O ataque fatal a um candidato na Colômbia que inaugurou um período de guerra
Ataque a candidatos colocou a Colômbia em uma guerra que ainda não acabou. Durante anos liberais e conservadores entraram em uma espiral de perseguições e assassinatos que acabaram com a vida de mais de cem mil colombianos
Em 9 de abril de 1948, Jorge Eliécer Gaitán saía de seu escritório, em Bogotá, quando foi morto com três tiros a queima-roupa. Pré-candidato à presidência pelo Partido Liberal, mais à esquerda, era considerado um dos favoritos: com discurso afiado, reunia multidões ao seu redor e se apresentava como homem do povo.
Sua morte inaugurou um dos capítulos mais tristes da história da Colômbia e da América Latina, conhecido no país como La Violencia: durante cerca de oito anos (para alguns estudiosos, mais), liberais e conservadores entraram em uma espiral de perseguições e assassinatos que acabaram com a vida de mais de cem mil colombianos.
“O ataque a candidatos colocou a Colômbia no meio de uma guerra que ainda não acabou“, disse Victoria Sandino, ex-guerrilheira senadora pelo partido da Farc, em entrevista ao UOL.
História se repete
Ao comentar o ataque contra Jair Bolsonaro (PSL) na tarde desta quinta-feira (6), Sandino repetiu aquilo que, no país vizinho, virou um mantra entre aqueles que defendiam os Acordos de Paz:
“Mesmo que seja um candidato com o qual você não tem afinidade, é parte da democracia não só respeitá-lo, mas protegê-lo“.
Sem garantias de que poderiam participar do jogo político em segurança, uma parcela da sociedade colombiana se radicalizou. Eles haviam sido excluídos do pacto firmado entre liberais e conservadores em 1958 para por fim aos enfrentamentos – o que, ironicamente, deu origem uma nova onda de atentados.
Foi nesse contexto que nasceram as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), nos anos 1960.
O grupo só voltou oficialmente à cena política este ano, após o acordo assinado com o ex-presidente Juan Manuel Santos. “É melhor ter as Farc fazendo campanha do que matando“, disse o mandatário ao deixar o poder.
“Um ataque a um candidato é preocupante e lamentável. Na Colômbia, as mortes começaram com os atentados e chegaram aos eleitores. É um lembrete de que as campanhas eleitorais, em todo o continente, precisam de garantias“, disse Sandino.
Estima-se que mais de 200 mil colombianos morreram nos conflitos armados dos últimos 50 anos. Além de Gaitán, o país viu a morte de 5.000 membros do partido de esquerda Unión Patriótica, nos anos 1980, e do presidenciável Luis Carlos Galán em 1989.
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Bruno Aragaki, UOL