Ganhando ou perdendo nas eleições que se apresentam em novembro, Beto já é uma realidade
Lucien de Campos*, Pragmatismo Político
É “Beto”, assim mesmo. Apelido afetivo de origem espanhola e portuguesa. Um toque latino em um jovem político de origem irlandesa. Um toque latino em um candidato democrata ao Senado norte-americano pelo estado do Texas. Aliás, um pequeno toque latino justamente no Texas, no lugar mais improvável, o baluarte conservador do Partido Republicano.
É Robert O’Rourke, natural de El Paso, cidade com população de origem hispânica. Na terra do petróleo, da música country e dos famosos cowboys com sotaque diferenciado, Beto parece quebrar tal estigma. Fluente em espanhol e apaixonado pelo punk (em sua juventude chegou a ser baixista de uma banda), Beto já é considerado um fenômeno pela mídia local e nacional. Transparece uma leveza similar a John Kennedy. É jovial, autêntico e digno a ser considerado como perfeito antídoto da esquerda para a era Trump.
Beto talvez represente um processo de subversão em novembro. Isto porque Ted Cruz, rival de Trump nas primárias do Partido Republicano na última corrida à Casa Branca, aparentava ter um caminho sem percalços para a sua reeleição de meio de mandato. Porém, Ted começa a ver o seu “quintal” ameaçado. A mídia tem retratado o desespero dos republicanos face ao fenômeno Beto. Fecharam os olhos e hoje mordem os lábios de nervosismo, numa busca desesperada para ressuscitar Ted Cruz. Seria vexatório perder o Texas. Uma grande derrota conservadora difícil para Trump engolir, especialmente quando a atual vantagem republicana no Senado é mínima, com 51 a 49.
O crescente prestígio de Beto está nas sondagens. Ele tem adquirido uma considerável margem das intenções de votos. É um personagem que prende o imaginário americano, um devaneio entre Kennedy e Obama. A propósito, se vencer as eleições para o senado, o percurso de Beto se assemelha ainda mais com o de Obama, quando subverteu a lógica partidária ao derrotar a poderosa Hillary Clinton nas primárias de 2008. Além disto, em matéria de curiosidade, Obama tomou posse como Presidente com 47 anos através de uma campanha política inovadora, composta por jovens voluntários. Beto tem 45 anos, em dois anos será a próxima corrida presidencial, e sua atual equipe também conta com jovens voluntários.
Nesse meio-tempo, Donald Trump parece disposto a evitar o possível desastre. Apesar dos desafetos com Ted Cruz, o Presidente já confirmou sua visita ao Texas para Outubro. Revela ser uma tentativa para eliminar a ameaça enquanto há tempo, pois se conseguir uma cadeira ao Senado, Beto se fortalece como o principal adversário de Trump para 2020.
O problema já não está apenas no Texas. Chegou em Washington, se espalhando à nível nacional. Seria este o perfeito xeque-mate democrata, estrategicamente jogado sob um tabuleiro texano pintado em vermelho republicano.
No atual cenário que se apresenta, o antigo baixista é carismático e próximo da sociedade civil. Beto não tem feito apenas comícios tradicionais. Prefere também fazer encontros diretos com a população através de reuniões comunitárias, percorrendo todas as regiões do estado, conhecendo as necessidades sociais. Beto parece simplesmente abordar sobre os assuntos políticos como se estivesse falando com amigos.
Recusando-se em aceitar financiamento das corporações, o candidato ao Senado é aplaudido em pé. Sua agenda política é repleta por assuntos cruciais para a população local e mundial. Navega entre a melhoria dos salários dos professores, da saúde aos idosos e do ajuste da aposentadoria, chegando na relevância da imprensa livre e das alterações climáticas. O candidato diz o pensa sobre a saúde e as questões de imigração. Já em relação aos assuntos de política externa, ataca severamente as ações de Trump no cenário geopolítico. Em seus discursos, afirma que a maldade, o racismo e o ódio estão dominando o diálogo nacional. Seu objetivo, então, é inspirar a população em busca de uma resposta ambiciosa e generosa. Sua campanha é transmitida ao vivo pelas redes sociais, sem qualquer corte ou embelezamento digital.
Ganhando ou perdendo nas eleições que se apresentam em novembro, Beto já é uma realidade. As doações sociais para a sua campanha já alcançaram os incríveis 23 milhões de dólares. Os texanos parecem confiar no candidato, pois contam suas histórias e, o melhor, doam dinheiro.
*Lucien de Campos é doutorando em Relações Internacionais pela Universidade de Lisboa e colaborador em Pragmatismo Político.
Fonte: “Beto” O’Rourke, a “coisa” mais parecida com Obama
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