Apoiadores de Jair Bolsonaro espalham mensagem falsa sobre Miriam Leitão e conteúdo viraliza. A jornalista foi presa quando tinha 19 anos e estava grávida de 1 mês; ela foi espancada e trancafiada nua em uma sala com uma cobra
Um dia após fazer críticas ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), a jornalista Miriam Leitão virou alvo de uma mensagem falsa espalhada por seguidores do candidato nas redes sociais. Junto com a ficha da jornalista, presa em 1972 durante a ditadura militar, aparece um texto que não corresponde à realidade.
“Foto do julgamento do assalto ao Banco Banespa da Rua Iguatemi, em São Paulo, ocorrido no dia 06/Outubro/1968. A assaltante usava um revólver calibre 38 e junto com seus comparsas levaram mais de 80 mil cruzeiros, que seria equivalente a R$ 800.000. Alguém conhece a assaltante?”
A foto é verdadeira e foi publicada no livro Em Nome dos Pais, escrito pelo também jornalista Matheus Leitão, filho de Miriam. Ela foi presa na década de 1970 por sua militância no PCdoB, partido que era clandestino na época. A jornalista nunca foi presa ou processada por assalto a mão armada. Na época do crime atribuído a ela, Miriam tinha 15 anos e morava no interior de Minas Gerais.
Democracia
Em comentário feito ontem (segunda, 8) no “Bom Dia, Brasil, da TV Globo”, Miriam disse que Bolsonaro fez sua carreira defendendo a ditadura militar e a tortura. “Jair Bolsonaro tem que desfazer o que ele falou ao longo do tempo. Durante muito tempo ele criticou a democracia, ele fez a carreira defendendo a ditadura, a tortura. Ele fez isso ao longo da vida inteira“, afirmou.
Segundo ela, nesse ponto não há como comparar os dois candidatos que chegaram ao segundo turno da eleição presidencial. “Eles não são equivalentes. Bolsonaro sempre teve um discurso autoritário. O PT, de vez em quando tem uma declaração aqui ou ali, mas na verdade é um partido que nasceu, cresceu na democracia, sempre jogou o jogo democrático e governou respeitando as instituições democráticas“, declarou.
Por meio de nota, Haddad divulgou mensagem de solidariedade à jornalista nesta terça. “Quero me solidarizar com a Miriam Leitão, com quem tenho divergências democráticas. Não há problema nenhum em uma pessoa pensar de um jeito e a outra de outro. O problema é, em função da sua opinião, da liberdade de expressão, você ser covardemente atacado, como ela vem sendo”, disse o petista.
Presa com uma cobra
Miriam foi presa em dezembro de 1972, quando tinha 19 anos, ao lado de seu então companheiro, o jornalista Marcelo Netto, pai de Matheus e também militante do PCdoB na época. Em 2014 ela detalhou a sessão de tortura a que foi submetida por militares quando estava grávida de um mês de Matheus.
“Me davam tapas, chutes, puxavam pelo cabelo, bateram com minha cabeça na parede. Eu sangrava na nuca, o sangue molhou meu cabelo. Ninguém tratou de minha ferida, não me deram nenhum alimento naquele dia“, escreveu. A jornalista lembrou que foi trancada, nua e grávida, em uma sala escura com uma cobra (veja a íntegra do relato).
Jair Bolsonaro ironizou o relato da jornalista. “Coitada da cobra“, reagiu na época. Em entrevista para o livro do filho da jornalista, o deputado reiterou o comentário. O vídeo é usado por apoiadores do candidato nas redes sociais para atacar Matheus e a mãe.
Embates
Em 2016 Bolsonaro usou as redes sociais para atacar as declarações de Miriam sobre a ditadura. “Lamentamos que Míriam Leitão continue tão idiota como há quarenta anos”, disse. No ano passado ele voltou ao Twitter para atacá-la: “Míriam Leitão diz que Bolsonaro não sabe nada sobre economia. Esta faz juz ao sobrenome”.
“Seu lugar é no chiqueiro da História”, acrescentou.
Em 2016, ao repercutir novamente as declarações de Miriam sobre a ditadura, o pré-candidato partiu para os xingamentos. “Lamentamos que Míriam Leitão continue tão idiota como há quarenta anos”, disse.
No começo de agosto os dois estiveram frente a frente durante a entrevista do presidenciável à GloboNews. A sabatina rendeu uma situação constrangedora para Miriam. Ele lembrou o apoio do jornalista Roberto Marinho ao golpe militar de 1964. A jornalista teve de ler, ao final do programa, um editorial ditado pelo ponto eletrônico em que o grupo Globo admite que o apoio aos militares foi um erro.
Em junho Miriam afirmou ter sido hostilizada por militantes do PT durante um voo da companhia Avianca, com saída de Brasília para o aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, no último dia 3 de junho. Em seu blog, no site do jornal O Globo, ela conta que foi alvo de intolerância por parte dos militantes petistas, que a agrediram verbalmente.
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