“Paulo Freire é um câncer, servidores públicos são inúteis”. Funcionário de um dos colégios particulares mais requisitados do ES, professor de História vira notícia após aparecer fantasiado de oficial nazista
O professor Gabriel Tebaldi, que virou notícia após aparecer fantasiado de oficial nazista durante uma aula de História, é mais uma das crias do jornalismo de guerra operado pela grande mídia contra o pensamento esquerdista.
Funcionário de um dos colégios particulares mais requisitados de Vitória, Tebaldi, 25 anos, atua também como colunista do jornal A Gazeta. Aos 17 anos ganhou o espaço no jornal mais tradicional do Espírito Santo e junto veio a aura de garoto prodígio.
As palavras que ele deixou no jornal, contudo, são as melhores provas de que ele está lá mais pela aversão à esquerda que pelos talentos na escrita. Se fosse possível analisar o código genético de uma pessoa a partir dos seus textos, o de Tebaldi indicaria algo parecido com o cruzamento de Joice Hasselmann com Diogo Mainardi.
Para Tebaldi, o funcionalismo público é “uma casta de privilegiados, financeiramente imunes a crises”, conforme escreveu no texto em que atribui o incêndio no Museu Nacional ao “aparelhamento do Estado”. Em outro artigo, faz uma cantilena contra os servidores federais. Sem mencionar os privilégios do Judiciário, chama a classe compreendida por profissionais como médicos, policiais, professores, técnicos administrativos, assistentes sociais, entre outros quadros essenciais para o funcionamento da sociedade, de “elite de inúteis”.
O pensamento de Paulo Freire, que aqui dispensa apresentação, para o rapaz é um “câncer”.
“O desserviço prestado por Paulo Freire à nação poderia ser aqui abordado em centenas de artigos, mas um recorte faço: a visão de Freire sobre o trabalho, ‘símbolo de exploração’, ‘ato de dominação’, ‘opressão a ser rompida pela liberdade’. Urge desconstruir tal aberração em nossa juventude!”.
Sim, ele usa ponto de exclamação e se refere aos jovens como se fosse um senhor na casa dos 80 anos.
Mas o uso duvidoso da pontuação e o estilo senhoril são detalhes inofensivos da prosa do rapaz. Por outro lado, o texto publicado apenas dois dias após o assassinato da vereadora Marielle Franco oferece uma pequena porém eloquente amostra do seu caráter.
No artigo, ele criticou a comoção provocada pelo crime, comparada ao suposto silêncio em relação à morte de um empresário por latrocínio na mesma época ou diante das mortes de policiais.
“Se a dor pela morte de Marielle é humanitária, por que o silêncio diário? Se a preocupação é pelos direitos humanos, por que Cláudio ou os PMs não são motivos de protesto? A resposta é simples, as lágrimas aqui são seletivas, ideias valem mais que vidas e a nata intelectual só reage quando lhe dói o calo”, escreveu, com uma linha de pensamento digna do “tiozão do pavê” viciado em Whatsapp.
Se a leitora ou leitor percebeu traços de misoginia na opinião de Tebaldi sobre a morte de Marielle, espere para ler o que ele escreveu a respeito do habeas corpus coletivo concedido em fevereiro pela 2ª Turma do STF. A decisão transformava em prisão domiciliar a pena de prisão preventiva de mulheres grávidas ou com filhos de até 12 anos.
“Com essa decisão, o Supremo acaba de instituir a mais nova mão de obra qualificada da criminalidade: mulheres mães. Tal como o crime organizado alicia menores de idade para se beneficiarem da brechas e condolências da lei. Parir será o novo passe livre da cadeia”.
Talvez esse texto explique por que o rapaz parece tão à vontade fantasiado de nazista.
Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook