ 40 por mês para limpar o nome, defendeu.
Ele afirmou que “o Brasil deu cerca de R$ 380 bilhões em refinanciamento para os ricos”, e que, portanto, a sua proposta de refinanciar a dívida das pessoas não poderia ser vista como um “escarcéu”. “Qualquer coisa que vem para pobre ou classe média, os outros candidatos ficam pirados.”
Sobre a violência crescente no Ceará, seu estado de origem, já governado por ele e pelo seu irmão Cid Gomes, Ciro atribuiu a escalada da violência à chegada de facções criminosas que cresceram “em acordo” com as autoridades de São Paulo, e contaram com a negligência das autoridades de Justiça do Rio de Janeiro.
Nesta terça, a série continua, agora com Bolsonaro. Na sequência, serão entrevistados Alckmin e Marina. Na semana passada, Bonner já havia anunciado que “não vai haver cobertura de campanha” do candidato do PT (pela Globo). O candidato a vice na chapa do ex-presidente Lula, Fernando Haddad, que também atua como seu porta-voz, não foi convidado.
A coligação do ex-presidente recorre na Justiça para que as emissoras Globo, Bandeirantes, Rede TV!, Record e SBT façam a cobertura dos atos de campanha, de acordo com decisão do Conselho de Direitos Humanos das Organizações das Nações Unidas que determina que Lula deve ter os seus direitos políticos preservados na condição de candidato, incluindo o acesso à imprensa.
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Rede Brasil Atual