Jair Bolsonaro parece ser um personagem da trilogia Matrix
Jair Bolsonaro é um paradoxo. Ele é real, mas parece ser um personagem da trilogia Matrix. Coloquem seus óculos 3D. Em breve haverá novo conflito épico
Fábio de Oliveira Ribeiro, Jornal GGN
Jair Bolsonaro é um paradoxo. Ele é real, mas parece ser um personagem da trilogia Matrix (1999 e 2003). Ele não está preparado para governar. Entretanto, já está ficando evidente que ele não aceitará a derrota. A vitória ou a derrota dele, portanto, causarão o mesmo resultado: um prejuízo inestimável ao Brasil.
Numa guerra civil quem tem mais não perde menos. Logo, os maiores prejudicados pela tempestade serão justamente aqueles que criaram o fenômeno Bolsonaro. Quem devastou arena política mediante ataques ferozes e irracionais ao PT desde de 2002 não vai conseguir tirar proveito do poder. Afinal, a própria ideia de um poder legitimado pelo voto se tornou a principal fonte do nosso problema.
Não há poder sem que sua legitimidade seja voluntariamente tolerada. Bolsonaro não acredita em tolerância ou no respeito à autonomia da vontade dos cidadãos. No imaginário dele a legitimidade democrática é apenas uma máscara que recobre a realidade. Como todo militar, o Coiso acredita que o poder deriva da força bruta e que esta não pode ser nem construída nem destruída pelas eleições.
Bolsonaro é um fenômeno político anormal que somente consegue existir na anormalidade. O Coiso não poderá governar sem usar a violência. Assim que começar a utilizá-la ele se tornará ilegítimo aos olhos da população. Por outro lado, ao questionar uma eventual derrota eleitoral tentando dar um golpe de estado, Bolsonaro irá apenas expandir a ideologia que compartilha com seus seguidores de que o exercício do poder eleitoralmente atribuído não tem qualquer legitimidade.
O poder só pode ter três fundamentos:
– força bruta
– origem divina
– voto popular
A Constituição da República prescreve expressamente que todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido. Esse princípio deixará de existir com ou sem a eleição de Bolsonaro. Portanto, no Brasil pós eleições de 2018 o novo poder terá que ser necessariamente antigo. Ou retornaremos a viver num país em que o poder emana das baionetas e dos canhões e a coação substitui a submissão voluntária ao governo (como ocorria durante a Ditadura Militar) ou num território dominado pela intolerância religiosa (fundamentalismo evangélico/neoliberal/bolsonariano).
Nos dois casos, o Brasil estará condenado à instabilidade política. Essa instabilização permanente do país já está sendo antevista pelos militares. Se Haddad for eleito o uso da violência irá recair sobre Bolsonaro e seus amigos golpistas? Não creio.
Yanis Varoufakis afirmou numa entrevista que a primeira vez que foi negociar a dívida da Grécia, um banqueiro disse a ele o seguinte:
– A política não pode modificar economia.
Imediatamente o ex-ministro da economia grego teria dito ao interlocutor algo como:
– Os chineses concordariam com você. Eles também acreditam que as eleições democráticas são desnecessárias.
A democracia grega foi sabotada pelo mercado. A brasileira está sendo destruída de uma maneira semelhante. “Quando tudo for privado, seremos privados de tudo” diz um cartaz que vi em algum lugar. Essa mensagem é apenas parcialmente verdadeira. De fato, antes de sermos privados de tudo nós já fomos privados da democracia pela imprensa que possibilitou o crescimento de anomalias políticas como o Coiso.
Jair Bolsonaro serviu à Ditadura Militar, mas foi expulso do Exército em razão de ser mau militar. Como o agente Smith após ser desplugado da Matrix, o Coiso se transformou numa anomalia dentro do sistema. Ele cresceu com a anormalização da política promovida pelos meios de comunicação que odiavam Lula e Dilma Rousseff e se fortaleceu quando o ódio conseguiu legitimar o golpe jurídico-parlamentar-midiático de 2016.
Coloquem seus óculos 3D. Em breve haverá novo conflito épico na Matrix. O Coiso é, sem dúvida alguma, a encarnação brasileira do agente Smith. Nas ruas, os duplos dele já estão assimilando e/ou eliminando todas as pessoas que consideram diferentes. O processo de assimilação/purificação somente irá acabar quando o agente Smith do mercado for derrotado durante o auto-sacrifício voluntário de um Neo tupiniquim.
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