Polícia identifica homem que ameaçou matar a pesquisadora Débora Diniz. Ele tem passagens por porte ilegal de arma de fogo e lesões corporais. No entanto, delegada afirma que ele não será preso “por se tratar de crime de menor potencial ofensivo”. Um segundo agressor também foi identificado
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), por meio da delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM), identificou o autor de crimes contra a professora da Universidade de Brasília Debora Diniz, de 48 anos. O acusado foi identificado como H. G. M., 42 anos, morador de São José dos Pinhais, no Paraná. Para chegar até o homem, uma equipe da Deam, formada por um delegado, dois agentes e um perito desembarcaram no município e contaram com policiais civis do local.
O acusado é desempregado e mora com a mãe, uma idosa. Ele tem passagens no Paraná por porte ilegal de arma de fogo e lesões corporais. Com a identificação do autor, a Deam finalizou o termo circunstanciado, o qual foi apresentado ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), para a apresentação formal da denúncia por ameaça e injúria.
Segundo a delegada Sandra Melo, chefe da Deam, o acusado não foi preso. “Por se tratarem de crimes de menor potencial ofensivo, não houve a prisão dele. Mas são ações que ferem o bem-estar e a segurança de uma pessoa. Por isso, é importante denunciarmos, para que ocorra a responsabilização legal dessas pessoas e que as atitudes não se repitam”, afirma.
Em depoimento, o homem não confessou o crime. Mas a delegacia colheu provas que comprovam a ação do acusado por meio de mensagens ao site do Instituto de Bioética Anis. O HD do computador do suspeito foi apreendido.
Um segundo homem, morador de Ceilândia, também foi identificado. Como ele apresentou um boletim de ocorrência comprovando o roubo do aparelho, ele não foi indiciado. Agentes da Deam irão investigar se ele foi um dos autores das ofensas.
Professora foi intimidada pessoalmente e nas redes sociais
A docente foi vítima de agressão por um grupo de pessoas em 18 de julho, quando saía de um evento em Brasília. Ela recebeu também diversas ameaças de morte pela internet e por telefone. Os crimes ocorreram em função do posicionamento da professora na defesa da descriminalização do aborto.
Debora estuda temas como feminismo, bioética, direitos humanos e saúde, e está à frente da Anis — Instituto de Bioética. A organização não governamental serviu como consultora do Partido Socialismo e Liberdade (PSol) na elaboração da ação que propõe a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. O assunto entrou em pauta no Supremo Tribunal Federal (STF), e a Corte promove audiências públicas para discutir o tema. A última ocorre nesta hoje (6).
Na última terça-feira (31/7), a Deam deflagrou a Operação Cátedra, com o objetivo de instruir o procedimento que investiga os crimes praticados em desfavor da pesquisadora. Os ataques a professora da UnB começaram após a ministra do STF Rosa Weber convidá-la para participar das audiências públicas sobre o aborto. Debora passou a ser perseguida e hostilizada nas redes sociais, onde é chamada de “monstro” e “assassina” pelo trabalho em favor da regularização do aborto.
Por conta dos insultos, ela registrou boletim de ocorrência na delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) e recorreu ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) para pedir inclusão no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH), do governo federal. Debora conta com medidas protetivas, que não foram detalhadas com o objetivo de preservá-la.
“Começaram a fazer campanha me desqualificando, me chamando de assassina, de monstro e me mandaram coisas mais graves. Depois me ligaram, me mandaram mensagens com ameaças mais explícitas”, relatou a professora, em julho, antes de decidir parar de dar entrevistas, por medo de sofrer mais ataques.
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Sarah Peres, Correio Braziliense
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