Jair Bolsonaro tem sido comparado a Donald Trump. Ele mesmo reitera esse paralelo. No entanto, a analogia mais precisa é com o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte
Kiko Nogueira, DCM
Uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, FBSP, em conjunto com o Datafolha ajuda a explicar o “fenômeno Bolsonaro”. O medo da violência, conclui o estudo, torna os brasileiros propensos a posições autoritárias.
Os ricos são os que mais rejeitam a ampliação dos direitos humanos. Nossos mitos fundadores, a escravidão e o genocídio indígena, estão fincados em nossa formação com força e vontade.
Uma nação de justiceiros almejando um fascistoide para o comando.
Em entrevista à Deutsche Welle, o sociólogo Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do FBSP, observou que “a sociedade brasileira é extremamente violenta, e infelizmente essa é uma característica que tem raízes históricas”.
Para ele, “somos uma sociedade que cultua a violência, o individualismo exacerbado e não valoriza a vida”.
Acrescentou:
Temos uma combinação tóxica no Brasil onde, de um lado, a população mais pobre tem maior propensão a posições autoritárias e, de outro, a mais elitizada não quer aderir à agenda de direitos da nossa Constituição.
Geralmente, as pessoas associam direitos a privilégios. Uma das perguntas foi se “a lei das domésticas interfere indevidamente nas relações entre patrões e empregados”. Muitos brasileiros ricos pensam que, se a população tiver seus direitos ampliados, eles não terão mais condições de pagar uma empregada doméstica todos os dias.
Então, associa-se ao risco que a mobilidade social oferece aos privilégios que a classe média e os mais ricos conseguiram construir ao longo dessa estrutura de desigualdade, de não direitos. A população do Brasil, historicamente, é relegada ao salve-se quem puder e, em meio a isso, a perspectiva de ampliação de direitos assusta aqueles que, de algum modo, imaginam que conseguiram mobilidade por mérito ou herança.
Jair Bolsonaro tem sido comparado a Donald Trump. Ele mesmo reitera esse paralelo. “O Trump serve de exemplo pra mim”, falou em sua visita aos EUA.
Tirante a agenda “politicamente incorreta”, Trump não tem nada a ver com Bolsonaro, um desqualificado cujo apelo se limita aos baixos instintos de seu eleitorado fanático, que move uma engrenagem sinistra nas redes sociais.
A analogia mais precisa é com o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, um boquirroto “linha dura” de extrema direita que vive de uma repressão brutal contra usuários de droga, traficantes e “traidores da pátria”.
Números oficiais contabilizam mais de 3 mil pessoas mortas em operações policiais, com a ajuda inestimável de esquadrões de extermínio.
Os cadáveres são muitas vezes deixados ao ar livre, em exposição pública, com sinais listando os crimes de que foram acusados.
Um rapaz de 17 anos foi levado por um grupo de policiais à paisana para um beco na zona norte de Manila, onde foi executado com um tiro na cabeça.
O corpo foi abandonado em uma vala.
Recentemente, Duterte admitiu ter autorizado as forças de segurança a assassinar os “idiotas” que resistirem à prisão.
Numa coletiva, falou de seu ídolo.
“Hitler massacrou três milhões (sic) de judeus. Há três milhões de viciados em drogas. Eu ficaria feliz em matá-los”, declarou.
“Se a Alemanha teve Hitler, pelo menos as Filipinas têm…”, prosseguiu, apontando para si mesmo.
O golpe nos transformou numa cadela resultado da cruza entre a Alemanha dos anos 30 e as Filipinas de hoje.
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