Redação Pragmatismo
Curiosidades 28/Nov/2018 às 17:08 COMENTÁRIOS
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O homem que sobreviveu ao contato com a tribo mais isolada do mundo

Publicado em 28 Nov, 2018 às 17h08

Antropólogo que sobreviveu a contato com habitantes da ilha Sentinela do Norte relata suas experiências e fala da morte do americano John Chau

visita ilha sentinela do norte 1991
Imagem da última visita de TN Pandit à ilha Sentinela do Norte, em 1991

O indiano TN Pandit, de 83 anos, foi o primeiro antropólogo a entrar na ilha Sentinela do Norte, em 1967. Ele diz que ficou surpreso quando soube que o missionário e aventureiro americano, John Allen Chau, havia sido morto pelos Sentineleses.

Em entrevista ao jornal The Economic Times, Pandit narrou suas experiências de interação com o povo mais isolado do mundo.

O antropólogo diz não considerar os habitantes da tribo hostis, já que eles nunca se propuseram a invadir os territórios das tribos vizinhos.

“Eles só dizem: ‘nos deixam em paz'”, afirmou o estudioso, que também é autor de um livro sobre os Sentineleses.

Confira alguns trechos da entrevista:

Como explicar a morte de John Chau pelos habitantes da ilha Sentinela do Norte?

Eu me sinto triste com a tragédia. Mas me surpreende eles tenham matado o americano. Eles não são pessoas hostis. Eles avisam; eles não matam pessoas. Eles não atacam seus vizinhos. Eles só dizem: “nos deixem em paz”. Eles deixam bem claro que pessoas de fora não são bem-vindas em seu habitat. É preciso entender essa linguagem.

Então, qualquer um que se intrometa em sua terra não deve ir além do que eles concordam. Eles dão avisos suficientes; os de fora devem respeitar isso e voltar. Mas esse americano assumiu um grande risco e possivelmente ignorou seus avisos e se aventurou além do limite. Ele deveria ter retornado depois que eles sinalizaram.

(John Chau conseguiu sobreviver ao primeiro contato físico com a tribo, mas morreu no dia seguinte ao insistir em um segundo contato)

Conte-nos sobre sua experiência quando visitou a ilha Sentinela do Norte pela primeira vez, na década de 60

Era janeiro de 1967. Eu tinha 31 anos. Eu estava encarregado do centro regional de Pesquisa Antropológica da Índia em Andaman e Nicobar. A ideia era explorar a ilha Sentinela do Norte e fazer amizade e ganhar a confiança dos habitantes locais.

Nosso grupo era composto por cerca de 20 pessoas, incluindo administradores, policiais e pessoal da Marinha. Fomos em um pequeno navio. A Marinha nos forneceu certa estrutura.

Você foi atacado pelos Sentineleses? Estava com medo?

A princípio, não tínhamos ideia de que os locais pudessem ser agressivos a ponto de nos atacar. Aprendemos sobre esse aspecto dos Sentinelese apenas em nossas visitas posteriores.

Em nossa primeira visita, os Sentinelenses provavelmente nos viram, mas nenhum deles apareceu na praia. Eles se esconderam nas florestas e ficaram nos observando. Há uma pequena praia na ilha e o resto são áreas florestais. Então, quando entramos na ilha, eles estavam definitivamente nos observando, mas não os vimos.

Nós primeiramente avistamos uma pegada e a seguimos para penetrar nas selvas. Depois de caminhar pelas florestas por um quilômetro, vimos uma área aberta com cerca de 18 cabanas. O local não parecia abandonado. Havia fogo e alimentos cozidos. Vimos peixe assado, frutos silvestres. Havia arcos, flechas e lanças ao redor.

Os Sentineleses não usam roupas. Eles não coletam coisas para guardar em casa, mas suas casas são bem construídas. As cabanas eram abertas e inclinadas, feitas de galhos de árvores e folhas, sem portas nem janelas. Eles se esconderam no momento em que nos viram. Um de nós teve um vislumbre de um homem sentinela, mas retornamos de lá sem nenhum contato físico.

O que aconteceu nas visitas seguintes?

Nos anos 70 e 80, tivemos uma série de visitas à ilha Sentinela Norte. Eles resistiram todas as vezes. Quando nosso barco chegava à ilha, eles vinham e nos confrontavam. Eles faziam vários gestos, inclusive mostrando as costas, talvez para nos insultar.

A única vez que andamos por dentro da ilha foi em nossa primeira visita. Depois, nós entendemos seus avisos e mantivemos uma distância segura.

Com o tempo, desenvolvemos uma estratégia de comunicação que aparentemente foi aceita por eles. De longe, costumávamos dar-lhes presentes como coco, varas de ferro, utensílios e outros itens. Tanto homens como mulheres costumavam sair e recolher esses presentes.

Então eles nos permitiram deixar presentes, mas manifestaram rejeição no momento em que tentamos entrar na ilha. Durante nossas visitas posteriores, também vimos adolescentes. Pelo que notamos, as mulheres não usam arcos e flechas; apenas os homens usam.

Em 1991, visitei a ilha duas vezes. Foi a primeira vez que os Sentineleses tiraram cocos de nossas próprias mãos. Eles fizeram essa concessão. Mas eles não nos permitiram entrar na ilha. Eles falavam constantemente conosco, mas não conseguíamos entender a língua deles.

Em uma ocasião, levamos duas pessoas de Onge (uma das quatro maiores tribos de Andaman e Nicobar). Mas vendo os Onge, os Sentineleses ficaram ainda mais zangados. Foi a última vez que visitamos a ilha.

Quando eu estava distribuindo cocos, me distanciei um pouco do resto do grupo e comecei a me aproximar da praia. Um garoto sentinela fez uma cara engraçada, pegou uma faca e sinalizou para mim que cortaria minha cabeça. Chamei imediatamente o barco e parti em retirada. O gesto do menino foi significativo. Ele deixou claro que eu não era bem-vindo.

A tribo Jarwa (da mesma região), por outro lado, nos permitiu entrar em seu território primeiro em abril de 1974. Eles nos fizeram sentar e então eles cantaram e dançaram. Mas os Sentinela nunca permitiram isso.

Você acha que será possível recuperar os restos mortais de John Chau?

As autoridades precisarão de uma estratégia e terão de escolher um momento em que os Sentineleses não estejam por perto. Um helicóptero pode pousar na praia, mas é barulhento. É provável que o corpo esteja enterrado na areia. As autoridades têm que observar os movimentos da tribo e chegar à ilha em lanchas, não em helicópteros. A ação precisa ser feita sem o uso de força.

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