Interrogatório de Lula à juíza Gabriela Hardt dura cerca de três horas. Ex-presidente e substituta de Sergio Moro protagonizaram confrontos diretos
Depois de 7 meses preso, o ex-presidente Lula saiu da carceragem da Polícia Federal para prestar depoimento sobre o processo do sítio de Atibaia.
Quem comandou a audiência foi a juíza Gabriela Hardt, substituta de Sergio Moro, que abandonou a Lava Jato para ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PSL).
A juíza iniciou o interrogatório perguntando ao ex-presidente se ele sabia do que estava sendo acusado no processo, ao que Lula prontamente respondeu: “Não. Gostaria que a senhora pudesse me explicar qual é a acusação”.
Após Hardt explicar brevemente que Lula responde por supostos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva, o ex-presidente rebateu: “Eu imagino que a acusação que pesava sobre mim é que eu era dono de um sítio em Atibaia”.
“Não, não é isso que acontece. É ser beneficiário de reformas que foram feitas”, interrompeu a juíza, dizendo que a acusação “passa pela relação” de Lula ser o dono do sítio.
O ex-presidente insistiu mais uma vez: “Doutora, eu só queria perguntar, primeiro um esclarecimento, porque eu estou disposto a responder toda e qualquer pergunta. Eu sou dono do sítio ou não?”.
“Isso é o senhor que tem que responder, não eu, doutor, e eu não estou sendo acusada neste momento”, devolveu a juíza. “Não, quem tem que responder é quem me acusou”, rebateu Lula.
Moro amigo de Youssef
Em determinado momento, Lula vinculou Sergio Moro a Alberto Youssef. “Eu não sei por que cargas d’água, no caso Petrobras, houve essa questão de jogar suspeita sobre indicações de pessoas. É triste, mas é assim. Possivelmente, por conta de que o delator principal é o [Alberto] Youssef, que era amigo do Moro desde o caso do Banestado (Banco do Estado do Paraná). É isso, lamentavelmente é isso”, disse
Youssef foi um dos primeiros delatores da Lava Jato, em 2014, e teve seu acordo homologado por Moro. O juiz também homologou, uma década antes, o acordo de delação de Youssef por sua colaboração com as investigações do escândalo do Banestado.
Assim que Lula associou Moro a Youssef, a juíza Gabriela Hardt repreendeu o ex-presidente por meio de seu advogado.
“Doutor, por favor. Ele não vai fazer acusações sobre meu colega aqui”, disse ela. Lula respondeu que não estava fazendo acusações, mas “constatando um fato”.
“Não é um fato, porque o Moro não é amigo do Youssef e nunca foi”, rebateu a juíza. “Mas manteve ele [Youssef] sob vigilância 8 anos”, prosseguiu Lula.
“Ele não ficou sob vigilância 8 anos, e é melhor o senhor parar com isso”, afirmou Hardt.
Sítio de Atibaia
No interrogatório, Lula disse, ao falar sobre o sítio de Atibaia: “Eu na verdade pensei em comprar o sitio para agradar a Marisa em 2016. Eu tive pensando porque se eu quisesse comprar o sitio eu tinha dinheiro para comprar o sitio. Acontece que o Jacob Bittar não pensava em vender o sítio, o Jacob Bittar tinha aquilo como patrimônio”.
Questionado pelo Ministério Público Federal sobre uma minuta de escritura de 2012, não concretizada, no qual Lula e Marisa apareciam como potenciais compradores do sítio, o ex-presidente respondeu: “Se foi feita uma minuta, obviamente que, como eu era amigo deles, eles poderiam ter oferecido pra mim, se eu quisesse comprar o sítio eu poderia ter comprado o sítio”.
O ex-presidente afirmou que começou a frequentar o sítio em alguns momentos em janeiro de 2011, logo depois de deixar a Presidência da República.
O ex-presidente fala ainda: “Eu nunca conversei com ninguém sobre as obras do sítio de Atibaia porque eu queria provar que o sítio não era meu. E hoje aqui nessa tribuna vocês me deram o testemunho: o sítio não é do ‘Seu’ Lula. Eu pensei que eu vim aqui prestar depoimento porque o sítio era meu. O sítio não é meu.”
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