Presidente de sociedade espírita é denunciado por violação sexual
Médium presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas vira réu por violação sexual e estelionato. Ministério Público ouviu 20 pessoas que relataram os episódios
“As sessões acontecem na madrugada e, algumas vezes, a gente se vê sozinho com o professor Maury. Nessas conversas, ele acaba te envolvendo, dizendo que você é especial […] e com o passar do tempo essa intimidade começa a ser maior e ele vai querendo beijar, forçar um beijo, e isso acaba sendo um pouco estranho”
O depoimento acima é do engenheiro eletrônico Fernando da Costa Frazão, uma das vítimas de Maury Rodrigues da Cruz, médium presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE).
Maury virou réu nesta quinta-feira (16) por violação sexual mediante fraude e estelionato após a Justiça do Paraná aceitar denúncia do Ministério Público. O caso corre em segredo de Justiça.
Além de líder espírita, Maury Rodrigues foi diretor do Museu Paranaense e professor universitário. Segundo a denúncia, o médium se aproveitava da fé das pessoas que procuravam a SBEE para tentar se aproximar e cometer a violação sexual.
“Aproveitando-se da fé espírita de que a vítima é portadora e plenamente ciente de que ela o considerava um líder religioso, o denunciado logrou êxito, obtendo a supracitada vantagem patrimonial indevida”, diz trecho da denúncia.
Os crimes aconteciam durante as sessões de ectoplasmia, que é quando os espíritos supostamente se manifestam em uma pessoa viva.
Fernando Frazão, vítima do médium, conta que, a princípio, não entendia exatamente o que estava acontecendo, “até que, no final de 2017, ele me convidou para morar com ele. Pra mim, depois disso, ficou comprovado que era uma fraude e que toda a intenção dele era o abuso sexual”.
As denúncias
Além de Fernando, outras duas vítimas são citadas na denúncia aceita pela Justiça do Paraná. No entanto, pelo menos 20 pessoas relataram que sofreram nas mãos do médium. Na maioria dos casos, porém, os crimes já prescreveram.
Um empresário, que não quer ter sua identidade revelada, afirma que seu caso é ainda mais grave do que o de Fernando. Segundo ele, em certo momento da sessão, o médium pediu para que ele colocasse a mão na parte do “baixo ventre”.
“Eu coloquei a minha mão mais ou menos embaixo do umbigo dele, e ele pegou a minha mão e colocou um pouco mais pra baixo. Eu fiquei assustado e sem saber o que tinha acontecido. Aí tirei a mão dali meio que reagindo e ele começou a fazer um teatro de como se estivesse passando muito mal”, contou.
“Hoje eu percebo que cada um tinha uma pecinha do quebra-cabeças, mas ninguém conseguia juntar. Que era esse psicopata que está aí e que fazia o bem de fechada e por trás fazia o mal”, concluiu.
A origem
Quem primeiro procurou o Ministério Público para denunciar o médium foi a professora Gladiomar Saade de Castilhos. Ela trabalhou 25 anos com o líder espírita e descobriu que o seu filho também foi vítima do homem.
“Me sinto traída, ultrajada. O que eu tenho de melhor, que é a minha fé, me foi roubado. Caiu por Terra a pessoa que eu tinha até como um pai, que eu dedicava a minha vida. Quem sabe tenha sido o homem mais maldoso que eu conheci nos últimos tempos”, desabafou.
Depois da divulgação das primeiras denúncias, mas ainda antes de se tornar réu, Maury Rodrigues da Cruz divulgou um vídeo em que afirma ser inocente. Nas imagens, ele pede “que os irmãos orem por mim”. A defesa do médium deverá ser apresentada em até dez dias.