Tortura, estupro e tatuagem: o drama e o calvário de uma menina de 17 anos que foi abusada durante dois meses por um grupo de 10 homens
Sara Doublier, RFI
Uma onda de reações indignadas inundou as redes sociais do Marrocos após a publicação do calvário de uma adolescente. Khadija, 17 anos, afirmou ter sido sequestrada, estuprada, torturada e tatuada à força durante dois meses por um grupo de 10 homens.
Após a revelação do caso, 12 pessoas foram presas por violência contra menor, estupro e tortura. O julgamento deve começar no próximo dia 6 de setembro.
O caso causou tanta muita reação nas redes sociais quando o escândalo estourou na Internet, com a divulgação do testemunho assustador da jovem Khadija, que, com o rosto escondido, mostrava seus braços e pernas com tatuagens grosseiras e queimaduras de cigarro.
Muito rapidamente, as hashtags #JusticePourKhadija e #WeAllAllKhadija viralizaram nas redes sociais. A reação dos internautas foi variada. De um lado, vários pedidos de prisão dos supostos criminosos, mas também campanhas de apoio aos mesmos.
Médicos e associações ofereceram ajuda à adolescente, como a possibilidade de realizar a eliminação de tatuagens por dermatologistas, acompanhamento psiquiátrico e vaquinhas online. As iniciativas se multiplicaram por parte da população.
“Difamação”
Posteriormente, a versão contraditória das famílias dos suspeitos presos pela polícia marroquina chegou a semear dúvidas nas redes sociais. Parentes e amigos dos acusados deram a sua versão dos fatos, descrevendo uma menina com moral depravada, que se envolvia em prostituição e escarificação por vontade própria.
“Se meu filho realmente tivesse abusado dessa garota, eu o teria levado pessoalmente à delegacia”, diz uma das mães dos réus. Mas, para muitos, a reação das famílias é uma “campanha de difamação [contra a adolescente Khadija]”, como afirmou o internauta Lylou Slass, um marroquino de Casablanca que viajou a Oulad Ayad, no centro de Marrocos, para se encontrar com a garota.
Outros casos
Infelizmente, casos de estupro com garotas menores de idade, muitas vezes filmados e divulgados online, são comuns no Marrocos. Os marroquinos, muito conectados à Internet, agora utilizam as redes sociais para divulgar sua indignação.
A mobilização da opinião pública permitiu, em vários casos, acelerar a prisão dos agressores, mas pode também mudar a lei. Este foi o caso em 2014, após o suicídio de Amina Filali, forçada a se casar com seu estuprador, como permitia então a lei. Desde então, o texto foi revogado.
A mobilização nas redes sociais também liberou a fala dessas jovens abusadas, assediadas, muitas vezes constrangidas pelo tabu social à lei do silêncio. De fato, o número de queixas de estupro registradas no tribunal dobrou no ano passado, um sinal de que as vítimas estão usando cada vez mais a Justiça para fazer valer seus direitos.
“Somos todos Khadija”
Escritores, artistas, sociólogos e personalidades marroquinas publicaram nesta terça-feira (28), no jornal francês “Libération” e em vários meios de comunicação do país africano, em francês e em árabe, um editorial que conclama à reação imediata após o calvário de Khadija.
“Somos todos Khadija”, disseram os intelectuais marroquinos, protestando contra a impunidade dos estupradores e contra o silêncio do Estado. Entre os signatários, detaca-se a presença da escritora Leila Slimani, premiada com o Goncourt na França por seu livro “Chanson Douce”, publicado no Brasil pela editora Tusquets com o título “Canção de Ninar”.
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