O inverno europeu se aproxima, e dois governos propõem soluções opostas para os moradores de rua. Prefeitura socialista de Paris abre espaços públicos a sem-teto, enquanto governo húngaro de extrema-direita manda prendê-los
O inverno europeu se aproxima, e dois governos propõem soluções opostas para os sem-teto. A prefeita socialista de Paris, Anne Hidalgo, anuncia 1.500 vagas em prédios públicos, sendo que até cem delas na própria sede da prefeitura, o emblemático Hotel de Ville. Já o premiê de extrema direita da Hungria, Viktor Orbán, tem, a partir de hoje, instrumentos garantidos pela Constituição para punir com prisão quem dorme na rua.
A solidariedade e a tolerância impõem os limites de cada proposta. Em ambos os casos, contudo, a conta não fecha: as vagas oferecidas não cobrem a demanda de pessoas que perambulam nas ruas, seja em Paris ou Budapeste.
Na capital parisiense, o primeiro e único censo revelou que o número de desabrigados é pelo menos o dobro. E na Hungria ocorre o mesmo, no que diz respeito à proporção entre sem-teto e abrigos estatais. A diferença é que, a partir de hoje, quem dorme em espaços públicos, e não tem para onde ir, poderá ser trancafiado por um ano numa prisão.
O premiê Orbán foi o primeiro líder europeu a fechar suas fronteiras aos refugiados da Síria e de países africanos, erguendo muros e barrando a entrada de quem apenas queria seguir em direção à Alemanha. O segundo passo foi mudar a Constituição para criminalizar quem já se encontra no país e não tem onde morar.
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Aprovada em junho, a nova legislação húngara foi chamada de cruel e incompatível com a lei internacional de direitos humanos por Leilani Farha, especialista em habitação da ONU. “Que crime estas pessoas cometeram? Estão apenas tentando sobreviver”, escreveu em carta ao governo.
O Parlamento Europeu, por sua vez, aprovou uma ação legal contra Budapeste pelo tratamento aos moradores de rua, sob a alegação de ser “um claro risco de violação grave aos valores da União Europeia”.
Na França, o apelo de Anne Hidalgo para que outras prefeituras do país e a iniciativa privada sigam seu exemplo e ocupem instalações ociosas com sem-teto também encontra resistência nos bairros parisienses liderados por partidos de direita.
Um deles é o Quinto Arrondissement, a área turística que engloba o famoso Quartier Latin. Ali, a decisão da prefeita de abrir dois salões do suntuoso Hotel de Ville para hospedar mulheres desabrigadas durante o frio é classificada de demagoga. Mas faz muita diferença tanto para quem enfrenta o rigoroso frio europeu quanto para quem não tolera ver, a cada inverno, o aumento do número de mortos por hipotermia.
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Sandra Cohen, G1
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