Eleições 2018

O meu voto é em defesa da vida

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Para manter o direito de sonhar e lutar por um mundo melhor para se viver, o voto deve ser contra o regresso, a austeridade, a barbárie, em defesa da soberania do país, em defesa da democracia, da vida

João Elter Borges Miranda*, Pragmatismo Político

A razão da minha vida é a luta.

Assim como muitas brasileiras e brasileiros, sou filho de trabalhadores e estou inconformado com a situação profundamente avassaladora que o país enfrenta. Sofremos todos os dias e morremos um pouco a cada dia.

Assim como muitas brasileiras e brasileiros, sou pobre e vejo entes queridos, com toda a opressão que caem sobre os seus ombros, ficarem cada vez mais velhos, mais sérios, mais tristes.

Assim como muitas brasileiras e brasileiros, sou jovem e as perspectivas não são positivas. Vivemos numa sociedade melancólica de corações partidos e ilusões perdidas, onde sonhos ficam para trás.

Assim como muitas brasileiras e brasileiros, sou professor e estou cansado de trabalhar em escolas em estado de decomposição, receber salário de fome, ser xingado por pais e alunos.

Somos vítimas de um mundo violento. E a dor é do tamanho de um prédio.

A falta de respostas deixa os nervos à flor da pele, e sentimos o medo e a tensão nos consumir. A cabeça vai longe, pensando em todos os acontecimentos que levaram à conjuntura atual e, é claro, nos desdobramentos reais ou fantasiosos dela. E a única coisa que descobrimos durante todo esse pensar é que nada parece fazer sentido.

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Temos certeza é de viver em tempos brutos. Tempos difíceis, como diria Dickens. Tá foda! Por isso, em defesa da vida, em defesa da democracia, renuncio a qualquer pretensão vanguardista e prefiro ser apontado pelas minhas contradições do que deixar os meus para trás. Vou votar 13 em defesa da vida. Democracia sim! Morte não!

Mas o voto em Haddad 13 não é porque concordamos com tudo no PT. Aliás, temos e tivemos há anos muitas críticas aos governos petistas, e inclusive realizamos diversas manifestações de protesto contra suas políticas.

Depois de toda essa trajetória, terei que segurar o estômago, tampar o nariz e fechar os olhos para votar num candidato do PT, mas farei isso para poder ter a chance de criticá-lo depois, pelo direito de crítica, de voz. Voto em alguém a quem poderei ser oposição sem ser atacado, desaparecido ou morto. Quero um país onde as pessoas tenham livros nas mãos, as armas da crítica, e não as armas da morte.

Bolsonaro representa a barbárie, representa o que pensávamos ter deixado para trás. Há quem votou nele no primeiro turno porque é contra o PT e a corrupção. Isso precisa ser desmascarado. Havia outros candidatos não ligados ao Partido dos Trabalhadores e ficha limpa e você não votou neles no primeiro turno. Você votou no Bolsonaro porque odeia tudo como ele. E concorda com o que ele defende — é contra negros, mulheres, LGBT, indígenas, camponeses e a favor da tortura, do atirar para matar, do autoritarismo. Você e o seu ídolo são fascistas! E o sangue das pessoas críticas ao Bolsonaro, vítimas da série de ataques que aconteceram, escorre entre os seus dedos. A escalada de violência é gigantesca e você contribui para isso. Você é o meu inimigo na luta social.

Mas a maior parte dos milhões de brasileiros que votaram nesse facínora não é fascista. Vivemos numa estranha conjuntura que permite que Bolsonaro — defensor canino do grande capital — faça pose de candidato “antissistema”. No passado, Jânio e Collor também já adotaram o mesmo papel de “paladino salvador da pátria” que, com o farol da ética, lavariam à jato o sistema político, mas que só trouxeram o desastre. Infelizmente, ontem e hoje muitas pessoas, que estão profundamente revoltada com a captura da pólis promovida pelo capital, têm acreditado nesses pretensos heróis da pátria.

Estão muito tristes e furiosos com o país e votaram com raiva. Acontece. É como quando estamos muito putos e queremos quebrar tudo só pra ver o circo pegar fogo. Geralmente, nos arrependemos da nossa atitude quando a raiva passa, mas, não raro, as consequências se estendem e, se tratando do futuro do país, gerações e mais gerações podem sentir na pele as consequências desse voto.

Por tudo isso a vida depende do seu voto. Porque se a turma dos “profissionais da violência”, como o próprio vice do Bolsonaro definiu, vencer as eleições, será muito grave para o país.

O amanhã não pode ser apenas inverno. A vida é desafio. Numa sociedade massacrante como a nossa, precisamos reaprender a imaginar um futuro onde se possa viver e onde se queira viver. E, para manter o direito de sonhar e lutar por um mundo melhor para se viver, o voto deve ser contra o regresso, a austeridade, a barbárie, em defesa da soberania do país, em defesa da democracia, da vida. Nesse processo, os fascistas podem até tentar nos enterrar, mas saibam desde já que somos sementes.

*João Elter Borges Miranda é professor de história formado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, trabalha na rede pública do Estado do Paraná e milita na Frente Povo Sem Medo, Frente Ampla Antifascista e Intersindical. Email: recapiari636@gmail.com

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