Assassinato de Marielle Franco é o mais misterioso em décadas
Levantamento mostra que, entre crimes envolvendo figuras públicas ou que ganharam repercussão nacional, o assassinato de Marielle Franco já é, de longe, o que mais se arrasta sem resolução
Gustavo Gollo, Jornal GGN
O misterioso silêncio dos investigadores e a completa ausência de informações, 180 dias após o assassinato de Marielle e Anderson, nos levam a comparar esse tempo com o que foi necessário para o esclarecimento de crimes similares. O quadro acima revela então um enorme disparate, suficiente para se clamar enfaticamente por esclarecimentos, não só com relação ao crime, mas com respeito ao prolongamento do prazo, que nos faz suspeitar da cumplicidade de quem quer que esteja causando o enorme atraso.
Não bastasse a estupefação relativa a tamanha demora, o interventor da segurança no Rio veio a público prometer que até o fim do ano o assassinato de Marielle Franco será desvendado. Comparando-se os prazos acima, conclui-se que a “promessa” constitui, de fato, uma ameaça. Sabemos que em seguida vem natal, ano novo, carnaval… e a investigação sigilosa irá prosseguindo indefinidamente, empurrada para cada vez mais longe, sem nunca ter fim. A insinuação já havia sido ensaiada pelo ministro da segurança pública, que também parece empenhado em abafar o caso.
O que poderia justificar o estapafúrdio pedido de prazo adicional, muito maior que o necessário para a investigação completa de todos os outros casos análogos?
Tudo indica que já se sabe muito sobre o crime – talvez tudo. Uma justificativa, então, para o impedimento da divulgação da solução seria a necessidade de evitar que a bomba exploda antes das eleições. A possibilidade catastrófica de que candidatos estejam envolvidos com os matadores – e de que já tenham utilizado seus serviços –, poderia tornar a divulgação excessivamente constrangedora.
Ainda mais preocupante, contudo, por estarem claramente documentadas, são as fortíssimas suspeitas relativas à cumplicidade de meios de comunicação com os assassinos – reveladas por um sistemático empenho em acobertar e desviar para bois de piranha, todas as suspeições direcionados aos assassinos –, fato que agrega ainda mais mistério ao caso.
Ora, pensará o leitor desprevenido, mas não será um completo absurdo imaginar a cumplicidade entre meios de comunicação e os assassinos de Marielle? O que poderia justificar tão estranha suspeita?
As perguntas nos levam diretamente ao único vazamento confiável ocorrido durante os 6 meses de investigações, e ao “Escritório do Crime”.
“Escritório do Crime”?, perguntará o leitor, agora francamente convicto do sensacionalismo embutido na informação.
Sim, “Escritório do Crime”, conforme o sensacionalismo estampado em O Globo.
A notícia bomba explodiu, exatamente, onde era menos esperada, publicada pelo jornal que tão esmeradamente se empenhava em encobrir os assassinos!
A notícia veiculada nas páginas de O Globo atribui o assassinato a um bando de matadores profissionais, formado por policiais e ex-policiais altamente treinados, conhecido como “Escritório do Crime”, que teria cobrado R$ 200 mil pelo assassinato de Marielle, conforme tabela de preço estipulada pelos facínoras – notícia que vem sendo abafada desde sua publicação.
Estranhamente, tendo divulgado minúcias sobre o bando – em notícia que pode ser confundida com um merchandising veiculado para oferecer os serviços e promover a eficiência e discrição dos assassinos –, como os adicionais relativos a despesas com deslocamentos, em caso de assassinatos encomendados para localidades distantes, condição que encarece o preço do serviço, O Globo se calou!
Desse modo, O Globo conseguiu superar a perplexidade causada pela notícia bomba, gerando estupefação ainda maior com o silêncio subsequente! Mas, perguntemo-nos aturdidos: o que teria levado um veículo de comunicação a se calar sobre um furo de reportagem tão estarrecedor, referente a notícia de interesse mundial?
A primeira hipótese a se aventar, a mais amena, seria a de uma brincadeirinha de péssiomo gosto. O Globo teria, simplesmente, resolvido trollar seus leitores, inventando uma mentira descarada com o intuito puro e simples de confundi-los, de desnorteá-los! Em tal caso, no entanto, teria convindo, gravíssima e obviamente, que o jornal tivesse oferecido, em seguida, uma retratação pública desculpando-se pelo deboche e escárnio para com seus leitores.
Mas só houve silêncio. (De fato, a TV Globo jogou fumaça sobre a notícia no dia em que ela foi veiculada pelo jornal, tentando confundir as informações).
Da notícia veiculada com tão tamanha familiaridade e detalhes em O Globo, no entanto, sabe-se apenas que resultou, no dia seguinte, em uma revoada de promotores, e mais nada.
O mistério, e as desconfianças mais macabras, no entanto, decorrem do silêncio subsequente à bomba.
A suspeita óbvia, levantada pelo abafamento dessa e de outras notícias relativas a assassinatos, é de que as organizações Globo seriam a própria “Empresa do Crime” da qual o “Escritório do Crime” seria o braço armado; suspeita que, caso infundada, seria banalmente descartada – dissolvendo o fundamento de sua origem –, com o esclarecimento da intrigante notícia que fundamenta o grosso das suspeitas. Em outras palavras, caso O Globo esclarecesse a notícia divulgada por ele mesmo, esvaziaria todas as suspeitas direcionadas à própria organização, pura e simplesmente.
O silêncio de O Globo e da TV Globo sobre a notícia bomba, no entanto, alimenta fortemente o mistério e as suspeitas sobre as organizações que, desde o assassinato, têm se empenhado, sistematicamente, em confundir o noticiário sobre o caso, lançando cortinas de fumaça e desviando o foco das atenções todas as vezes em que alguma suspeita recai sobre policiais.
As omissões sistemáticas direcionadas a assassinatos cometidos por policiais sugerem, escandalosamente, o apadrinhamento do bando de assassinos profissionais pelo maior meio de comunicação do país.
O que o silêncio da Globo indica é que a revelação do “Escritório do Crime” exporá uma gigantesca e brutal “Empresa do Crime”.
19 de agosto, O Globo, pág.14 e Extra, pág.10:
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