Em uma comédia de erros, institutos Ibope e Datafolha trincaram sua credibilidade e ainda favoreceram Lula
Kiko Nogueira, DCM
Ibope e Datafolha deram um tiro no pé ao não divulgar o resultado da última pesquisa.
O Ibope, encomendado por Estadão e Globo, deveria ir ao ar na noite de terça-feira no Jornal Nacional.
Saiba mais: A pesquisa Ibope para a eleição presidencial que não foi divulgada
Em nota oficial, informou que fez uma consulta ao TSE sobre a presença de Lula no questionário.
O motivo alegado era a decisão de indeferir o registro da candidatura do ex-presidente.
Haddad estava num outro cenário.
O site Poder360 narrou a comédia de erros:
Ocorre que nas primeiras horas da madrugada de 1º de setembro de 2018 o TSE decidiu rejeitar o registro da candidatura de Lula.
Por conta própria, o Ibope resolveu não aplicar a pergunta com o cenário em que Lula era incluído como candidato. A empresa soltou uma nota com 1 texto ambíguo ontem à noite, tentando explicar o ocorrido (eis a íntegra). (…)
Em sua explicação, o Ibope afirma ter consultado o TSE a respeito de sua decisão de não pesquisar o nome de Lula – ainda que o cenário constasse do questionário registrado pela empresa na Justiça Eleitoral.
“Até o momento, porém, o TSE não se manifestou sobre a questão, razão pela qual, em respeito à lei, o Ibope não liberou a pesquisa para divulgação. Tão logo o TSE se pronuncie a respeito, o Ibope informará o público e, consoante com a decisão da Corte, liberará ou não os resultados”, diz a nota da empresa de pesquisas, divulgada ontem à noite.
Há várias dúvidas que ficam para análise do TSE. A primeira diz respeito à data da realização da pesquisa.
Pela nota do Ibope, é possível inferir que a empresa teria começado a fazer seu levantamento apenas no sábado, 1º de setembro de 2018. Foi quando decidiu por conta própria não aplicar o questionário completo (excluindo o cenário com o ex-presidente Lula como candidato).
A nota da empresa diz que a decisão sobre retirar Lula se deu “na manhã de sábado, antes da realização da pesquisa”. Ocorre que no registro no TSE está explicitamente informado que o estudo teria como “data de início da pesquisa” o dia 29 de agosto e “término da pesquisa” em 4 de setembro.
Já o Datafolha cancelou por conta própria a pesquisa porque ela foi registrada no tribunal no dia 31 de agosto e trazia o ex-presidente.
A falta de transparência está gerando todo tipo de especulação.
É evidente que Lula aparece em primeiro — mas com quanto? 51%? 60%?
Alckmin morreu de vez? Bolsonaro despencou?
Haddad em segundo?
O medo de Lula provoca esses atropelos na democracia. Mais uma vez, ele sai fortalecido diante de outra manobra.
Tão certo quanto o sol nascerá amanhã, os números vão vazar cedo ou tarde.
Até lá, a credibilidade de Ibope e Datafolha estará como a da mídia e a da Justiça brasileiras, perto de 1 ponto na margem de erro.
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