Os detalhes da cirurgia de Jair Bolsonaro após o atentado
Antes da cirurgia, aos médicos, Jair Bolsonaro ironizou seu algoz: “Esse demônio não sabia fazer as coisas. Nem pegou direito, não vai dar nada”
Revista Piauí
“Esse demônio não sabia fazer essas coisas, não, nem pegou direito. Não vai dar nada”, disse um calmo e muito pálido Jair Bolsonaro aos médicos que o acompanhavam, poucos minutos antes de entrar no centro cirúrgico da Santa Casa de Juiz de Fora, onde passaria por uma operação de quase quatro horas para estancar uma hemorragia interna e suturar múltiplas lesões no intestino.
O candidato a presidente do PSL dera entrada na emergência do hospital, no centro de Juiz de Fora, às 15h45, com uma perfuração no abdômen, causada pela facada que recebeu enquanto fazia campanha a poucos quilômetros dali.
Por volta das 16 horas, o candidato tomou o elevador rumo ao 14o andar do edifício, onde fica o centro cirúrgico. Ele usava uma camiseta de malha leve, amarela, com inscrições em verde e com a perfuração no lado direito do abdômen.
A chegada de Bolsonaro, de maca, cercado por assessores e policiais federais que o protegiam, provocou grande tumulto no hospital, tanto de frequentadores como de médicos, que, preocupados e curiosos, correram para atender a emergência.
A mobilização foi tal que, na sala de cirurgia, esperando por Bolsonaro, havia um número incomum de médicos para esse tipo de procedimento – quatro cirurgiões do aparelho digestivo, um cirurgião vascular e quatro anestesistas.
Em meio ao tumulto, alguém sacou uma foto do deputado deitado na mesa de cirurgia, já sedado e com os fios de monitoramento colados ao peito, enquanto os enfermeiros o preparavam para a intervenção. Enviada pelo WhatsApp, a foto viralizou imediatamente, o que provocou estresse e muita tensão nos corredores em volta do centro cirúrgico.
Indignados com o vazamento, os policiais que haviam levado Bolsonaro até lá revistaram quem encontraram pela frente, recolhendo os celulares de médicos, enfermeiras e funcionários.
Também bloquearam o acesso ao centro cirúrgico, que, por decisão da administração do hospital, ficou fechado até para outras operações durante pelo menos 40 minutos.
A palidez de Bolsonaro era o indício mais visível de uma forte hipotensão, ou pressão baixa, que foi domada com injeções de noradrenalina, soro e transfusões de plasma.
Assim que apresentou condições mínimas de ser operado, o ex-capitão teve a barriga aberta por um corte que ia de um ponto logo abaixo do esterno até um pouco abaixo do umbigo.
Embora o furo provocado pela facada fosse pequeno, a abertura tão grande era necessária para checar o tamanho e a extensão das lesões, que se revelaram profundas – a faca usada pelo agressor tinha mais de 20 centímetros, e o golpe foi forte.
A tomografia e o ultrassom feitos antes da operação haviam indicado a possibilidade de haver lesões no intestino e também no fígado. Na sala de cirurgia, a hipótese de lesão hepática foi afastada, mas o intestino estava bem comprometido.
Havia lesão na artéria mesentérica, que leva sangue para o intestino. Os médicos encontraram três pontos de corte no intestino delgado e um outro no intestino grosso. Suturaram os hematomas, sugando e limpando o sangue, e depois costuraram as partes danificadas.
Controlados os danos maiores, os médicos decidiram fazer uma ileostomia, procedimento em que o intestino delgado fica ligado diretamente a uma bolsa, fora do corpo, para impedir que gases e fezes cheguem ao intestino grosso, o que aumentaria o risco de infecção.
Apesar da tensão e da gravidade dos ferimentos – o ex-capitão correu risco de morte até o final – tudo saiu como esperado, para os médicos. Durante a cirurgia, o candidato recebeu duas bolsas de sangue de 300 mililitros. Ao final da operação, mais de 300 pontos haviam sido dados dentro e fora do abdômen de Bolsonaro.
Enquanto esperavam no corredor, os policiais federais que costumam fazer a escolta do candidato do PSL choravam e manifestavam sua revolta com o atentado.
O filho mais novo de Bolsonaro, Carlos, que é vereador no Rio de Janeiro, manteve-se de pé, em silêncio, sem demonstrar desespero ou pânico. E assim continuou, mesmo quando a enfermeira do centro cirúrgico veio lhe prestar solidariedade.
A tentativa de proteger o sigilo da operação acabou frustrada. Informações em tempo real da cirurgia, algumas verdadeiras e outras exageradas, pulavam nos celulares do Brasil o tempo todo.
Às 20 horas, Bolsonaro foi transferido para a UTI do hospital, sedado e entubado. Não havia previsão de que algum parente passasse a noite com ele. Àquela altura, médicos do Sírio Libanês já estavam a caminho da Santa Casa. A idéia é transferir Bolsonaro para o hospital paulista o mais rapidamente possível.