Alberto Fraga, o condenado por corrupção que Bolsonaro convidou para o governo
Aliado de Bolsonaro e especulado para ministério, Alberto Fraga vira um dos assuntos mais comentados das redes sociais. Deputado federal pelo DEM já foi condenado por corrupção e flagrado em áudio reclamando de valor baixo da propina que recebia
Na manhã desta quarta-feira (31), o nome Alberto Fraga (DEM-RS) chegou ao topo dos trending topics, os assuntos mais falados do Twitter.
Fraga é deputado federal pelo DEM do Distrito Federal e tentou o governo do estado na última eleição, mas obteve apenas 5,88% dos votos.
Ele é coronel da reserva da Polícia Militar e lidera a Frente Parlamentar da Segurança Pública, a chamada “bancada da bala”, que pretende relaxar os critérios para posse de arma de fogo.
Parte das postagens de hoje nas redes se refere a Fraga como novo ministro do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) e cita que ele é condenado na Justiça por corrupção.
Durante toda a campanha, Bolsonaro prometeu tolerância zero com a corrupção e que faria uma equipe de primeiro escalão definida por critérios técnicos e não políticos.
Fraga não foi anunciado como ministro; o governo Bolsonaro tem quatro ministros confirmados oficialmente.
São eles o astronauta Marcos Pontes para o Ministério da Ciência e Tecnologia, o economista Paulo Guedes no superministério da Economia, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM) como ministro da Casa Civil e o General Augusto Heleno como ministro da Defesa. A lista completa é prometida para segunda-feira (05).
Mas há razões para a especulação. No último dia 23, ainda antes do segundo turno, Bolsonaro se reuniu no Rio de Janeiro com 32 representantes da Frente e indicou Fraga como possível “coordenador” da base aliada, função hoje exercida pelo ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência.
“Anuncio aqui que quem vai coordenar a bancada, lá do Planalto, vai ser o Fraga”, disse Bolsonaro, em meio a risos e aplausos.
Fraga negou que tenha recebido convite formal e afirmou ter sido surpreendido: “Foi um comentário despretensioso.” Na época, Bolsonaro foi ao Twitter criticar quem já estava se colocando na equipe:
As eleições só serão definidas no domingo. Além dos 3 nomes mencionados (Onix,Heleno e Guedes), outros serão anunciados. Com intuito de se promover ou nos desgastar, oportunistas se anunciam ministros. Estes, de antemão, já podem se considerar fora de qualquer possível governo.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 26 de outubro de 2018
Ontem, Fraga disse à Agência Estado que está “disposto a ajudar” o governo mas que não há nada definido.
Histórico
Em setembro deste ano, Fraga foi condenado a quatro anos, dois meses e 20 dias de prisão em regime semiaberto sob a acusação de pedir (e receber) 350 mil reais em propina para firmar um contrato entre a cooperativa de ônibus Coopertran e o governo. A decisão é de primeiro instância e cabe recurso.
Na época do ocorrido, em 2008, Fraga era secretário de Transportes do governo José Roberto Arruda, que se tornaria em 2010 o primeiro governador preso no Brasil no exercício do mandato.
A TV Globo divulgou gravações em que Fraga supostamente reclama do valor baixo da propina.
Na campanha para governador, Fraga atacou o juiz que o condenou: “Fui condenado, sim, por um juiz ativista do LGBT [sic]. Dizem para eu não falar isso, mas eu tenho que falar… porque deve ser por isso que houve essa pressa de condenar.”
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) divulgou nota de repúdio e classificou as declarações como “inadmissíveis”.
Não foi a primeira vez que Fraga se viu com problemas na Justiça. Em 2011, ele foi processado após a Polícia Civil ter apreendido um revólver e 289 munições de uso restrito em um flat atribuído ao deputado em Brasília.
Ele disse que o apartamento não era dele e que tinha permissão para posse como colecionador de armas, atirador e coronel da PM.
Fraga chegou a ser condenado pelo crime em 2013, com pena de multa e quatro anos de prisão em regime aberto que depois foram convertidos em prestação de serviço comunitário.
A condenação foi mantida em segunda instância, em 2014, mas a defesa apresentou embargos de declaração.
Em 2015, Fraga assumiu mandato e o caso foi remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF). Após decisão que restringiu o foro privilegiado em maio deste ano, o caso voltou para a instância inferior.
Caso Marielle
Em março, Fraga se envolveu com outra controvérsia ao publicar em sua conta no Twitter que a vereadora assassinada Marielle Franco teria sido casada com o traficante Marcinho VP, era usuária de drogas e teria sido eleita com apoio do Comando Vermelho.
Ele depois apagou a mensagem. Em entrevista à Rede Globo, Fraga admitiu que errou por não checar a veracidade das informações publicadas em sua página.
O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) entrou com uma representação no Conselho de Ética da Câmara por quebra de decoro. O processo foi arquivado.
João Pedro Caleiro, Exame