O que dizem as pesquisas eleitorais divulgadas 60 dias antes das eleições presidenciais
De 1989 até 2014, pesquisas eleitorais publicadas 60 dias antes dos pleitos raramente cravaram resultado final. Confira o que diz a história
Charles Nisz, Revista Fórum
Estamos a exatos dois meses da eleição presidencial de 2018. O que os sete pleitos anteriores podem nos dizer sobre a relação entre as pesquisas de intenção de voto e os resultados obtidos pelos candidatos nas urnas? Tomando como base os levantamentos feitos pelo Datafolha, maior instituto de pesquisa do país, a resposta a essa pergunta é: 60 dias antes das eleições, é arriscado fazer previsões sobre quem estará no segundo turno se olhamos os levantamentos feitos 8 ou 9 semanas antes do pleito.
1989
Na pesquisa de 23-24 de setembro de 1989, apenas Fernando Collor, do PRN, podia se considerar garantido no segundo turno, pois tinha 33% das intenções de voto. Apesar da tendência de queda (o alagoano chegou a ter 40% e às vésperas da eleição tinha 26% no Datafolha), obteve 30% no dia 15 de novembro. Brizola despontava na briga pelo segundo posto: tinha 15%. Lula, Guilheme Afif Domingos e Paulo Maluf tinham 7% cada. Todos apostavam numa segunda rodada entre Collor e o candidato do PDT, mas Lula deu um sprint final e ganhou do pedetista no photo-finish: 17,1% a 16,5%, uma diferença de apenas 500 mil votos.
1994
O pleito de 1994 foi o mais atípico dos sete disputados desde a redemocratização. O Plano Real foi um divisor de águas para os eleitores. Em abril, Lula chegou ao teto de 40% e FHC tinha apenas 22%. Com o lançamento do Plano, em julho, o eleitor começou a migrar de forma gradual e constante para o tucano.
A pesquisa de 8 de agosto foi o ponto da virada. Pela primeira vez, FHC aparecia à frente de Lula, ainda dentro da margem de erro: 36 x 30. Nas urnas, dois meses depois, um resultado bem diferente: FHC foi eleito com 44% dos votos totais contra 37% dos rivais somados – Lula teve 22%.
1998
A eleição de 1998 trazia um elemento novo: foi a primeira a ser disputada com possibilidade de reeleição. Em 14 de agosto, FHC tinha 42%, Lula tinha 26%, Ciro Gomes, 7%, e Enéas Carneiro, 3%. A indagação era se haveria ou não segundo turno. No dia 4 de outubro, as urnas mostraram que o resultado de uma pesquisa feita 8 semanas poderiam prever o resultado da eleição. Esse foi o único pleito no qual isso ocorreu: FHC obteve 42% dos votos totais e se tornou o primeiro presidente reeleito. Os 25% de Lula foram insuficientes para causar um segundo turno. Ciro e Enéas foram desidratados por FHC e tiveram 9% e 2% dos votos totais, respectivamente.
2002
Na eleição presidencial de 2002, Lula liderou as pesquisas desde o início da corrida eleitoral, por conta das crises econômicas causadas pelo governo tucano. Em 16 de agosto, oito semanas antes do pleito, Lula tinha 37%, Ciro Gomes 27% e Serra lutava pelo terceiro posto com Garotinho: 13% a 12% para o tucano. Em 6 de outubro, Lula marcou 41,5% dos votos totais, no limiar de vencer no primeiro turno. Serra dobrou sua votação, atingiu 21% e foi ao segundo turno com o petista. Garotinho teve 16% e Ciro Gomes 10%. Ou seja, na briga pelo segundo posto, houve uma completa reviravolta em relação ao cenário de agosto.
2006
A eleição de 2006 foi marcada pela repercussão do escândalo do mensalão, sendo praticamente um plebiscito sobre a continuidade ou não do governo Lula. Em 22 de agosto, Lula tinha 37%, Alckmin tinha 13% e Heloisa Helena marcava 7%. 36% dos eleitores ainda estavam indecisos. Num pleito polarizado, Lula acabaria com 45% dos votos válidos e Alckmin obteria 38,9%. O resultado forçou um segundo turno entre PT e PSDB. Na segunda rodada, um fato inédito nas eleições brasileiras: Alckmin teve menos votos no segundo turno que no primeiro.
2010
No pleito de 2010, Serra vinha liderando as pesquisas com folga. O PT apostava numa candidata que jamais havia disputado uma eleição – Dilma Rousseff. Um ano antes da eleição, Serra tinha 39% contra 19% da petista. A pesquisa de 9 de agosto foi o início da virada de Dilma. Ela tinha 41% contra 33% de Serra e 10% de Marina Silva. No dia 3 de outubro, Dilma obteve 42% dos votos totais, contra 30% de Serra 17% de Marina Silva. Apesar de Serra forçar o segundo turno, não foi capaz de deter a arrancada da petista. A despeito de Dilma ter dobrado sua intenção de votos em 12 meses, o resultado de outubro foi relativamente similar à fotografia obtida em agosto.
2014
Assim como em 2006, o pleito de 2014 foi marcado por um fato atípico: a morte de Eduardo Campos e sua substituição por Marina Silva alterou o quadro eleitoral de maneira forte. Na primeira pesquisa com Dilma, Aécio e Marina, realizada em 14 de agosto, eles marcavam 35%, 25% e 20% respectivamente. Marina chegou a empatar com Dilma no fim de agosto. No entanto, quando as urnas foram contabilizadas, tivemos a sexta eleição seguida marcada pela polarização entre PT e PSDB. Dilma obteve 37% dos votos totais, Aécio marcou 30% e Marina teve 20%. Muitos votos migraram de Marina para Aécio, numa movimentação de “voto útil”.
Em resumo, das 7 eleições disputadas após a democratização nas de 1998, 2006 e 2014, os resultados de agosto eram bastante próximos dos resultados verificados nas urnas. Mas em 1989, 1994, 2002 e 2010, houve viradas no pleito – ou causadas pelo horário eleitoral ou por fatos atípicos, como o Plano Real, em 1994. Das 7 eleições, a mais similar à de 2018 é, sem dúvida a de 1989: fragmentação política, crise econômica e mais de 10 candidatos. E foi justamente nessa na qual aconteceram mais mudanças: o fenômeno Collor, a arrancada de Lula, a queda de Brizola aos 45 do segundo tempo e a derrota de nomes tradicionais como Maluf, Covas e Ulysses.
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