Os tesouros perdidos no incêndio do Museu Nacional
Museu Nacional: dos 20 milhões de artefatos reunidos no prédio, só poucos escaparam da destruição completa, como o meteorito de Bendegó e partes da coleção botânica
Laura Gröbner Ferreira, Deutsche Welle
O incêndio de grandes proporções que no domingo (2) destruiu o prédio e grande parte da coleção do Museu Nacional, no Rio, incluía itens de elevado valor científico.
Dos 20 milhões de artefatos reunidos no prédio, só poucos escaparam da destruição completa, como o meteorito de Bendegó e partes da coleção botânica, que ficavam num outro prédio ou foram resgatados por funcionários e pesquisadores.
Documentos históricos, fósseis, artefatos pré-históricos latino-americanos e objetos arqueológicos do Egito e das culturas mediterrâneas foram perdidos para sempre. Estes são alguns exemplos de que estava no museu.
Esquife da dama Sha-Amun-En-Su
O esquife da sacerdotisa do templo de Amun em Tebas, Sha-Amun-en-Su, tinha mais de 2.700 anos e foi um presente do Quediva Ismail do Egito ao imperador D. Pedro II. O imperador era conhecido pelo grande interesse pelo Antigo Egito e exibia esse esquife no seu gabinete de trabalho.
Depois da Proclamação da República, em 1889, a coleção egiptológica do monarca passou para o Museu Nacional e deu início à maior coleção de artefatos do Antigo Egito na América Latina, que contava com 700 peças. O esquife era coberto de pinturas, símbolos religiosos e hieróglifos, que identificavam a múmia como “Cantora do santuário de Amun“. Exames tomográficos ainda revelaram vários amuletos fixados na múmia.
Prima americana da Lucy
Descoberto nos anos 1970 por Annette Laming Emperaire ao norte de Belo Horizonte, o esqueleto foi nomeado Luzia em homenagem ao esqueleto do homem primitivo africano Lucy. O fóssil brasileiro tem cerca de 11 mil anos de idade e arqueólogos acreditam que se trate da ossada de uma das primeiras mulheres a chegar à América Latina.
A reconstrução digital do rosto mostrou que ela não pertencia aos homens de origem asiática, considerados a primeira leva de imigração para o continente americano. Assim surgiu a hipótese de uma onda de migração humana anterior, até então desconhecida.
Dinossauros brasileiros
O dinossauro conhecido como Maxakalisaurus Topai foi um herbívoro que viveu durante o Cretáceo Superior no interior do Brasil. Esse exemplar de 13 metros de comprimento foi escavado no interior de Minas Gerais, perto do município de Prata. Por isso era também conhecido como Dinoprata. O Maxakalisaurus do Museu Nacional foi o primeiro dinossauro de grande porte brasileiro reconstruído para uma exposição no país.
Uma estatueta Koré greco-romana
A estatueta de mármore branco e rosado era de fabricação romana, mas provavelmente se tratava de uma cópia de uma estátua arcaica-grega do tipo Koré. Essa estatueta foi descoberta em 1853 em Veio, na Itália.
Ela era uma dos 700 artefatos da coleção das Culturas Mediterrâneas, fundada pela imperadora Dona Teresa Cristina. Motivada pelo seu interesse no intercâmbio cultural e para aumentar a presença italiana no Brasil, ela pediu a seu irmão, Ferdinando II da Sicília, que lhe mandasse artefatos escavados na Itália.
Um dos maiores meteoritos do mundo
O meteorito de Bendegó é o maior achado no Brasil e um dos maiores do mundo. O objeto extraterrestre descoberto em 1784 consiste de ferro e níquel, e por isso era pesado demais para o transporte.
A carroça de madeira em que estava se despedaçou, e o meteorito caiu no rio Bendegó, que assim deu nome ao objeto. Só em 1888 a peça chegou ao Museu Nacional, após o imperador Dom Pedro II financiar uma nova tentativa de transporte. Naturalmente resistente a altas temperaturas, é um de dois meteoritos que continuam intacto, apesar das chamas.
Culturas pré-históricas brasileiras
Entre outras culturas, o Museu Nacional guardava vários artefatos da cultura Marajoara, uma das culturas pré-históricas mais avançadas do Brasil. Objetos de arte cerâmicos, decorados com formas antropomorfas, humanas, animalescas e desenhos simétricos, eram uma parte integral dessa cultura. Essas cerâmicas era usados no contexto funerário e ritual.
Arte plumária de tribos brasileiras
A coleção etnológica também integrava muitos objetos da tribo Karajá, que vive no Centro-Oeste brasileiro. Os Karajá produzem artes cerâmicas e esplêndidas artes plumárias. Os cocares e adornos na coleção eram feitos de penas de urubu, periquitos e araras. Os objetos fazem parte de ritos de iniciação e reproduzem a mitologia da tribo.
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