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Direita 25/Set/2018 às 13:06 COMENTÁRIOS
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Sul do Brasil é a região que mais baixa conteúdo neonazista na internet

Publicado em 25 Set, 2018 às 13h06

Estados do Sul do Brasil são os que mais baixam conteúdos neonazistas na internet, mostra estudo que monitorou o crescimento de facções de extrema-direita. Apenas no RS, 2º colocado da lista, são 42 mil simpatizantes das ideias de Hitler

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Um estudo estima que o sul do Brasil abrigue mais de 100 mil simpatizantes na internet de uma ideologia que condenou à morte milhões de pessoas, precipitou o mundo em uma guerra mundial e virou sinônimo de intolerância em todo o planeta. Apenas no Rio Grande do Sul, onde estaria concentrado o segundo maior polo de neonazistas do Brasil, haveria 42 mil seguidores das ideias de Adolf Hitler, conforme a pesquisa que monitorou o crescimento dessas facções de extrema-direita na web.

Um trabalho de monitoramento da internet realizado pela pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e antropóloga Adriana Dias detectou um crescimento de quase 170% no número de páginas virtuais com conteúdo neonazista em português, espanhol ou inglês entre 2002 e 2009 – de 7,6 mil para 20,5 mil. Além disso, fez uma análise sobre a origem de internautas que baixavam um número expressivo (superior a cem) de materiais de cunho discriminatório.

O cruzamento de informações permitiu à especialista estimar o número de simpatizantes do ideário extremista no Brasil. Os Estados do Sul lideram o ranking da intolerância, cujo topo é ocupado por Santa Catarina e seguido por Rio Grande do Sul e Paraná. Características culturais e históricas podem ter relação com a maior prevalência dos grupos de ódio nessa região, de forte imigração europeia. Os seguidores da cartilha neonazista costumam defender a “superioridade” da raça branca sobre as demais e perseguição a negros, judeus e homossexuais.

Os dados compilados pela pesquisadora indicam ainda que há comunidades de orientação neonazistas em 91% das 250 redes sociais monitoradas pela antropóloga, e que o número de blogs sobre o assunto cresceu mais de 550% no período. Além de refletirem o crescimento da própria internet nos últimos anos, esses números sugerem que a facilidade para troca de informações de maneira relativamente anônima segue atraindo fanáticos – e fornecem uma pista sobre o perfil de quem propaga a violência no mundo virtual.

Geralmente, eles atendem ao proselitismo na juventude. O jovem em busca de uma causa acaba recebido pelo grupo, que o convence de que o negro ou o judeu tomou seu espaço no mercado de trabalho, na universidade, etc. — explica Adriana Dias, em entrevista à Agência Brasil.

O presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke, confirma que o perfil dos neonazistas no Estado hoje é formado principalmente por jovens, muitas vezes com nível socioeconômico razoável ou elevado:

Um problema sério é que a grande maioria dessas pessoas que entram nos sites são jovens. Isso é uma falha nossa como sociedade. Não estamos dando aos jovens motivações, valores superiores. É uma falha da escola, da igreja, das famílias, dos partidos políticos que não estão dando perspectivas a eles.

Maior presença na rede

Confira o avanço no número de páginas da internet com conteúdo nazista:

2002: 7.600
2003: 8.100
2004: 9.485
2005: 11.036
2006: 12.191
2007: 13.421
2008: 15.601
2009: 20.502

Variação de 2002 a 2009: 169,8%

Mapa da intolerância

Confira o número estimado de simpatizantes de ideais nazistas no Brasil, com base em usuários na internet que fazem downloads de conteúdos da ideologia:

Santa Catarina: 45 mil
Rio Grande do Sul: 42 mil
São Paulo: 29 mil
Paraná: 18 mil
Distrito Federal: 8 mil
Minas Gerais: 6 mil

Fonte: antropóloga Adriana Dias

Júri popular

As ações neonazistas dentro e fora da internet vêm enfrentando uma coalizão de forças formada pelas polícias militar e civil, Ministério Público e ativistas de direitos humanos no Estado. Em junho, o Estado deverá testemunhar um dos mais importantes resultados da frente antiviolência: o julgamento de quatro réus neonazistas em júri popular por formação de quadrilha, discriminação racial e tentativa de homicídio.

Três homens e uma mulher acusados de participar do ataque a três estudantes judeus na Capital, em 2005, deverão ir à corte no dia 13 de junho – mas a data ainda pode sofrer alteração. Segundo o delegado da 1ª Delegacia da Polícia Civil, Paulo César Jardim, o caso é emblemático porque seria o primeiro em que um grupo neonazista iria a júri popular no Estado – e talvez no Brasil. O Tribunal de Justiça não tem registro de caso semelhante.

Tenho recebido ligações da imprensa da Bélgica, da França, da Alemanha, da Inglaterra, do mundo inteiro. Estão muito interessados nesse julgamento, querem saber como foi o inquérito — revela Jardim.

Ao todo, 14 pessoas chegaram a ser pronunciadas como rés pela Justiça, mas uma dezena delas recorreu e por isso não deverá ir a julgamento agora. Todos foram vinculados ao movimento neonazista e suspeitos de participar das agressões a soco e facadas contra os estudantes judeus. Jair Krischke acredita que o julgamento pode servir de exemplo para desestimular novas adesões à filosofia nazista, mas lamenta a demora para o julgamento:

O crime ocorreu em 2005, e só agora vai a júri.

Em entrevista à Rádio Gaúcha, o delegado Jardim disse que tem uma “série de restrições” à pesquisa da antropóloga Adriana, mas não detalhou quais são essas restrições. Ele afirmou apenas que já conversou com a pesquisadora. Após falar à rádio, Jardim foi novamente ouvido por Zero Hora e preferiu não contestar os dados.

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Marcelo Gonzatto, Gauchazh

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