Eleições 2018

A eleição do Bolsonaro foi legítima!

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Os opositores do Bolsonaro, ao utilizarem o argumento da não-maioria dos votos, fazem aquilo que combatem, o enfraquecimento da democracia

Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político

É justificável o receio que grande parte da população tem com a eleição do Bolsonaro. O homem falou mal de mulheres, de índios, de negros, de homossexuais. Enfim, todos que não se encaixam nos padrões burgueses-ocidentais foram em algum momento atacados. E hoje, por mais que ele abrande o discurso (ainda não o fez plenamente) e refute atos de ódio e violência, ele, de certa forma, já os incitou e até mesmo os legitimou.

Ele declarou explicitamente, não nas entrelinhas, que vai tirar direito dos trabalhadores em prol de diminuição do tal “custo Brasil”, que seria o absurdo valor que os empresários têm que pagar com férias remuneradas, por exemplo.

Ele defendeu explicitamente, não nas entrelinhas, a ditadura e a tortura.

Declarações que, em outrora (quando, não sei), lhe renderiam perda de votos, desta vez as levaram a uma vitória já quase no primeiro turno (devido à vantagem, alguns partidos que ainda disputavam segundo turno nos estados, por oportunismo, declararam apoio unilateral a ele. Isso é, pateticamente sem que a recíproca fosse verdadeira).

Tentando reverter o resultado, tarefa que ficara ainda mais difícil pelas razões expostas nos últimos parênteses, o PT e outros grupos e pessoas que votariam em qualquer um, menos no Bolsonaro (votariam num poste, embora não considero que o ponderado e inteligente Haddad o fosse, no cachorro que mija no poste ou até mesmo no xixi, mas não votariam nalguém que elogiou um homem que enfiava ratos em vaginas) buscaram convencer além de eleitores de outros presidenciáveis, os que anularam o seu voto. Dada a quantidade de votos nulos, maior que a diferença de votos entre eles, era um nicho a ser mesmo buscado. Disso conclui-se que, dum posto de vista, os votos nulos ajudaram Bolsonaro no primeiro turno. E poderiam ajudar, como ajudaram, no segundo.

Com votos próprios e com a “ajuda” dos nulos, Bolsonaro venceu. Não teve a maioria dos votos quando somados as três possibilidades, mas a regra é clara e já predisposta. A Dilma, por exemplo, nas eleições de 2014, também não obteve essa maioria absoluta, nessa perspectiva.

Os opositores do Bolsonaro, ao utilizarem o argumento da não-maioria dos votos, fazem aquilo que combatem, o enfraquecimento da democracia, objetivamente falando, excetuando subjetivações. Se Haddad fosse eleito, certamente não seria com mais da metade dos votos totais.

Bolsonaro foi eleito legitimamente. Eu lamento, por pelo menos dois motivos: um é tê-lo como o homem máximo do País. Outro é saber que grande parte (ainda bem que não a maioria absoluta) das pessoas o apoia.

Mesmo com tudo o que ele já disse explicitamente e por mais o que nas entrelinhas podemos deduzir que fará de ruim, doravante, temos que resilientemente aceitar sua vitória.

E, gostemos ou não, Jair Bolsonaro será nosso (legítimo) presidente. E devemos, gostemos ou não, assim considerá-lo. O que não impede de nos opormos fortemente às propostas de retrocessos de direitos sociais, econômicos e, por mais incrível que pareça, em 2018, por direitos a liberdades individuais.

Não podem os que defendem a democracia, a despeito justamente disso, enfraquecê-la.

*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”

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