Independente das ações individuais há um sistema opressor que induz atitudes machistas como forma de sobrevivência e o resultado é uma sociedade polarizada, estereotipada, violenta, opressora e desigual
Attilio Giuseppe*, Pragmatismo Político
O movimento feminista adquiriu mais força e visibilidade nos últimos anos e isto fomentou uma série de discussões sobre o tema, inclusive debates abordando o direcionamento do coletivo, a forma como membros ou não membros devem se posicionar, bem como a posição do homem perante esta efervescência social. A mulher tem reivindicado, além de uma série de transformações nas estruturas patriarcais e machistas, o seu lugar de fala, visto que historicamente a posição hierárquica oprimida, não permitiu voz perante o todo.
Em meio a este processo quente e conflituoso – como deve ser em meio a uma sociedade que busca transformações positivas – o homem tem escolhido pelo menos três posturas: a adesão, o desdém e a crítica fervorosa. Bem típico dos momentos de transição, a polarização de posições político-ideológicas, assim como, o recrudescimento do conservadorismo reacionário, como maneira de resistir às mudanças e gritar aos “quatro ventos”, que a coesão social está sendo fragilizada. Nem cabe neste momento apontar a importância de abalar as estruturas sociais, para posteriormente, refazer uma fundação democrática e igualitária.
Evidente que o homem sofre também diversas pressões – mesmo que bem menores do que a mulher – e precisa agir de maneira truculenta, insensível e falsa, para reafirmar sua masculinidade e não deixar dúvidas quanto à sua orientação sexual. Desde pequenos, o choro, as manifestações de carinho pelo amigo, a cor da roupa e a maneira de se posicionar perante diversas questões da vida são duramente reprimidas e controladas pelo meio. Além destas, outras situações ameaçam a integridade e condição psicológica do sexo masculino. O machismo em seu conjunto, não afeta apenas a vida feminina, pois suas imposições impelem ao homem um comportamento ignorante, principalmente em relação ao sexo oposto, como se fizesse parte do pacote tratar a mulher como um pedaço de carne, que tem como único objetivo de existência gerar prazer carnal.
Percebe-se em algumas alas mais radicais do feminismo, o desenvolvimento da aversão ao sexo oposto, como se o problema fosse individual, um desvio de caráter, algo relacionado apenas à índole do ser humano, no entanto, a causa do mal é sistêmica, visto que o patriarcalismo e machismo fazem parte dos pilares da sociedade brasileira.
As imposições feitas ao homem degeneram as relações entre os gêneros, de maneira que se cria uma luta entre “personalidades” natas, uma pautada pela razão e a outra pela emoção, para fazer inveja a qualquer visão nietzscheana da humanidade. São definidos desde o nascimento as aptidões e funções dentro da família, do ambiente de trabalho e os comportamentos adequados à vida em sociedade. É feita uma castração ao homem em seu processo de formação cidadã, que afeta conjuntamente a personalidade e caráter. Seja homem ou mulher, desde o nascimento carregarão um compilado de trejeitos, visões e tipos de ação pré-moldadas pelo sistema preconceituoso e desagregador que assola as relações.
Fundamental enfatizar, que estando numa posição social hierarquicamente inferior, a mulher sofre muito mais no cotidiano, seja em forma de violências físicas, psicológicas, financeiras ou emocionais. O fato é que só se vence uma batalha quando se conhece o verdadeiro inimigo e, neste caso, ainda parece embaçado para alguns, quem gera os distúrbios entre gêneros. Independente das ações individuais há um sistema opressor que induz atitudes machistas como forma de sobrevivência e o resultado é uma sociedade polarizada, estereotipada, violenta, opressora e desigual.
Portanto, as soluções passam pelo questionamento dos padrões de masculinidade relacionados a um comportamento primata, de forma que evidencie a necessidade de mudanças estruturais, não somente em relação ao tratamento recebido pela mulher, mas a própria relação do homem com sua orientação sexual. Somado a isto, um amplo debate sobre gênero, porém sem estar poluído pelas visões reacionárias, que muito mais geram ódio e intolerância, do que o contrário.
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*Attilio Giuseppe é historiador, professor e colaborou para Pragmatismo Político.
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