Magno Malta: de cantor gospel de pagode a futuro ministro do Brasil
De cantor de uma banda de pagode gospel a futuro ministro do Brasil. Carreira política de Magno Malta é marcada pelo adesismo: de forma geral, se alia ao presidenciável que está vencendo em determinado momento
No dia 28 de outubro, assim que as urnas anunciaram o vencedor da corrida eleitoral para presidente, a primeira pessoa a falar para os brasileiros na televisão não foi o candidato eleito, Jair Bolsonaro (PSL), mas o senador Magno Malta (PR-ES).
Antes de fazer seu primeiro discurso oficial, Bolsonaro encarregou Malta de fazer uma oração à nação:
“Os tentáculos da esquerda jamais seriam arrancados sem a mão de Deus”, disse o senador, que também é pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Em seguida, ele rezou um Pai Nosso.
Malta está na política desde 1993 e é um dos principais aliados do presidente eleito, que em maio disse que ele seria seu “vice dos sonhos”. No entanto, Malta preferiu tentar a reeleição ao Senado.
Mesmo com gastos oficiais de 2,7 milhões de reais na campanha, não obteve sucesso: com 17% dos votos, perdeu para os 24,08% de Marcos do Val (PSS) e os 31% de Fabiano Contarato (Rede), primeiro senador abertamente gay da história do país.
Mas Malta não deve ficar fora da política por muito tempo e seu destino pode ser um cargo no Executivo; há especulação de que seria para um possível “Ministério da Família”, que reuniria Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, segundo o jornal Folha de S.Paulo, ou a Secretaria-Geral da Presidência.
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“Vou ser ministro, sim”, confirmou Malta ao jornal O Globo na sexta-feira, mas ainda não houve nenhum anúncio oficial.
Carreira política
Apesar de ser baiano, Malta despontou politicamente no Espírito Santo. Antes de fazer carreira nessa área, ele era cantor de uma banda gospel de pagode.
Em 1993, foi eleito vereador em Cachoeiro do Itapemirin (ES), ficou no cargo por um ano e depois se licenciou para concorrer como deputado estadual.
Chegou à Câmara dos Deputados em 1998 e conquistou uma vaga no Senado em 2004, onde permanece até o final deste ano.
Passou por diversos partidos como o PTB (Partido Trabalhador Brasileiro), PL (Partido Liberal) e PSL (Partido Social Liberal) e agora está no PR (Partido da República).
Ficou conhecido por seus posicionamentos conservadores e polêmicos. Em 2009, durante a CPI da Pedofilia, Malta acusou um cobrador de ônibus de abusar sexualmente a filha, que à época tinha 2 anos. Após 9 anos preso, o cobrador foi inocentado das acusações e atualmente processa o senador.
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Sua carreira mostra um histórico de adesismo: de forma geral, se alia a quem está vencendo em determinado momento.
Se aliou ao ex-presidente Lula, foi cabo eleitoral de Dilma Rousseff e tentou se aproximar de Aécio Neves, mas recuou após a revelação de seus envolvimentos com corrupção.
Em seu site oficial, há uma publicação em que o senador pede votos para Dilma, em 2010. “Se minha mãe, dona Dadá, estivesse viva, chamaria Lula de ‘meu filho’. Sabem por que: Lula e a Dilma encontraram o Brasil com 40 milhões de miseráveis, gente passando fome”, diz o texto.
Em seu Instagram há uma selfie com Temer de 2017, quando Malta se encontrou com o atual presidente para “agradecer o envio das tropas ao Espírito Santo”.
Uma montagem que viralizou nas redes sociais mostra uma sequência de fotos de Malta com os últimos presidentes do Brasil. O pastor Silas Malafaia classifica Malta como “o político evangélico mais bem sucedido do Brasil”.
Uma imagem vale mais que mil palavras pic.twitter.com/99ALjIJB0Z
— :-):-D (@marcosAndrsil15) 7 de novembro de 2018
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Polêmicas
Apesar de já ter feito parte de diversas comissões de Direitos Humanos no Espírito Santo, Malta é um dos principais defensores do fim do casamento igualitário no Brasil.
Ele é autor de um projeto de lei que suspende o avanço no entendimento da questão, consolidado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2013.
Em março deste ano, após o Supremo Tribunal Federal autorizar transexuais a alterar o registro civil sem precisar de cirurgia, Malta postou em seu Instagram a sua fala sobre o assunto na tribuna do Senado:
“O Supremo votou agora que o macho que se sente transgênero pode entrar no banheiro de mulher, e a minha mulher, minhas filhas não podem falar nada, para não constrangê-lo. Mas o cara pode mijar em pé, respingar o vaso todo”, disse.
Em setembro, uma reportagem do The Intercept Brasil destacou que Malta e sua equipe de 24 servidores gastaram R$ 472 mil em gasolina de cota parlamentar entre abril de 2009 e julho deste ano em apenas dois postos de gasolina.
Ambos são pertencentes a José Tasso Oliveira de Andrade, ex-deputado estadual e ex-chefe da Casa Civil do Espírito Santo (1999-2001), condenado em 2013 em segunda instância por roubo de dinheiro público. A assessoria respondeu que Malta cumpria a lei e que não havia nenhuma irregularidade.
O senador foi procurado para comentar sobre diversos pontos desta reportagem, mas sua assessoria de imprensa não havia dado nenhuma resposta até o momento de publicação.
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Clara Cerioni, Exame