Foi revelada a verdadeira identidade (e a origem) da mulher exposta na propaganda eleitoral de Jair Bolsonaro como "brasileira negra e pobre". Autor do vídeo original comenta a farsa: "Nunca passei por isso em 11 anos de carreira. Me sinto mal e sinto que fui roubado"
BBC News
A mulher descrita como “negra e de família pobre” em um vídeo da campanha de Jair Bolsonaro (PSL) é na verdade canadense e trabalha como executiva na coordenação financeira de uma multinacional.
Filho do presidenciável, o deputado federal Eduardo Bolsonaro publicou o vídeo em seu perfil e o divulgou para mais de 500 mil seguidores.
Junto a um link para o vídeo, Eduardo Bolsonaro escreveu no Twitter: “Somente a verdade nos liberta. Quem pede tudo ao Estado, tudo lhe é retirado, inclusive a liberdade”.
“Sim, sou mulher negra e vinda de família pobre. Mas não passei procuração para que ninguém fale em meu nome. Há muitos (anos) me libertei do vitimismo que ainda insistem em me colocar nos ombros”, diz a narração do vídeo.
“Meu voto é Bolsonaro”, continua o texto do vídeo.
A mulher retratada no vídeo mora em Toronto, no Canadá, e gravou o material em 2011, junto a uma série de outros filmes produzidos por um diretor também canadense especializado em criar conteúdo para bancos de imagens.
A ex-atriz tem origem etíope e um perfil bastante diferente daquele descrito na narração usada junto à sua imagem no vídeo.
A publicação foi um dos temas mais comentados no Twitter nesta terça-feira — usuários criticaram a divulgação de imagens de uma estrangeira apresentada como brasileira e pobre.
Autor do vídeo original
O autor do vídeo original diz nunca ter passado por situação semelhante em seus 11 anos de carreira.
“É bastante triste. Eu sou completamente contra qualquer politica de divisão, de ódio. Me sinto mal e sinto que fui roubado”, diz Robert Howard.
“E não me parece muito patriótico usar as imagens de uma estrangeira, sem prévia autorização, em um vídeo que supostamente fala pelas mulheres negras brasileiras”, continua Howard, que se descreve como “um cara moderado, liberal, opositor de qualquer extremismo”.
Howard conta que foi pego de surpresa com uma enxurrada de mensagens relacionadas aos vídeos, gravados há sete anos. Além das imagens com roupas de enfermeira usadas por apoiadores de Bolsonaro, a mulher também foi filmada interpretando uma operadora de telemarketing e uma cantora.
O candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB, João Doria, passou por situação semelhante neste mês, quando foi criticado por usar imagens de escolas e crianças russas e americanas para divulgar suas ações como prefeito de São Paulo.
A ShutterStock, plataforma onde o vídeo foi hospedado, se posicionou pelo Twitter, afirmando que “a área jurídica está neste momento investigando o problema” e tomará “as medidas necessárias”.
O canadense autor do vídeo destacou que o uso de imagens para campanhas políticas é proibido tanto pelo autor quanto pelo banco de imagens.
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