Brasileiros que conviveram com ex-mulher de Bolsonaro confirmam documento e garantem que ela era ameaçada de morte. Eles dizem não entender por que ela "mudou de ideia". Mas a matemática é simples: R$ 183 mil por mês. Hoje, Ana é candidata a deputada federal e usa o nome do ex-marido para se eleger
No início da semana, uma reportagem da Folha de S.Paulo publicou um documento do Itamaraty que comprova que a ex-mulher do candidato Jair Bolsonaro (PSL) era ameaçada de morte por ele.
O episódio se passou em julho de 2011, quando Ana Cristina, que tem a guarda de Jair Renan, de cerca de 12 anos de idade, embarcou com o menino para Oslo, na Noruega.
Segundo o documento, Ana Cristina Valle revelou ao Itamaraty que deixou o Brasil por conta das ameaças. O registro diplomático informa que as declarações foram feitas ao vice-cônsul da Noruega.
No entanto, horas depois da repercussão da matéria, a mulher veio à público afirmar que tudo aquilo era mentira. Ou seja, a mulher desmentiu o que ela própria havia dito em documento oficial.
Testemunhas
Nesta quinta-feira (27), cinco brasileiros que conviveram com Ana na Noruega confirmam que ela realmente foi ameaçada de morte por Jair Bolsonaro.
Eles decidiram falar sobre o caso ao jornal Folha de S.Paulo. Quatro deles, porém, pediram para ter a identidade preservada por medo de represálias e perseguições.
Simone Afonso, única que aceitou se identificar, diz que conheceu Ana Cristina em 2009. “Ela tentou asilo político aqui, o que foi negado pelo departamento de imigração local. Dizia que estava sendo ameaçada pelo ex-marido, o Jair Bolsonaro, que ele havia tirado a guarda do filho dela”, contou.
“Todo mundo aqui em Oslo sabe que o discurso dela era: estou aqui por medo do meu ex-marido”, continuou. “E se você quiser, a gente pode fazer uma lista de pessoas daqui que sabem dessa história”.
“Minha cabeça vale R$ 50 mil”
As outras quatro testemunhas relatam o caso da mesma forma. Segundo elas, Ana Valle, como ela é conhecida por lá, chegou à Noruega muito fragilizada e se aproximou de um grupo de brasileiros.
Segundo os relatos dos brasileiros, ela costumava repetir que a “minha cabeça vale R$ 50 mil”. Como não tinha fluência na língua local e falava com dificuldade o inglês, Ana dependia das pessoas que acabara de conhecer.
Interesses
As testemunhas contam que não entendem o apoio repentino de Ana ao ex-marido, de quem ela dizia que tinha medo. Muitos dos que conviveram com Ana na Noruega foram até as redes sociais dela para questioná-la.
Eles dizem que quem conviveu com ela sabem da história verdadeira. “Por que, de repente, ela está apoiando a candidatura dele?”, pergunta Simone Afonso. “Ninguém que é ameaçado de morte quer depois carregar o sobrenome dessa pessoa.”
A verdade é que Ana é candidata a deputada federal nas eleições de 2018. Na corrida eleitoral, com a autorização do presidenciável, ela mudou oficialmente de nome e passou a ser chamada de “Ana Bolsonaro”, numa óbvia estratégia de usar o nome do ex-marido, que goza de alta popularidade, para se eleger.
O salário mensal de um deputado federal no Brasil é de R$ 33,7 mil. Além disso, um deputado recebe R$ 40 mil por mês de cota parlamentar, mais R$ 106 mil de verba destinada à contratação de pessoal, R$ 4,2 mil de auxílio moradia, entre outros benefícios que podem ser vistos aqui.
De olho nesses R$ 183 mil mensais, ‘Ana Bolsonaro’ está disposta a esquecer tudo o que passou. E toda a trama parece ter sido bem acordada entre as partes.
Neste momento, as revelações da conturbada relação que teve com o ex-marido em um passado recente contrariam seus atuais interesses.
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