Elas sim. Ele não.
As mulheres assumem o protagonismo na luta contra o fascismo
João Elter Borges Miranda*, Pragmatismo Político
O general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), disse nesta segunda-feira, 17, que famílias pobres “onde não há pai e avô, mas, sim, mãe e avó” são “fábricas de desajustados” que fornecem mão de obra ao narcotráfico.
“A partir do momento em que a família é dissociada, surgem os problemas sociais. Atacam eminentemente nas áreas carentes, onde não há pai e avô, mas, sim, mãe e avó, por isso é fábrica de elementos desajustados que tendem a ingressar nessas narcoquadrilhas”, disse ele, em São Paulo, durante palestra a empresários.
Bolsonaro, por sua vez, defende que mulher tem que receber salário menor, porque pode engravidar. Ele foi capaz de defender a redução da licença maternidade, de 120 dias, um direito garantido pela Constituição de 1988. Apesar de ter casa própria, recebe auxílio-moradia e diz que usava o dinheiro “para comer gente”.
Em 2014, Bolsonaro afirmou que Maria do Rosário não merece ser estuprada porque ele a considera “muito feia”.
A lista de monstruosidades semânticas é longa. Bolsonaro e seus aliados adotam a violência como modus operandi. “Se querem usar a violência, os profissionais da violência somos nós”, disse Mourão à revista Crusoé, após o ataque à faca contra o candidato em Minas, em 6 de setembro. Na mesma linha, disse Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do candidato: “Tem que botar um cara faca na caveira para ser vice”. Botaram.
No dia seguinte ao atentado, enquanto Bolsonaro estava na cama de um hospital do SUS, sistema público de saúde que ele não se esforça para defender, o seu vice “faca na caveira” enalteceu o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos mais conhecidos assassinos e torturadores da ditadura civil-militar (1964-85).
Sempre vale lembrar um dos vários casos de tortura executado por Brilhante Ustra. Um deles é relatado pela vítima, Amélia Teles, presa nos porões do regime. Amelinha, como é mais conhecida, conta que o torturador levou os filhos dela para que vissem a mãe torturada. Seus filhos tinham quatro e cinco anos e viram a mãe nua, vomitada e urinada, sentada na “cadeira do dragão” (instrumento de tortura utilizado na ditadura parecido com uma cadeira em que a pessoa era colocada sentada e tinha os pulsos amarrados e sofria choques em diversas partes do corpo com fios elétricos). A menina perguntou: “Mãe, por que você está azul?”. Estava assim por conta dos choques que Brilhante Ustra infringiu em várias partes do corpo dela, dentre elas nos seios e na vagina. É esse o homem homenageado por Bolsonaro e seu vice, o que revela a faceta mais drástica deles e de seus eleitores.
Essas e outras manifestações da chapa Bolsonaro-Mourão são, no mínimo, estarrecedoras. Revelam que na lógica de guerra perpetrada por eles o inimigo não é outro exército, mas a parcela da população brasileira que discorda deles. Dessa forma, Bolsonaro e seus aliados destilam ódio, alimentam a cultura de estupro e atacam mulheres, negros e LGBT.
Não à toa a rejeição do eleitorado feminino ao candidato, refletida em todas as pesquisas, chegou a 49% no Datafolha do dia 10 de setembro. Além disso, materializou-se nos últimos dias em um grupo massivo de debate político no Facebook. O “Mulheres Unidas contra Bolsonaro” recebe milhares de pedidos de participação por minuto e conta com quase dois milhões de usuárias da rede social.
No dia 29 deste mês, as manifestações de repúdio ao Bolsonaro irão das ruas de bytes para as de asfalto. Em muitas cidades do país foram marcados protestos nesse dia e nos decorrentes.
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Na cidade onde moro, conhecida como a capital da “reaçolândia”, haverá também protesto contra o avanço do fascismo no país. Será a I Marcha Antifascista da cidade, organizado pela Frente Ampla Antifascista (Antifa). A Frente é uma das inúmeras organizações antifas pelo mundo, composta por uma gente boa e de garra com a coragem de lutar contra o avanço do fascismo.
Essa luta, que conta com grande protagonismo das mulheres, é fundamental, já que, se o mundo vive uma onda ultraconservadora, reacionária e de extrema-direita, o nosso país parece estar na crista dela. Tudo indica que as cruzadas dos “profissionais (e amadores) da violência” se tornarão cada vez mais frequentes Brasil afora – em novas e ferozes versões. Com a chegada do dia das votações, a temperatura da campanha sobe intensamente e a liberdade ideológica e de expressão determinada pela Constituição está sendo ainda mais solapada na prática do dia a dia.
Reflexo disso é o fato de o grupo “Mulheres Unidas contra Bolsonaro” estar sendo alvo de uma escalada de ataques cibernéticos, com casos de ameaça direta às moderadoras, troca do nome da mobilização, mudado para um de teor a favor do militar reformado de ultradireita, entre outros ataques.
Mas, organizadas, as mulheres avançam. A campanha “ele não” está tomando o país. Como bem lembrou uma camarada no facebook, a Revolução Russa e a Greve Geral de 1917/Brasil começaram com as mulheres; e agora a derrota do Bolsonaro também.
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*João Elter Borges Miranda é professor de história formado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa e milita na Frente Povo Sem Medo, Frente Ampla Antifascista e Intersindical.
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