Jair Bolsonaro perde votos, mas ainda é favorito para vencer no domingo. Diversos elementos mostram por que uma candidatura que parecia inabalável está estremecendo nesta reta final de campanha presidencial
As últimas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República têm apontado um enfraquecimento da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) nesta reta final da disputa com Fernando Haddad (PT).
O Ibope de terça-feira (23) mostrou que a diferença entre os postulantes ao Planalto caiu 4 pontos. Segundo o instituto, a rejeição a Bolsonaro aumentou 5 pontos e a certeza de voto no candidato diminuiu na mesma proporção.
Uma tendência semelhante foi identificada pelo levantamento CNT/MDA publicado um dia antes.
A pesquisa Vox Populi desta quinta-feira (25) apresentou um resultado ainda mais alarmante para a candidatura do militar da reserva: 53% a 47%.
Fraude eleitoral
A campanha de Bolsonaro foi tomada por uma agenda negativa desde a revelação do esquema de fraude eleitoral, através de caixa 2, em que empresários firmaram contratos de até R$ 12 milhões para manipular o resultado da eleição por meio do WhatsApp.
A investigação das denúncias deve se estender para o período pós-eleitoral e perdurar durante a gestão do próximo presidente. Não há data prevista para a divulgação de conclusões. De todo modo, o escândalo teve potencial para estremecer uma candidatura que parecia inabalável. Mas não foi só isso.
Debates e entrevistas
A ausência de Bolsonaro nos debates constrange os próprios eleitores do ex-capitão do Exército. O Datafolha do dia 18 de outubro indicou que 73% dos votantes queriam vê-lo nos debates.
Mesmo após ser liberado pelos seus médicos, o candidato decidiu não encarar Haddad face a face. Assim sendo, Bolsonaro tornou-se o primeiro presidenciável da história do Brasil a fugir de debates no 2º turno de uma eleição presidencial.
Também estão sendo evitadas as entrevistas com potencial de colocar Bolsonaro em situação desconfortável, onde são grandes os riscos de ficarem expostas as suas limitações.
O candidato do PSL recusou os convites para participar das sabatinas no Roda Viva, Grupo Globo e Rádio CBN, que foram realizadas nesta semana. De acordo com um entendimento interno da alta cúpula da campanha de Bolsonaro, ele perde votos se falar demais.
O caso mais emblemático deste 2º turno aconteceu nesta terça-feira (23), na Rádio Guaíba. Para conceder uma entrevista ao veículo, o candidato exigiu que todos os jornalistas presentes, exceto o apresentador, permanecessem em silêncio. Indignado, Juremir Machado pediu demissão ao vivo.
Intransigência
Está claro, também, que tanto o discurso de Bolsonaro sobre banir e prender adversários, quanto a fala de seu filho, Eduardo, a respeito do Supremo Tribunal Federal (STF) não surgiram em boa hora.
Ambos precisaram se justificar e voltaram atrás. “O que eu quis dizer é que vou combater os bandidos vermelhos baseado no andamento da Lava Jato”, recuou Bolsonaro.
Eduardo, por sua vez, depois de ser chamado de golpista pelo ministro decano Celso de Mello e repudiado por todos os demais, pediu desculpas oficialmente pelas afirmações de que o STF poderia ser fechado por um soldado e um cabo.
Foi na esteira dessas declarações que os presidenciáveis Marina Silva e José Maria Eymael, além do ex-governador tucano Alberto Goldman declararam voto em Fernando Haddad. Embora não tenha externado voto, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também acentuou suas críticas ao candidato da extrema-direita.
Vira voto
Em um período de apenas dez dias, o perfil ‘Vira Voto’ no Instagram acumulou mais de 250 mil seguidores. Na página são publicados depoimentos de pessoas que, após reflexão crítica, decidiram migrar de Bolsonaro para Haddad neste 2º turno.
“Eu votei no Bolsonaro no primeiro turno. Coloquei não um, mas dois adesivos no vidro traseiro do meu carro e no da minha esposa. Mesmo ela sendo contra ele. Domingo recebo uma enxurrada de mensagens em grupos pró-Bolsonaro sobre suposta fraude em urnas. Neste mesmo dia, recebo notícias do esfaqueamento de um senhor na Bahia por causa do seu apoio a Haddad. Nos mesmos grupos falam que a história é fake news e que se ele morreu é porque mereceu. Eu tenho formação, venho de família de classe média tradicional. Sou cristão, contra o aborto, mas nunca irei relativizar uma morte. Eu estava sendo levado ao caos por cegueira, por ignorância, por ódio. Vocês não têm o mínimo de noção de como são os grupos de WhatsApp pró-Bolsonaro. É fake news atrá de fake news”, diz uma das histórias de conversão de voto.
“Eu estava completamente cega, tomada por ódio e desesperança no primeiro turno, alimentada por mentiras que vinham de todas as partes. Por conta própria, longe das redes manipuladoras, decidi estudar e buscar informações diretas dos próprios candidatos. Suas posturas. Hoje me assusto ao ver como eu era até poucos dias atrás, manipulada por puro ódio. Acordei quase tarde, mas acordei a tempo. Por uma vida melhor para mim e para o futuro do meu filho”, conta outra eleitora que desistiu de Bolsonaro.
O posicionamento contrário a Bolsonaro de alguns antipetistas históricos causou certa surpresa em alguns observadores do atual processo eleitoral. Destaques para Reinaldo Azevedo, Míriam Leitão e Arnaldo Jabor.
O fenômeno ganhou até uma página própria no Facebook: “antipetistas contra Bolsonaro”. Um usuário explicou do que se trata: “Modéstia às favas, eu acho ‘antipetistas contra Bolsonaro’ uma grande sacada. De uma só vez, você se posiciona contra um fascista ante o qual — na minha opinião — não cabe ficar neutro e, ao mesmo tempo, funde a cuca da figura mais chata do cenário político nacional, que é o petista fanático”.
O ator Marcelo Serrado, crítico do PT e figura carimbada nas manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff declarou apoio a Haddad no 2º turno. Serrado interpretou o juiz Sergio Moro no polêmico filme “Polícia Federal – A Lei É para Todos”.
A ‘virada’ mais importante do pleito talvez tenha sido a do deputado federal eleito Pastor Sargento Isidório, campeão de votos (323 mil) na Bahia na disputa para a Câmara Federal.
Pastor evangélico e sargento da Polícia Militar, Isidório afirmou que “quem lê a Bíblia sabe que Jesus disse ‘amai-vos uns aos outros’. Não tem lugar nenhum Jesus dizendo para matar. Tem um bocado de evangélico defendendo isso”.
“Sou militar, eu tinha tudo pra apoiar o Bolsonaro, mas quando vi ele não ir a debate e fazer discurso que ofende jornalista e mulheres, tudo isso fez eu decidir meu voto. Votarei no Haddad, ele não é o homossexual que eu pensava. É casado há 30 anos com a mesma mulher, tem filhos. Tudo que eu pensava foi desconstruído. Procurei ver os vídeos, a gente sabe que é tudo fake news”, explicou Isidório.
Favoritismo
Pontue-se, apesar dos elementos supracitados, que Bolsonaro ainda é favorito para vencer no domingo. O direitista abriu uma vantagem de quase 18 milhões de votos sobre Haddad no 1º turno e a campanha do petista pode ter acordado tarde demais.
A história mostra que nunca o candidato mais votado no 1º turno perdeu a eleição presidencial no 2º turno. Haddad corre contra o tempo em busca de uma virada inédita, enquanto Bolsonaro torce para que o tempo voe e o impeça de ser alvejado por fatos novos.
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