Eleitor de Bolsonaro admite que matou Moa por motivação política
À polícia, eleitor de Bolsonaro confessa que matou Moa por motivação política. Mestre de capoeira levou 12 facadas pelas costas
O fim do primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil culminou com novos casos de violência. O mais grave foi o assassinato do mestre de capoeira Angola Romualdo Rosário da Costa, de 63 anos, conhecido como Moa do Katendê, em Salvador.
Ele foi morto com 12 facadas pelas costas por Paulo Sérgio Ferreira de Santana, de 36 anos, apoiador do candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL), após uma discussão sobre a eleição.
O irmão do mestre de capoeira foi atingido no braço e levado ao Hospital Geral do Estado, onde ficou internado.
Santana chegou ao bar onde estava Moa do Katendê gritando palavras de apoio a Bolsonaro. O mestre de capoeira teria respondido que tinha consciência de como os negros conquistaram melhorias de vida nos últimos anos, que poderiam ser destruídas pelo candidato do PSL, e que as pessoas que estavam ali votavam no PT.
Segundo testemunhas, agressor e vítima não se conheciam antes da discussão. Moa foi enterrado na tarde de hoje.
Crime com orientação política
Em depoimento à polícia, Sérgio Ferreira de Santana admitiu que a divergência política foi a motivação do crime que ele cometeu.
A polícia informou que o eleitor de Bolsonaro ingeriu bebida alcoólica desde a manhã do domingo e chegou ao bar às 23h.
Ativista contra a intolerância
Môa do Katendê era um conhecido ativista contra a intolerância religiosa.
“Nós, de matriz africana, respeitamos todos. E o que queremos? Em troca, respeito e consideração. Agora, invadir terreiros, procurar difamar uma tradição milenar é um ignorância muito grande. Aqui é um desabafo, e isso no país todo está fortalecendo”, afirmou em vídeo divulgado em sua página recentemente.
Mestre Môa do Katendê não era somente um artista negro entre tantos da Bahia. Ele era referência na defesa das tradições africanas e percorria o mundo divulgando a arte.
Compositor, dançarino, capoeirista, percussionista, artesão e educador, dizia que a cultura poderia promover a paz.
Há 40, havia fundado o “Badauê”, várias vezes campeão do carnaval baiano nos anos 80, na categoria de afoxés. “Esse afoxé foi responsável pela reafricanização do carnaval baiano”, diz o amigo e produtor cultural em São Paulo do mestre, Leandro Sequelle.
Em 1995, criou o afoxé “Amigos de Katendê”, com o qual viajava pelo mundo. Nesta segunda-feira (8), tinha viagem marcada para São Paulo, a trabalho. Em vez disso, terá o corpo sepultado às 16h30, no cemitério da baixa de Quintas, em Salvador.