Eleições 2018

A metáfora que explica a trajetória de Sergio Moro

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Sergio Moro começa a receber os despojos de uma rapina que está longe de acabar. Juiz de primeira instância percebeu entre seus surtos de grandeza que estaria na política, e não no direito, a sua maior oportunidade de brilhar num país sedento de salvadores

Carlos Fernandes, DCM

Minha avó costumava dizer que formiga quando quer voar, cria asas. Essa metáfora da sabedoria popular talvez seja a que melhor explica todos os esforços de um juiz outrora desconhecido que acabou sendo alçado à incompatível condição de herói nacional.

Inebriado pelos holofotes do qual foi imediatamente submetido pela grande imprensa, o juiz de primeira instância percebeu entre seus surtos de grandeza que estaria na política, e não no direito, a sua grande oportunidade de brilhar num país sedento de salvadores.

A operação Lava Jato, que a princípio não passava de tão somente mais uma investigação entre tantas outras, transformou-se no seu grande passaporte para o estrelato.

Infestada de políticos corruptos de todas as estaturas e agremiações partidárias, não tardou para que o magistrado enxergasse na específica criminalização do PT, o foco de toda a sua atuação para que os despojos de uma grande rapina também lhe fosse devido.

Unidos a fome com a vontade de comer, o partidarismo ululante de Sérgio Moro achou o respaldo necessário para que abdicasse de vez da condição de juiz e passasse a engrossar as fileiras dos seus detratores.

A caçada que se deu a partir daí ao grande troféu a ser exibido nas primeiras páginas dos jornalões, escandalizou juristas de todas as tendências garantistas ao redor do mundo.

Moro sabia que se Lula não fosse condenado, preso e inabilitado de concorrer às eleições que se avizinhavam, o seu trabalho não estaria completo e sua parte no butim não lhe seria dado.

Aqui cabe um esclarecimento preliminar. Dinheiro, por si só, é para principiantes, o que a malta que tomou de assalto a presidência da República queria mesmo era o poder, fonte, entre tantas outras coisas, de recursos financeiros praticamente inesgotáveis.

Definidos dessa forma os despojos a serem faturados, bastaria a legitimação do golpe de 2016 via processo democrático.

A eleição de Jair Bolsonaro é o resultado maior, até aqui, de todo o trabalho realizado pela “República de Curitiba” encabeçada pelo sempre lustroso Sérgio Moro.

Mercadoria entregue, chega a hora da recompensa.

Os tratamentos para o seu cargo – acordados ainda em período de campanha como deu com a língua nos dentes o vice-presidente eleito, Hamilton Mourão – escandalizaram, mais uma vez, o universo jurídico nacional e internacional.

A conversa oficial e a consequente e completamente esperada aceitação do magistrado das alterosas, coroaram um acordo prévio firmado há um bom tempo atrás.

Moro, para quem em sua primeira entrevista pós-Lava Jato havia afirmado categoricamente que “jamais entraria para a política”, estreará como um super-ministro no mais autoritário e intolerante governo brasileiro desde o fim da ditadura militar de 64.

Sua atração irremediável pelas câmeras poderá a partir de agora ser saciada diariamente ao lado de baluartes da corrupção nacional como Magno Malta e Onyx Lorenzoni, além, é claro, do seu agora superior imediato, o próprio Jair Bolsonaro.

Como se vê, o voo da formiga se mostra promissora e mira outros horizontes. O STF, cujo o presidente eleito poderá ter a oportunidade de nomear dois novos ministros em seu mandato, é uma de suas metas mais escancaradas.

Mas a ninguém pode ser dado o direito de duvidar: uma vez político, sempre político. E como, provado está, fazer cumprir a lei não lhe apetece, ser um dia presidente é sempre uma alternativa a se avaliar.

E enquanto tudo isso acontece, o mais famoso preso político da atualidade continua a cumprir a sua prisão injusta (e agora oficialmente comprovada sobre a que termos se deu) sob os olhares estupefatos de toda a comunidade jurídica mundo afora.

É realmente atordoante a inacreditável capacidade desse país de se reinventar para que se apresente sempre como um terrível e melancólico território fadado ao empoderamento de uns poucos ao custo da mais absoluta expropriação e pobreza de seu povo.

E como tudo nesse país sempre pode piorar, é ao som dos aplausos dos ignorantes que a rapina continua e não tem data para acabar.

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